Um dia, sem que me avisassem, acordei diferente. Pasmem!
De repente...
Perdi o tempo do compasso dentro do meu caminhar, os passos lentos confundiram o andar e a pressa precisou sentar.
Lentamente fui perdendo agilidade e, aos poucos, senti comprometida a possibilidade de ser de novo quem um dia dormi...
As vontades, embora latentes, sofreram de atrofia.
Em bêbada coragem, aprendi que, na vida, a gente morre um pouco todo dia, renasce também... todo dia, a gente dorme muitas vezes e desperta outras tantas, quase nunca a mesma pessoa, quase nunca...
Os olhos perdem lentamente seu melhor ângulo, enquanto o tato ganha funções de visão, a caligrafia, que desaprende o desenho da letra, tem na mente alfabetizada, a memória de tudo que não pode esquecer.
O medo das ruas, que viram estranhas para os pés, ou das calçadas, que fingem passeio, quer me isolar... Parece que não me verem passar é uma questão pública, e eu preciso continuar passando... no caminho que fiz, que faço e que farei. Porque se perdi movimentos, ganhei espaços que nunca sondei aqui dentro de mim. Ainda me perco num labirinto infinito do que não posso e, no que ainda posso, agradeço aos que estendem as mãos, aos que me espiam com um olhar cúmplice, aos que aliviam os degraus da escada pra que eu suba e aos que me permitem nela sentar pra conversar com a calma, a que ainda me diz que eu sou capaz em outra condição, onde todo dia descubro um mundo novo com suas formas de girar. Porque gira esse mundo, dentro de mim, onde nada mais está no lugar de antes. Tudo gira e muda de lugar o tempo todo. Tenho lugares que não conhecia e o desafio é gostar de estar neles, os sabendo temporários, como eram os de ontem que eu não sabia e agora sei.
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