Com o passar...
do tempo,
das horas
e seu tempo de passar,
passa rindo,
passa depressa ou devagarinho,
indo feito passarinho,
longe da mão,
distante ninho,
do ninho,
aí você percebe,
o quanto fica pelo caminho,
que não deixa de ser caminho,
assim como o tempo de passar,
não deixa de passar o tempo,
de caminhar o caminhante,
depois outro e mais outro,
andante passa indo,
pois o tempo pode passar,
mas continua,
continua caminho
e quem fica à margem,
tem no tempo desalinho.
Casciano Lopes
14.3.16
Se sei digo que não sei
Quando quero falar com a poesia
penso no verbo como um estranho,
porque se eu entendê-lo como um velho amigo,
ele foge de mim,
escondendo um verso desconhecido.
Para fazer poesia
é necessário reinventar os verbos.
A poesia gosta disso.
penso no verbo como um estranho,
porque se eu entendê-lo como um velho amigo,
ele foge de mim,
escondendo um verso desconhecido.
Para fazer poesia
é necessário reinventar os verbos.
A poesia gosta disso.
Casciano Lopes
4.3.16
Quando a alegria despede-se
Sim, ela vez ou outra nos prega uma despedida,
nos tira do colo, apalpa nossas bochechas,
nos diz um calmo até logo e sai caminhando.
Momento em que seu riso fica sisudo
e o nosso... esquece onde ficam os músculos,
aqueles produtores de gargalhadas e findam
por ensinar outros caminhos de outros músculos,
a lágrima então encontrada, lava toda ela,
toda a alegria despedida numa minúscula partida,
sim, é pequena toda a hora que se finda,
é estreita toda última olhada.
O que não fere de morte é a certeza das medidas,
do regresso largo e dos profundos vincos na face,
onde cabem todos os sorrisos que a alegria
trouxer na bagagem.
Casciano Lopes
nos tira do colo, apalpa nossas bochechas,
nos diz um calmo até logo e sai caminhando.
Momento em que seu riso fica sisudo
e o nosso... esquece onde ficam os músculos,
aqueles produtores de gargalhadas e findam
por ensinar outros caminhos de outros músculos,
a lágrima então encontrada, lava toda ela,
toda a alegria despedida numa minúscula partida,
sim, é pequena toda a hora que se finda,
é estreita toda última olhada.
O que não fere de morte é a certeza das medidas,
do regresso largo e dos profundos vincos na face,
onde cabem todos os sorrisos que a alegria
trouxer na bagagem.
Casciano Lopes
Cortejo
Seguia o desfiladeiro, descia
Como quem subia a ladeira
Devagar de cansaço subia
De dever cumprido estarrecido descia
Num gélido estado partia, ascendia
Carregado pela nostalgia
E sepultado na travessia, romaria
Rumaria, remaria ou trapacearia?
Casciano Lopes
Como quem subia a ladeira
Devagar de cansaço subia
De dever cumprido estarrecido descia
Num gélido estado partia, ascendia
Carregado pela nostalgia
E sepultado na travessia, romaria
Rumaria, remaria ou trapacearia?
Casciano Lopes
"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre."
(Em: O Auto da Compadecida)
Ariano Suassuna SUASSUNA, A. O Auto da Compadecida. Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora. 1975. .
Entre A e Z
Os dicionários me ensinam
a dizer do que não sei
e quanto mais sei,
de mais dicionários careço.
Casciano Lopes
Deflorando
Dona Fulana fica em flor
Quando flores chegam ao portão
Florir Dona Fulana
É um verbo fulano de Beltrano que manda flores.
Casciano Lopes
Quando flores chegam ao portão
Florir Dona Fulana
É um verbo fulano de Beltrano que manda flores.
Casciano Lopes
Trocando em miúdos CLASSIFICADOS
Entre miúdos e trocados
Troco qualquer grande agonia
Por graúdos recados, achados
E não perdidos braços abraçados
Encontrados cá e no anúncio publicados.
Casciano Lopes
Troco qualquer grande agonia
Por graúdos recados, achados
E não perdidos braços abraçados
Encontrados cá e no anúncio publicados.
