28.9.24

A velhice é qualquer tempo antes da morte

Não gaste a credibilidade que nasce limpa, com atitudes que gastam as idades e empobrecem a velhice antes da morte...
Acima de tudo, não seja mesquinho com o sorriso, gaste os abraços, abuse da generosidade, distribua afetos e, neste quesito, não economize; um olhar comprometido multiplicará os bens... os seus e os do outro.
Por fim, guarde apenas aquilo que não precisa de bolso, afinal, no fim de tudo, as roupas são desnecessárias e pra ir embora daqui, a gente precisa gastar a vida.

Casciano Lopes

24.9.24

Paleoantropomorfia

Vivemos situações que nos calam, imponderáveis decisões que assaltam nossa capacidade de celebrar a vida... Há tempos marcados de gritos mudos, onde muros com isolante acústico comprimem nossas vontades gigantes num mundo pequeno, onde medos murados nos fazem cativos da pouca coragem, outrora sem cerca e atrevida.
Há dias em que o plano caminho traçado por nós, rabisca falácias no discurso dos pés pelados ou calçados de estrada e que as falésias pervertem o planejado, arrancando suspiros molhados dos mesmos olhos que desenharam o retilíneo sorriso.
Sim... aprendemos a sorrir e, quando a lágrima quer provocar erosão nas nossas encostas, furtando a geografia da gargalhada ou o discreto objeto de riso do canto dos lábios, tapamos um canto de olho pra estancar a chuva barulhenta em troca daquela que lava a face da vida sem consumir com as rugas... só lavando mesmo o silêncio, pra depois secar as palavras nelas encravadas, quando o bom vento soprar e fizer varal dos vincos estirados feito pontes nas nossas idades... porque somos todos cidades em busca de mapas, destinos e pousadas em que descansam abrigos...
E que jamais mintam as intempéries, mas que também professem uma intempestiva calmaria, com a verdade brotada na nossa mania de provocar escavações, só pra provar que há embaixo das ruinas, motivos pra história contar nossos lugares.

Casciano Lopes

23.9.24

Certidão de tempo e vida

Se dormimos 8 horas por noite, ao final da vida teremos dormido 1/3 dela, ou seja, 10 anos de cada 30... pense nisso! Não é sobre dormir menos, é sobre estar acordado no tempo de chão, afinal, estrada não é cama e, a ação dos atestados pede o pulso dos olhos abertos.

Casciano Lopes


Viver enquanto vive

Penso que caminho no campo minado da vida, não pra evitar as explosões, mas pra aprender sarar as amputações sem deixar de caminhar... e no bombardeio, saber que as trincheiras também matam.

Casciano Lopes

18.9.24

Que seja um aperto de mão

Nada do que já me fortaleceu
pode ser esquecido...
de um sorriso de mãe,
do acaso de um sim ao caso de um não,
nada pode ficar sem abraço.

Casciano Lopes


Encantamento do não sabido

É o desconhecido que detém a mágica da vontade, que levanta antes de mim pela manhã e que me espera no fim da tarde, acreditando na minha curiosidade munida de audácia...
Porque desde a infância sabe-se que a velhice só é promessa para os penitentes audazes que alternam conhecimento e desconhecimento, como se ambos fossem iguais, a diferença está na magia que um tem e o outro não.

Casciano Lopes

Estado de céu

Do menino, guardo principalmente o cavalinho de pau, transporte que sabia o caminho do céu. Talvez por isso, hoje divido meu tempo entre aqui e lá, onde sou amigo das estrelas que me deixam guardar meu cavalinho.

Casciano Lopes

16.9.24

Compulsória pacatez

Eu não tenho mais a pressa, desde que fui submetido ao desleixo que ela, a pressa, me causou... a pressa de saber tudo, a de responder até antes da pergunta, a do compromisso que marquei com pressa... a pressa que me fez presa da calma imposta que, sem nenhuma pressa, hoje me agenda noites de sono, responde antes que eu seja questionado pelos curiosos que querem saber quem, do que fui, ainda sou... Quem sou? Só um homem sem pressa quitando antigos prejuízos.

