11.3.14

Via

Quando sou calçada
Duro mais que pedra
Não quero só o concreto
Quero o sentir, rua úmida a fluir
Sei que posso ser a chuva
Traçar com pernas calçadas
Se não um Gene Kelly, talvez sua passada
Sua dança, seu calçado encharcado
Mais que calçada, um chão
Um jornal molhado, um habitante
Uma folha itinerante, um guarda chuva, quem sabe...
Abrigar o abstrato enquanto me disfarço de passagem.

Casciano Lopes

7.3.14

Sentir x Falar

Há momentos em que a língua se cala
O coração se abala e a palavra perde a fala
Há um instante no tempo
Em que os verbos se prostituem
A cartilha se omite e o lápis perde a calma
Há um homem em tudo isso
Há muito... Há pouco... Agora mesmo
Há e haverá o que pensar, se não dizer.

Casciano Lopes

Do inferno

Me adjetivam todo o tempo...

Envergonhando vez ou outra, o dicionário dos bons modos das palavras
Atiçam minha ira enquanto discordo do mundo
Enfurecem meu quietar e eu só penso em quieto ficar
Me arrancam as medidas e ainda assim, teimo em me despir, vestir ideias

Descubro em cada ciclo lunar, um [da lua] em meu interior
O mesmo louco que aflige os obscuros difamadores sem astros...
Continuarei enluarado, da lua, de lua, em lua...
Porque sei que não sou daqui, é que me calo
Deixo a guerra para os que pleiteiam um pedacinho desse chão falido

...O inferno de cada um.

Casciano Lopes

...Da possibilidade morar

Se não puder construir...
Eu acampo.
Casciano Lopes

26.2.14

Ribonucleico

Quando os ossos desconfiguram-se
Desmontam-se e de esqueleto perde a forma
E já não mais sustentam carne, nervos e veias
Se guardando em caixa, mesmo que em cinzas
Ainda distingue-se o DNA
Por alguma razão a eternidade afirma-se
Assim como o sentir que o fogo não lambe.

Casciano Lopes

Como se possível fosse

Vou ali...
Disfarçar com goles de canções antigas
Uma dor que a falta constrói
E já volto... quando tiver aprendido
Desconstruir ausências edificando a mim mesmo.

Casciano Lopes

Na minha gaveta

Mora uma estrela, grandezas
Vive um mar, pérolas
Brotam açudes e rios
...E guardo dobradas
A calma da floresta
E a cantiga da chuva
Tudo em meu silêncio sem grito
Ou nos uivos de meus ventos contidos...
Engavetados.

Casciano Lopes

Proferir

A espingarda com seus tiros, acerta o alvo visto
A palavra com seu fio de corte, sangra o que não se avista...
Um indefeso
O menino que todo homem possui.

Casciano Lopes

19.2.14

O menino que conheceu terreiro

Lá em casa chamava-se terreiro
Nele, era a paineira que fazia a sombra
E de barro era o forno plantado nele

Pão caseiro, folha de bananeira
Pé de urucum, goiaba e amora
Torrador de café, pilão
Moinho, rastelo e vassoura de palha

Burquinha correndo na terra, pião
Cavalo de pau, sabugo de milho
Bola de meia, pega-pega
Esconde-esconde e passa-anel

Lata fervendo, batedor de roupas
Comadres de prosa no poço, cachimbo babando
Quiboa que alveja, a grama que quara
Cerca farpando os remendos que secam

Cigarra esganiçada, bambuzal que não quebra
Feixe de lenha, poleiro, galo cantador
Porco na lama, ovo no ninho
Moleque esperto e frango gordinho, disputando a vida

Fogueira, sanfona e cantoria
Sapo que desafina, cigarro de palha
Lamparina, toco de vela
Grilos combinados e pirilampos desocupados

Borrachudos atrevidos, tapas e pegada de mão
Donzela de vestido de missa, rapazote de chapéu panamá
O pai que vigia, a mãe que cochicha o caso que conta
Dedo de pinga e lua no pasto... num cheiro de dama da noite

Tudo coisa de terreiro
Meus quintais o tempo inteiro.

Casciano Lopes

11.2.14

Compactante

Um instante, é tudo que temos
Nele, cabe horas e todo o tempo
Cabe naufrágios e sobreviventes
Ele, instante que é, dita o sentido
Nele, cabe a estrada que sabe caminhos
E quem por um instante se empresta
Cabe todo.