Casciano Lopes
Viajante indeciso
Pasmado ao lado,
lançou um olhar sobre si mesmo,
ambicioso pelo inerte
ensaiou uma alçada de voo,
desistiu na força contrária de direção
e persistiu no olhar espichado e mendigante.
Como não se abre mais o corpo fechado
...Partiu o retirante.
Casciano Lopes
lançou um olhar sobre si mesmo,
ambicioso pelo inerte
ensaiou uma alçada de voo,
desistiu na força contrária de direção
e persistiu no olhar espichado e mendigante.
Como não se abre mais o corpo fechado
...Partiu o retirante.
Casciano Lopes
25.2.16
Correspondência
Tenho pra mim que felicidade é ir longe,
eu fui longe e o que é isso?
Saber que alguém me leu
sem ao menos me conhecer e conheceu
É uma baita distância de quem fui eu.
Casciano Lopes
eu fui longe e o que é isso?
Saber que alguém me leu
sem ao menos me conhecer e conheceu
É uma baita distância de quem fui eu.
Casciano Lopes
Sopro Norte
Onde a folha que cai da árvore não se demora
também não se planta o homem.
O mesmo vento que sopra o chão
é o que mostra a direção.
Casciano Lopes
também não se planta o homem.
O mesmo vento que sopra o chão
é o que mostra a direção.
Casciano Lopes
Braille
Só não posso ver a lama negra
...mas também me enlameia
Só não posso ver a estrada travada
...mas também me breca
Só não posso ver a água que transborda
...mas também me banha
Só não posso ver o que te cerca
...mas ao tocar sinto com toda a alma,
a leitura de meus dedos se apuraram
e pelas linhas de meu tato traço livros,
sou mais livre de sentidos do que preso a um deles,
da face escura do julgamento escapei
devo isso à visão.
Casciano Lopes
...mas também me enlameia
Só não posso ver a estrada travada
...mas também me breca
Só não posso ver a água que transborda
...mas também me banha
Só não posso ver o que te cerca
...mas ao tocar sinto com toda a alma,
a leitura de meus dedos se apuraram
e pelas linhas de meu tato traço livros,
sou mais livre de sentidos do que preso a um deles,
da face escura do julgamento escapei
devo isso à visão.
Casciano Lopes
Seja razoável
Não me tenha por raso
Não me tome por profundo
Sem descaso me adentre
Conheça as águas antes das toalhas.
Casciano Lopes
Não me tome por profundo
Sem descaso me adentre
Conheça as águas antes das toalhas.
Casciano Lopes
Meus filhos
Estão nas florestas
nas festas indígenas
nas corredeiras
com suas lavadeiras
nas árvores e frutos
na relva tenra
na madura selva.
Estão nas ruas e abrigos
nos perigos das facas nuas
nos morros e vielas
no mato ou morro das favelas
nas condições e na falta
nos becos cambaleantes
nos andantes que se esguiam.
Estão nos tetos
no chão dos restos
nas estrelas descobertas
nas verdades encobertas
no verbo do cair da tarde
no mundo que gira tanto
no pranto e pronto do pai tonto
...Muitos filhos,
por isso reconto.
Casciano Lopes
nas festas indígenas
nas corredeiras
com suas lavadeiras
nas árvores e frutos
na relva tenra
na madura selva.
Estão nas ruas e abrigos
nos perigos das facas nuas
nos morros e vielas
no mato ou morro das favelas
nas condições e na falta
nos becos cambaleantes
nos andantes que se esguiam.
Estão nos tetos
no chão dos restos
nas estrelas descobertas
nas verdades encobertas
no verbo do cair da tarde
no mundo que gira tanto
no pranto e pronto do pai tonto
...Muitos filhos,
por isso reconto.
Casciano Lopes
Colateral
A dor não é sentir
não é deixar partir
não é caminho
A dor é casa
é lugar sem asa
é ninho
Passarinho...
Não se deve bulir
e mesmo que bula
o efeito passa
...Diz a bula.
