Ele arrumou a mesa com a delicadeza de quem preparava uma cama de núpcias. Nada extravagante nos valores, louças modestas e aptas, talheres simples e capazes, toalha até um tanto gasta, que amparava uma jarra de suco, um pequeno vaso de flores, copos dispostos de forma ensaiada que mais parecia uma 'ordem unida', uma cesta de pães quentes e outra de frutas frescas que acenavam um desjejum.
O apetite, que primeiro sentou-se à mesa, flertou com os coloridos provocadores da fome aguçada. O capricho, que estava na cabeceira da mesa, encheu os olhos de vontade e o perfume sedutor vindo da xícara de café seduziu os amantes que debruçaram-se diante de galanteadora proposta, como quem desnuda o outro. Foram destampados os potes de geleia e manteiga, o queijo como mestre de cerimônia postou-se pronto para a celebração. Foi repartida sem pudores a saliva provocada pelo desejo, degustaram-se os apaixonados... Eles e a mesa de pernas fortes, bem posta feito cama, num deleite despudorado.
Casciano Lopes