Casciano Lopes

6.2.14

Humanoide

Todavia para ser humano
Deverás lutar todos os dias
Contra a própria humanidade
Para fazer valer tua condição humana
Porque esta, é desconhecida de teu grupo.

Casciano Lopes

Aos que Divinos são

Meus Divinos são de carne e osso como se não os fossem
Sofrem, sem banhar em lágrimas a estrada alheia
Plantam mudas, que em silêncio transformam-se em grandes árvores
Onde se abriga o pedinte e o que não balbucia nem mais uma palavra

E quando, Divinos que são, sorriem ou abraçam, cabem em seus motivos
Uma multidão de carências e outro tanto de gratidão
Aos que Divinos são.

Casciano Lopes

5.2.14

Espaço, velocidade e seu homem

O tamanho da ladeira é proporcional ao da canseira do homem
E a velocidade com que ele caminha está intimamente ligada
Com a vontade do que busca ou com a recusa do que foge.

Casciano Lopes

Eu queria saber voar

Não sei...
Sempre achei que além
Das impuras correntes de ar
Vivesse outra parte de mim
Enquanto aqui só mora
O que me faz aquém
Eu sei...
Hoje que busco o que sabe planar
Eu sei.

Casciano Lopes

O pior trânsito

Não são carros enfileirados na horizontal
São mágoas engarrafadas na vertical
E o motorista podendo ser alado, viver calado.

Casciano Lopes

Fim do findo

Finda o homem
Se finda a liberdade
E o fim do mar
Faz finda a estrada
De quem não sabe nadar.

Casciano Lopes

16.1.14

Praiano

Sei que posso pisar a areia
Atirar-me nas ondas
E adonar-me dos ventos
Quando tocam minha pele quente

Mas ainda prefiro pedir licença
Entender-me pequeno
Para poder continuar contemplando.

Casciano Lopes

31.12.13

Cabe na palma da mão

O riso da moça no outro lado da rua
A avenida do outro lado da ponte e até a ponte
O menino e a bola lançando-se trave adentro
A calçada e o 'Carlitos' do muro pichado
O bêbado equilibrista e sua garrafa tonta
O horizonte com seu céu, nuvens e sol
Cabe a diferença e a semelhança
A dança, o palco e a bailarina

Estique o braço, mire a palma com olhos pequenos
Veja o que cabe nela e ao recolher seu olhar...
Aplauda.

Casciano Lopes

31 de dezembro

A terra se contorce em dor de parto
Escreve seus ais em versos
Declama os últimos gritos a parturiente
...Vem coroando a poesia da novidade.

Casciano Lopes

28.12.13

Bem comum

O verso deve atravessar o oceano e continuar doce
Precisa ser visto mesmo se subir ao cume
Sentido mesmo sob escombros
Fluente mesmo entre dilacerados
No partir dos anos deve se manter inteiro
Na tormenta dos ventos carece saber bailar

Nem propriedade e nem proprietário
Só verso andarilho
Livre.

Casciano Lopes


De improviso


11.12.13

Desmantelo do engano

Quando descobrimos o caminho,
os becos apertados não se passam mais por estradas.

Casciano Lopes

Viga'dentro

Saiba que além das colunas da estrutura de tua carne
Existe tua força que deu liga ao cimento da construção
O que mantém teu edifício intacto, está do lado de dentro
Guardado com as maquetes, protegido por tuas asas.

Casciano Lopes

Árvore de natal

Na minha tem passarinhos, vários e multicoloridos
Tem partituras assoviadas de ouvido absoluto
Tem ruas inteiras de histórias, casos e contos
Tem anões gigantes e seus inversos em versos

Na minha tem mundos, seus ocos, rasos e profundos
Tem cidades fantasmas, até mesmo habitadas
Tem vidas de vários corpos, corpo de uma só
Tem calçadas que são estradas, becos que são saídas

Na minha tem Fadas, Duendes, Elfos e Silfos
Tem Mestres, Magos, Elementais e Elementos
Tem Ar que movimenta, Água que transforma
Tem Fogo que dissolve e Terra que transmuta

Na minha tem gente forte que conta tempo
Tem civilizações antigas que marcam o relógio
Tem Cosmos, Astros, a Natureza e sua paga
Tem a energia do Universo que não se acaba