Casciano Lopes
A poesia não tem idade
Já nasce dizendo o que nem precisa de palavras
Já faz infância do que nem precisa de brinquedos
Aflora feito botão de rosa e pelo caminho afora
Colore jardins que nem precisam de tintas
Rejuvenesce nos verbos e nem ensaia seu tempo
Não há tempo... É poema que se reconhece de longe
Não há tempo... Traz sua própria divisão
Compassos distribuídos por passos bem marcados
E em seus anos vividos se perde o cronômetro
Se ganha do próprio tempo... Ela que sem tempo
...É poesia.
Para minha querida sobrinha Júlia
Em seus mágicos 14 anos
Verão/2016 – 07/02
Casciano Lopes “Tio Vai”
Já faz infância do que nem precisa de brinquedos
Aflora feito botão de rosa e pelo caminho afora
Colore jardins que nem precisam de tintas
Rejuvenesce nos verbos e nem ensaia seu tempo
Não há tempo... É poema que se reconhece de longe
Não há tempo... Traz sua própria divisão
Compassos distribuídos por passos bem marcados
E em seus anos vividos se perde o cronômetro
Se ganha do próprio tempo... Ela que sem tempo
...É poesia.
Para minha querida sobrinha Júlia
Em seus mágicos 14 anos
Verão/2016 – 07/02
Casciano Lopes “Tio Vai”
Bem casado
Ainda sou dono e proprietário
de meu querer e seu bem causado
os que dividem comigo a alma
também o fazem na propriedade.
Casciano Lopes
de meu querer e seu bem causado
os que dividem comigo a alma
também o fazem na propriedade.
Casciano Lopes
Adonar-se
O bicho homem é como um cão que marca território
e se aprofunda tanto nessa tarefa que se o outro descuidar
tem sua casa, vida e liberdade demarcadas.
Casciano Lopes
e se aprofunda tanto nessa tarefa que se o outro descuidar
tem sua casa, vida e liberdade demarcadas.
Casciano Lopes
18.2.16
Onde o menos é mais
Entre competir por uma vaga no estacionamento
e outra no mercado de capitais,
vou sempre preferir a sombra de uma grande árvore,
poucos minutos sob ela me dão sem disputa tudo de que preciso.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Dos mundos
Talvez não tenha entendido ao chegar
que precisava me encaixar
nos padrões do planeta,
bom, agora
depois de mais de quatro décadas
é um pouco tarde,
embora me locomova melhor
no caminho de volta
sem a preocupação
de ser quem não sou.
Casciano Lopes
Bonificar-se
De modo que a alegria sempre merece prêmio
e a tristeza castigo,
não posso entender,
já que ambas me privilegiam quando me escolhem,
delas e de suas pegadas em meu peito
tiro o crime e a recompensa em recebê-las.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Destinatário
Depois
de
tantos
endereços
vividos
ainda
me
vejo
como
um
carteiro...
de
tantos
endereços
vividos
ainda
me
vejo
como
um
carteiro...
bolsa cheia de destinos.
Casciano Lopes
Quimera com poema
Um pouco de poesia
Só ela refresca a lembrança
é capaz de abastecer
de oceano a lagoa seca
Só ela refresca a lembrança
quando o homem só vê miragem.
Casciano Lopes
A quina e a esquina
A geometria das curvas
deixa em paralelas
todas as retas
para que só então
se compreenda a forma.
Há que se descompor,
cobrir de injúrias se for
preciso,
é preciso
para construir.
Casciano Lopes
deixa em paralelas
todas as retas
para que só então
se compreenda a forma.
Há que se descompor,
cobrir de injúrias se for
preciso,
é preciso
para construir.
Casciano Lopes
15.2.16
Tudo emprestado
Nada me pertence,
pessoas,
casa,
carro,
quinquilharias
e apetrechos...
Nem o corpo é meu,
se o fosse não precisaria
devolvê-lo ao partir.
Casciano Lopes
pessoas,
casa,
carro,
quinquilharias
e apetrechos...
Nem o corpo é meu,
se o fosse não precisaria
devolvê-lo ao partir.
Casciano Lopes
Vista caminhante
Avistei uma andorinha voando
aterrizando uma rolinha
e decolando uma pombinha
eu homem que sou
...caminhando.
aterrizando uma rolinha
e decolando uma pombinha
eu homem que sou
...caminhando.