Casciano Lopes

14.9.24

Perda de tempo

Quando a agenda dos dias pede a pressa que você nem tem mais, quando a demora se muda pra dentro dos olhos e você já nem sabe esperar tanto... é preciso contar o tempo sem ponteiros, só com o pulso mesmo, com o que ainda faz pulsar tudo que não precisa de relógio.

Casciano Lopes

Enquanto vivo

A minha decisão de viver,
nada
tem a ver com vida ou morte.

Casciano Lopes

Haras particular

Eu queria que doessem menos as ferraduras cunhadas nas solas de meus pés... eu quis, quis muito!
Ainda quero caminhar, marchar talvez, talvez trotar... e os terrenos pedregosos pedem mais cavalos na minha potência, enquanto eu, continuo querendo estrada, mesmo sem a sensibilidade das solas.

Casciano Lopes

8.9.24

Primavera

Duvidei chegar até aqui inúmeras vezes,
mas jamais me omiti de querer.
Importa saber que o 'porquê' pergunta pois não sabe,
e eu não preciso responder se cumprir a vida,
tão somente, satisfazendo o seu 'para que'.

Casciano Lopes

7.9.24

Promessas

As juras duram até que as limitações te limitem,
até que teus faróis sinalizem parada.
Duram as falas até que tua pauta concorde verbos,
até que o discurso não cometa o descalabro
de perder as margens.

Casciano Lopes

Por onde anda?

Aquele amor capaz
de dobrar as esquinas da cidade desconhecida
e guardar no bolso as avenidas vazias de calor,
aquela flor sem vaso...
capaz de dar perfume no mais solitário jardim.
Por onde anda?

Casciano Lopes

6.9.24

Na labuta e no cochilo

Chegar até aqui me custou a solidão dos meus sonhos e, por mais que tenha sonhado, precisei dormir tantas vezes pra que eles despertassem... Porque o que adormece na lida é o cansaço, não o sonho; esse padece só, e ainda assim, sabe acordar pra não morrer.

Casciano Lopes

Impressão

A gente deixa digitais em tudo que toca, numa arma de por fim ou num lenço que embala começo, a gente deixa digitais, numa taça de brinde ou no sangue vertido na lágrima, no copo dos olhos, a gente deixa digitais.
No corpo da gente e nos corpos dos outros, quando a gente lava os pequenos ou grandes, nascidos ou mortos, a gente deixa digitais.
Numa cama estendida, numa roupa alvejada, numa palavra amarrotada, passada ou não, no ferro com ou sem vapor, a gente deixa digitais, naquela camisa branca ou naquele casaco preto, a gente deixa digitais.
Na roupa nova ou velha, nas de núpcias ou de luto, da luta... a gente deixa.
Digitais.
Naquele bolo de festa, naquela rua da pressa, naquele quarto da calma, naquele banho de chuva, naquelas mãos com ou sem flores, a gente deixa digitais.
Na água que resta, na gana pouca, suada ou não, ou na fé da cana que promete, tanto a sobriedade do doce quanto o bêbado cálice da cachaça. Cale-se! A gente é só digital...
Na boca calada da face de expressão, no alarde feito com ou sem razão, naquele pão dividido ou negado, na passada que a vontade dá ou na covardia dos pés quietos, a gente deixa digitais...
E vira culpado do que fez e do que não fez, vira procurado porque marcou presença ou lonjura... e se assim é, que seja encontrado o motivo que justifique os dedos que ficam ou que partem sem mais tocarem.
Porque digital é coisa 'quase crime', que se a gente não comete, já cometeu ausência e, só por isso... é criminoso.

Casciano Lopes

3.9.24

Psiquê

Um corpo doente consegue ser orientado por uma mente saudável, já uma mente adoecida deixa sem valia um corpo são, confundindo qualquer brejo com oceano.

Casciano Lopes

2.9.24

Porque somos casa

Todos temos dias de cozinha,
de área de serviço,
de quarto
e da varanda que nem temos...
gosto dos dias de sala,
onde faltam assentos pra prosa
e onde,
nos dias de pensamentos,
eles se esquecem cochilando
na poltrona.

Casciano Lopes

Sossega

Silencia a mente
quando o barulho
da vida
bagunçar teu olhar.

Casciano Lopes