Na minha tem homem e super homem
Tem deuses e semideuses, mitos e verdades
Tem reis e rainhas, súditos e vassalos
Tem eternos e mortais, velozes e os vagarosos

Na minha tem escudos, espadas de fino fio
Tem cores e um céu azul, águias e corujas
Tem cristais que refletem os Gnomos
Tem colibris e borboletas pousadas em bambus

Na minha tem luz e também a falsa sombra
Tem o Eu e seu Divino, a presença e a ausência
Tem a força da leveza e a densidade do obscuro
Tem a guerra que é eterna e a consciência dos lados


Na minha tem essências, frascos miúdos e poções
Tem cheiros que trazem som, violetas que deixam rastros
Tem lírios que trabalham e notas que transcendem
Tem jardins de alfazemas, lavandas e mil flores

Na minha tem o sopro que medita e a vista que inspira
Tem o sonho de certeza que faz perdida a dúvida
Tem a poesia que conta o livro e a chave mestra da neblina
Tem templos e sábios, mantras, símbolos e coluna ereta

Na minha tem as pontes que observam os abismos
Tem as pedras sentadas nas frias corredeiras
Tem muralhas, asas que planam em escape gélido
Tem amor, Ser e Seres, abrigados nas quentes mãos

Que em forma de prece aquece o timo e a cura da árvore.

Namastê


Casciano Lopes

9.12.13

Vista face

As esquinas marcadas não são as expostas nos olhos
As ruas tortas não são as que as sobrancelhas revelam
As curvas acentuadas não estão mapeadas no rosto
As ladeiras sofríveis não estão descritas na moldura 
E sim nas vielas sisudas de um coração acabrunhado
Onde cabe tudo, até uma cidade vazia.

Casciano Lopes

Palavras sepultadas

Há momentos de falar
Outros de calar
Ditos, benditos, malditos...
Anos em movimento... a palavra
De repente se cala em silêncios
...Por toda a vida o dizer
De quem dizia.

Casciano Lopes

5.12.13

Lacrimo

Quando cavucas minha face
e buscas aprofundares as bacias
sei que queres vida em teus leitos
queres fazer-te rios
quem sabe mares
Digo-vos que só te quero lágrima
para secar-te e descartar os lenços.

Casciano Lopes

29.11.13

Não são matas fechadas

O que mapeia nossas estradas
E que norteia a caminhada
São os arbustos voluntários das margens
Corados, desbotados ou empoeirados

Cumprem a missão de marco
Pontos de partida para quem chega
Pontos de parada para quem vai
Na margem está a direção, todo o tempo.

Casciano Lopes

Nada de Brasília

Se a felicidade pode estar em qualquer esquina
Quero vida em vias de intersecção.

Casciano Lopes

Depois do querer

Te quero porque não aprendi desquerer
Te espero porque não posso só morar
E se amo tanto, inda mais amarei
Porque desamar é delonga
E sou de pressa como o amor
Que depressa se apodera de quem aflora.

Casciano Lopes

21.11.13

Eleito

Quando um rio atravessa a cidade
Ele é quem a administra.

Casciano Lopes

Talvez...

Talvez a vida reduza a marcha
e do fim seu emissário perca caminho
Talvez se alonguem os braços e seu mar
E a tempestade não faça de tudo descaminho.

Casciano Lopes

Poesia na estrada - II

Já escrevi pra Antonia, Rafaela e Raimunda
Pra Casemiro, João, Batista e José
Mas gosto mesmo é de escrever pra rua
Nela passam todos...
Próprios, comuns, substantivos e adjetivos
Também é na rua, na estrada como digo
Que moram os ninhos onde choco minhas letras.

Casciano Lopes

19.11.13

O que fora vendido

Chega puro
Cresce duro
Amadurece
Apodrecido
Envelhece
Parte velho
Empobrecido
Cada homem
Comprado.

Casciano Lopes

Procissão

A cobra imensa vai engolindo a multidão
Debatendo-se feito viva lacrimeja suor
Rastejando o corpo longo feito de chão
Vai o círio calado em busca de confessor

Cultuada peçonhenta serpente da servidão
Que junta no aperto calcanhares de sonhador
Serpenteando pedidos em meio a exaustão
Grita um Nazareno no afã de seu odor

Silêncio comungado em resmungada confusão
Entorpecente veneno que mata o descobridor
Despe enquanto cala cada homem histrião
Enquanto foge da morte pobre, o seu autor.