Casciano Lopes
12.2.16
Em todo tempo um tempo para o Tempo.
...Falou que passou por ele como quem o conhecesse
mas estava com pressa e apenas acenou com a cabeça,
não houve um único aperto de mãos
mas deixou seu perfume no rastro como se fosse um guia
...Ele falava do Tempo.
Casciano Lopes
mas estava com pressa e apenas acenou com a cabeça,
não houve um único aperto de mãos
mas deixou seu perfume no rastro como se fosse um guia
...Ele falava do Tempo.
Casciano Lopes
Só o verso dobra o que é curva
Quando dizemos que dobrando a rua encontramos uma casa azul
e que depois dela tem uma ladeira de fazer medo
é em poesia que falamos.
Casciano Lopes
Das distâncias
Depois de uma idade vivo me alongando,
talvez na esperança de encurtar a distância
entre eu e o mar.
Casciano Lopes
É obrigado... Não obrigado
O poder do sim e do não
é o mais difícil de usar
até que se aprenda
e ao aprender, o basta é o bastante.
Casciano Lopes
29.1.16
Não há container que contenha
Gosto de malas, bolsas, baús, caixas, frasqueiras...
Onde eu possa guardar momentos, fotografias...
Porque palavras, sentimentos e afins levo-os soltos
Todos em poesia e abraços não compartimentados.
Casciano Lopes
Onde eu possa guardar momentos, fotografias...
Porque palavras, sentimentos e afins levo-os soltos
Todos em poesia e abraços não compartimentados.
Casciano Lopes
26.1.16
Missão possível
Quando deixo de querer compreender as pessoas percebendo que também sou crivado pela incompreensão alheia, percebo que a missão é a da convivência pacífica e não a de ser a régua niveladora de ideias.
Casciano Lopes
Bem me quer...
Uma coisa é sentirem falta de você,
outra coisa é te quererem por perto.
As pessoas querem parte,
mas desprezam o inteiro.
Casciano Lopes
outra coisa é te quererem por perto.
As pessoas querem parte,
mas desprezam o inteiro.
Casciano Lopes
Bonecos e seus tantos carnavais...
Depois do carnaval os bonecos voltam pro barracão,
o repique fica mudo, a sambista sem passo joga as pernas
e a avenida suja perde a arquibancada,
enquanto o samba 'dito' motivo da folia perde a letra
ao longo do suado calendário,
igualzinho ao povo que perde seu brio em meio ao brilho
...do falso brilhante.
Casciano Lopes
o repique fica mudo, a sambista sem passo joga as pernas
e a avenida suja perde a arquibancada,
enquanto o samba 'dito' motivo da folia perde a letra
ao longo do suado calendário,
igualzinho ao povo que perde seu brio em meio ao brilho
...do falso brilhante.
Casciano Lopes
Entre mundos
A casa muitas vezes torna-se nosso forte,
um refúgio onde parece que nada nos atinge,
embora saibamos que é na cidade que vive o amanhã
e que é na rua que brota o pão e o irmão que nos quer.
um refúgio onde parece que nada nos atinge,
embora saibamos que é na cidade que vive o amanhã
e que é na rua que brota o pão e o irmão que nos quer.
Casciano Lopes
20.1.16
Lua e Terra [Entre olhar e caminhar]
Dois mundos que posso tocar e ao tocá-los
Me vejo mais de lá que de cá.
Casciano Lopes
Me vejo mais de lá que de cá.
Casciano Lopes
15.1.16
Terrear
Em tempos difíceis aprendemos sobre:
direção dos ventos,
fluxo das águas,
temperatura de astros,
e profundidade do solo.
De modo que penso nas intempéries
como uma escola de geologia,
onde há um encontro com a mãe Terra,
se sobrevivermos ganhamos o título de filhos.
Casciano Lopes
direção dos ventos,
fluxo das águas,
temperatura de astros,
e profundidade do solo.
De modo que penso nas intempéries
como uma escola de geologia,
onde há um encontro com a mãe Terra,
se sobrevivermos ganhamos o título de filhos.
