Há memórias que me afastam de mim, outras que eu as afasto de qualquer sombra de recordação, não esquecendo das que distanciam o sonho; porque estas nem merecem o título de memórias, talvez lhes caiam melhor o nome que se dá à condição do febril em delírio... delirantes.
Memórias.
As que me assaltam sem aviso, as vividas nos rascunhos, as não sacramentadas por falta de juramento, as que padeceram de falta de corpo.
As memórias que andam sem roupas por minhas ruas são as dos sabores guardados no meu imaginário sem paladar, são as das folhas que caíram das árvores que não conheci, e que, por não conhecer, não estava lá para lhes amparar a queda, ou sustentar a cor antes que elas se desmanchassem no chão. O padecimento das memórias que me assombram não vem laudado em exames de imagens, é quase diagnosticado por lentes, mas se esconde entre as brochuras do caderno onde escrevo a vida, dificultando a sua captura. Quando escrevo notícias de mim, elas figuram nos álbuns de contar o trato de cada retrato, mas desaparecem à menor tentativa de exibição pública. Essas memórias que suspiram saudade do não vivido, que vivem ajustando-se para caber no meu contentamento é que me ampliam para aguentar a dor do que não vi passar e me diminuem para acomodar o que vi ficar de mim e em mim... memórias e tempo.
Casciano Lopes