Casciano Lopes




11.11.13

Há dias impossíveis

Calvos dias, sem penteados possíveis
Sem face para maquiar.

Casciano Lopes

Chão partido

Quebrou no mar lá da vida
Foi para as bandas do coração
Quebrou na sala lá de casa
Estrondoso e fino como um grito
Tilintou nas esquinas de meus cômodos
Sem cerimônia adentrou nos surdos de meus silêncios
Rompeu os tímpanos da lembrança
Quebrou-se
Desfez-se
Era laço com mania de nó
Um apego atrevido desmemoriou-se
Quando desfez-se a cadeia de seus átomos
Espatifou-se
Patifes cacos rompendo meu chão em cristal quebrado.

Casciano Lopes

Indolente


Quintais e varais


8.11.13

Ouça o bom conselho

Não é necessário morar na floresta
para que o verde te abrigue
Não precisa ser vizinho da cachoeira
para que as gotículas frescas te adornem
Não há necessidade de construir asas
para atravessar trópicos com os pássaros

Basta tão somente
Semear todos os dias
Janelas e portas abertas
Regar pontes
E não temer colher a travessia.

Casciano Lopes

Mundana intempérie

Não posso me debater nessas águas
Densas e turvas com resto de chuva
Nem peixe sou, nem lampejo de trovoada
Nem calçada, nem rua, nem mata fechada
No máximo um humano sem barbatanas.

Casciano Lopes

6.11.13

Zero

De amanhãs
Ontem já não sou

Melhor mesmo é hoje
Já que dependo de termômetro

Cronômetros zeram com eles...
Com os amanhãs, os termômetros e meu pouco ser.

Casciano Lopes

O meu sétimo é domingo

Entre a tristeza e a alegria
Não existe nada além de um coração

E porque domingos são sorridentes
O meu é cheio de domingos.

Casciano Lopes

Mensageiro dos Tempos

Gastos dias que me consomem
Todos eles parecem ter dentes afiados
Relógios amolados no esmeril da pressa
Alicates que tosam antes que cresçam,
que amadureçam ideias.

Gasto tempo, tão velho quanto o próprio
Tão insalubre e sem adicional de periculosidade
Virtuoso quando chega e quando se vai
Esvai-se vertiginoso,
enquanto deixa acamado o próprio templo.

Casciano Lopes

24.10.13

Escrevo

Não sei se chegará ao destino a tal carta
Todavia peço que com todo zelo não a amasse
Procure não colocá-la no bolso para não molhar as letras
Quem sabe assim chegará ao seu destino ainda perfumada
Ao menos da tinta fresca resguardada
E meu gosto caligrafado sentirá perfumada as mãos do receptor

Não sei se o encontrará em bom estado e conservado
Mas ainda peço que apresse os passos
Que se possível antecipe a entrega
E se ao bater palmas a porta não se abrir
Tem minha permissão para rasgar o portão

E em posse do presente
Apresente ao passado minhas letras
Espere para que leia antes que morra
E me traga notícias enquanto vivo.

Casciano Lopes

Maltratado sem fala

Não posso fingir que não vi
Porque senti o grito
Não sabia falar e falou por mim.

Casciano Lopes

Crista do choro

Sim eu choro,
sou como o galo.
Ah!
Ele não chora?
Mas juro que já o vi soluçar.


Casciano Lopes

Não é permitido parar

Beira de estrada
Não é lugar

Nem caminho é

Nem é mar
O que se forma sem salgar.

Casciano Lopes

Cir[senso]

O circo é o mundo como deveria ser.
Na verdade,
um protótipo que nunca foi levado a sério.


Casciano Lopes

Paraná


Claridade no breu


Anjos


Riscando-se do mapa


Interplanetário


Atavie


Pressa da hora


Poesia na estrada


Inda assim


Ainda trago comigo


Foco


Espacial vontade


Costumeiro sabor


15.10.13

O que posso é meu dever

Eu posso abster-me da maldade, da equívoca lealdade que estipula parâmetros. Posso renegar a existência do mal embora o contemple de minha janela. Posso avistar o caos e impedi-lo de fazer morada em minha casa.
Creio não poder ignorar a convivência forçada, ainda assim, posso tentar.