Casciano Lopes
Reverência muda
O silêncio é tão precioso que ao ser tocado por ele
vibro calado para não incomodá-lo.
Casciano Lopes
vibro calado para não incomodá-lo.
Casciano Lopes
Sem malas
Há sempre um desprezo pela necessidade quando de fato ela não é necessária, nosso corpo nem sempre avalia com exatidão a carência mas nossa essência é precisa e doutora em precisão.
Casciano Lopes
Espelhamos
Enquanto nos sentimos homens apenas, todos os que botamos vistas não passam de homens, alguns míopes com sentimento de grandeza sentem-se gigantes para não sentirem-se semelhantes.
Agora quando no espelho nos deparamos com anjos, seres de luz e alados olhos, todos com os quais nos deparamos podem voar.
Casciano Lopes
Vou andante
A chama pode incendiar como iluminar caminhos
Assim como a boca pode dar ou amputar asas
Na vela ou na palavra ajusta-se a estrada e o voo.
Casciano Lopes
Assim como a boca pode dar ou amputar asas
Na vela ou na palavra ajusta-se a estrada e o voo.
Casciano Lopes
Evito saídas de emergência
Sei que na vida a porta de entrada é muito parecida com a de saída
Agora, o que dista uma da outra tem o tamanho de minhas escolhas.
Casciano Lopes
Agora, o que dista uma da outra tem o tamanho de minhas escolhas.
Casciano Lopes
Sobre ser alegre ou triste
Da alegria é mais fácil sair vivo
Já na tristeza muitas vezes se entra morto.
Casciano Lopes
Um bom começo... A preferência
Vou preferir sempre o caminho do meio, o mais difícil de trilhar.
As laterais quase sempre fáceis são perigosas, atraem e traem.
No equilíbrio da ponte, no eixo de sustentação, na mola mestra,
na faixa que divide a via, na lua de meia noite...
Nos ponteiros ajustados minha bússola se orienta,
igual a balança que com o peso dos pratos equilibrados
não se aguenta e se assenta.
Casciano Lopes
Tempo sem tempo
A roça tem uma coisa que cidade nenhuma tem
Causos enrolados em cigarrinhos de palha
Até a fumaça dos cachimbos de fumo de corda
Desperta a cadeira de balanço
E o rumo da prosa acorda.
Casciano Lopes
Causos enrolados em cigarrinhos de palha
Até a fumaça dos cachimbos de fumo de corda
Desperta a cadeira de balanço
E o rumo da prosa acorda.
Casciano Lopes
30.12.15
Poesia do compasso aberto
Do suor que pinga ao que respinga entre pernas
Só os poetas sabem dizer
Tantas vezes colocam-se palavras
De outras tantas tiram-se frases inteiras
Não há versos nas ideias fechadas.
Casciano Lopes
Só os poetas sabem dizer
Tantas vezes colocam-se palavras
De outras tantas tiram-se frases inteiras
Não há versos nas ideias fechadas.
Casciano Lopes
Na calada da noite
Por vezes o travesseiro me conta mais sobre o mundo em um segundo
do que os dias foram capazes de me dizer o dia todo.
Casciano Lopes
do que os dias foram capazes de me dizer o dia todo.
Casciano Lopes
Ao precipício... sei voar
Gosto dos venenos mais lentos
Dos cafés mais amargos
Das bebidas mais fortes
Dos delírios mais soltos e dos gestos mais loucos.
Casciano Lopes
Dos cafés mais amargos
Das bebidas mais fortes
Dos delírios mais soltos e dos gestos mais loucos.
Casciano Lopes
Ao novo
Dedico a letra
O cheiro da tinta fresca
O manuseio da pena
A virgindade da folha
A brochura das lembranças
O sutil pensar de memórias
O sentar do eu nos papéis
Uma folha da minha mata
Um alfabeto de meus ladrilhos
Um corpo de minhas figuras
A caixa aberta de meu peito
A herança que veio cedo...
Que prepara o caminho e o pergaminho
Que alfabetiza meus dedos
Travessia das mãos por vezes cegas
Os ponteiros que regem os títulos
A todos quanto herdei...