Casciano Lopes

Estações não findas

Um dia
o trem que mira as estações,
encerra seu percurso e guarda seu sacolejo.
Enquanto isso,
ainda esquenta os trilhos e rebola feito vedete
seu corpo longo entre uma e outra paragem,
trazendo dentro de suas portas um tanto de homens passados
e quando pára, engole outro tanto de homens presentes.
A vida segue com o trem, de tudo...
só ficam as estações.

Casciano Lopes

Terminais

Quando o guarda já não guarda coisa alguma
O dependurado relógio não registra passagem, nem passageiro
E a mulher sentada das escadas envelheceu e virou lembrança
Será que enterraram o tempo ou demoliram o observador?

Casciano Lopes

13.10.13

Sou do século passado

Quando a cadeira se movia para receber a dama
Quando a porta se abria no automático da mão gentil
Quando um 'com licença' não tinha nome de 'empurrão'
No século passado...
Os carros paravam sem pressa para passar o caminhante
Carteiros aos montes empregavam-se... notícias em envelopes
Declarações, pedidos de namoro e notas em tinta fresca
Sou do século passado...
Quando os laços eram fortalecidos no pedido de benção
E abençoados... acreditem! Conhecia-se a força da palavra
Onde mãos dadas e um olhar sem dizer... dizia tudo
No século passado...
Tão pertinho de hoje embora tão distante na lembrança
As canções roucas das vitrolas embargavam a voz na emoção
Porque falavam da pureza e simplicidade, que ficaram lá...

No século passado.

Casciano Lopes

10.10.13

Quisera eu

Impregnar-me entre as linhas brancas de uma folha
Depois dobrá-la e despachar-me... despachá-la...
Rumo aos anéis em um avião monomotor
Piloto automático, sem recado ou tinta fria
Quisera... senão pouso, decolagem.

Casciano Lopes

8.10.13

Vésperas de um homem

Uns dias mais velho
Uns cabelos mais brancos
Uns motivos a mais para continuar...
O mesmo homem que não pode parar.

Casciano Lopes

Nunca é tarde para:

Impedir uma pedrada
Recusar a força bruta
Desviar-se da hipocrisia
Zombar do egoísmo
Descartar a prepotência
Afastar-se do fanatismo
Repelir a indiferença
Abominar a avareza
... Fazer-se humano

Já é tarde se não acreditar.

Casciano Lopes

Esboço

O que me define é só o que falta
indefinido
O que foi feito definiu
tempo passado
E sou feito de futuro
De amanhãs.

Casciano Lopes

Ontem

Eu pensei que podia suprir do mundo a necessidade
Pensei que podia suprimir da terra a carestia
E até pensei poder dar ao cativo a anistia
Hoje mais violentado pela densa e tortuosa cidade
Penso em rebeldia
E que é a teimosia que finca meus pés na ventania
E que o que pensei faz a diferença no custo de minha idade.

Casciano Lopes

Recusa à forma

Eu não vou pedir em súplica
tão pouco desenhar em métrica
o que me pertence e me rubrica
e que concede a ética de minha
estética.

Casciano Lopes

Em juízo

O pensamento toma o tempo
O tempo se empresta ao pensamento
E eu nem discuto.
Um justifica o outro
E se existo...
Devo ao tempo
Assim penso enquanto penso.

Casciano Lopes

Amanheça

E se eu dormir chovendo
E acordar anoitecendo
Não fique entardecendo...
Junte-se ao meu dia
Que já vem amanhecendo.

Casciano Lopes

Amor elevado ao quinto elemento

E se um dia meus picos se dissolverem aos teus pés,
a minha sarça arder e vulcanizar tua terra
e meu mar se converter em praia por tuas passagens,
será só mais uma manifestação do grande motivo de ventar
aos quatros cantos, intempestivas formas de falar de meu amor.

Casciano Lopes

Lúcida vida em mundo de fanáticos

Enquanto muitos dormem em uma verdade analfabeta,
a luta continua por manter olhos abertos em busca do desconhecido.

Casciano Lopes

Minha exata lei

Exceto na matemática, todas as fórmulas são fajutas.

Casciano Lopes

Acabrunhou-se?

Por onde anda a coragem do homem de bem?
Estaria envergada atrás da corcunda do medo
ou fundiu-se à covardia do mal?

Casciano Lopes