Um quente, um frio
Uma sensação
Um pouco de muito
Um muito de pouco
Uma vida vestida de nudez
Na alma e no sorriso.
Casciano Lopes
O cheiro da tinta fresca
O manuseio da pena
A virgindade da folha
A brochura das lembranças
O sutil pensar de memórias
O sentar do eu nos papéis
Uma folha da minha mata
Um alfabeto de meus ladrilhos
Um corpo de minhas figuras
A caixa aberta de meu peito
A herança que veio cedo...
Que prepara o caminho e o pergaminho
Que alfabetiza meus dedos
Travessia das mãos por vezes cegas
Os ponteiros que regem os títulos
A todos quanto herdei...
Um quente, um frio
Uma sensação
Um pouco de muito
Um muito de pouco
Uma vida vestida de nudez
Na alma e no sorriso.
Casciano Lopes
Fim... ocaso
Tão lâmina quanto barba
Tão feroz quanto fera
Tão mordida quanto cão
Tão morno quanto vivo
Tão frio quanto morto
Tão quente quanto parto
Tão grande quanto mato
Tão forte quanto Brutus
Tão bruto quanto garimpo
Tão joia quanto fortuna
Tão pedra quanto asfalto
Tão rua quanto passagem
Tão ônibus quanto passageiro
Tão dívida quanto cartório
Tão belo quanto espelho
Tão iluminado quanto noite
Tão dia quanto vida
Tão calmo quanto ponteiro
Tão limpo quanto prato
Tão ódio quanto febre
Tão sarna quanto lixo
Tão sempre quanto eterno
Tão doce quanto melado
Tão sujo quanto manchado
Tão pele quanto orfanato
Tão hebreu quanto hebreia
Tão santo quanto manto
Tão pranto quanto canto
Tão amor quanto o branco
Tão mar quanto homem
Tão vida de acasos
De ocaso finito
De vida e morte
Saturados infinitos
...Mares e marés
Infelizes homens tão felizes.
Acaso... acaso
Casciano Lopes
Tão feroz quanto fera
Tão mordida quanto cão
Tão morno quanto vivo
Tão frio quanto morto
Tão quente quanto parto
Tão grande quanto mato
Tão forte quanto Brutus
Tão bruto quanto garimpo
Tão joia quanto fortuna
Tão pedra quanto asfalto
Tão rua quanto passagem
Tão ônibus quanto passageiro
Tão dívida quanto cartório
Tão belo quanto espelho
Tão iluminado quanto noite
Tão dia quanto vida
Tão calmo quanto ponteiro
Tão limpo quanto prato
Tão ódio quanto febre
Tão sarna quanto lixo
Tão sempre quanto eterno
Tão doce quanto melado
Tão sujo quanto manchado
Tão pele quanto orfanato
Tão hebreu quanto hebreia
Tão santo quanto manto
Tão pranto quanto canto
Tão amor quanto o branco
Tão mar quanto homem
Tão vida de acasos
De ocaso finito
De vida e morte
Saturados infinitos
...Mares e marés
Infelizes homens tão felizes.
Acaso... acaso
Casciano Lopes
A corrida e o barro
Todos precisamos quebrar a moringa
pra aprender correr atrás da água escorrida.
Casciano Lopes
pra aprender correr atrás da água escorrida.
Casciano Lopes
Caminho de terra
Tudo que é ferro pode enferrujar
O ouro cria sujidade e esquece o brilho
A prata escurece e perde seu prata
De tudo saber...
que a chuva cai independente e o dia acontece assim
que se tudo fosse simples nasceriam só de 'Marias'
que se as noites fossem dias sem teto não via estrela
que a estrada do outro é tão doída quanto a rua que corta meu peito
que o coração é de terra batida, esmagada ou sambada.
...Eu escolho.
Casciano Lopes
O ouro cria sujidade e esquece o brilho
A prata escurece e perde seu prata
De tudo saber...
que a chuva cai independente e o dia acontece assim
que se tudo fosse simples nasceriam só de 'Marias'
que se as noites fossem dias sem teto não via estrela
que a estrada do outro é tão doída quanto a rua que corta meu peito
que o coração é de terra batida, esmagada ou sambada.
...Eu escolho.
Casciano Lopes
Ébano e marfim em voo
Não se sabe se a ventania levou ou a chuva lavou
Vê-se apenas um piano órfão
E a correr um compositor endoidecido
Solfejando, a procura, no espaço aberto, a nota perdida.
Casciano Lopes
Vê-se apenas um piano órfão
E a correr um compositor endoidecido
Solfejando, a procura, no espaço aberto, a nota perdida.
Casciano Lopes
E as mãos só obedecem
Bocas que trancam palpites trançam fúria
enquanto pernas que traçam verbos sabem conjugá-los
...E as mãos só obedecem.
Casciano Lopes
enquanto pernas que traçam verbos sabem conjugá-los
...E as mãos só obedecem.
Casciano Lopes
Tremeluzir
O sopro no candelabro
mantém acesa a mesa posta
e o frio que beira o portão
e que espreita meu muro
foge da sala iluminada.
Casciano Lopes
A poesia de cada um
Na mancha de carvão
borrada na derme
esfregando com a alma se lê.
Casciano Lopes
Não há pobreza sem poesia
Chão pobre de pobre teto
Quem mora carrega na vista a pobreza
De uma poesia rica
De versos constantes
De inconstantes tempos
E se lágrima cai é caldo pra molhos poéticos
Adocica e salga a fartura das linhas.
Casciano Lopes
28.12.15
Ser em balanço
De tudo que pensei que tinha
restou apenas a intolerância comigo mesmo.
Casciano Lopes
Do não... aspirar, respirar
Eu quis muito ter um filho,
por muitos anos pensei que pudesse deixar em suas palmas alguma linha escrita.
Com o passar dos anos minhas linhas desapareceram juntamente com as palavras,
a trans/piração sem texto causou dor e as mãos perderam-se no caminho,
aí entendi a ausência...
Filhos precisam de mãos.
Casciano Lopes
21.12.15
Veio de calçada
Quando o vento dobra a avenida
e seu frio lambe a calçada
não me resfrio,
coloco a garganta no varal
e espeto o coração no meio-fio.
...Sai o sol,
tudo é estendido e aquecido,
até o asfalto me molha com seu suor
e fica entendido que a lua não parte
e se me parte...
Tem a clave dependurada na fiação,
aquecendo as vocais empoleiradas
e se acaso chover,
brotam vogais das corredeiras nuas,
o peito vira jangada
onde palavra não é coisa emprestada.
Casciano Lopes
e seu frio lambe a calçada
não me resfrio,
coloco a garganta no varal
e espeto o coração no meio-fio.
...Sai o sol,
tudo é estendido e aquecido,
até o asfalto me molha com seu suor
e fica entendido que a lua não parte
e se me parte...
Tem a clave dependurada na fiação,
aquecendo as vocais empoleiradas
e se acaso chover,
brotam vogais das corredeiras nuas,
o peito vira jangada
onde palavra não é coisa emprestada.
Casciano Lopes
Capacidade do verso
Encontrei numa vitrine,
trouxe pra casa,
ajustei os botões,
alvejei o tecido,
costurei os bolsos
enquanto ditava versos.
...Era manequim
e eu... poesia.
Casciano Lopes
trouxe pra casa,
ajustei os botões,
alvejei o tecido,
costurei os bolsos
enquanto ditava versos.
...Era manequim
e eu... poesia.
Casciano Lopes
27.11.15
Dita e feita a palavra
Palavra...
dita,
bendita,
maldita,
desdita.
Palavra...
pensada,
calada,
uivada
armada.
Velada
ou
cavada,
levada
ou
tomada...
palavra.
Palavrear
palavrório
palavrar
palavrinha
palavrejar
Grita
palavra
mesmo
escrita,
bonita
ou
troglodita,
Grita!
Poesia é palavra e não precisa ser dita.
Casciano Lopes
Ida
O que lida na lida da vida,
que faz do hoje hora medida
e do ontem página lida,
o que faz da manhã nascida
nova partida, nova avenida
não passa como folha corrida
vira sentido, lápida e contrapartida
...quando a noite é cumprida.
Casciano Lopes
que faz do hoje hora medida
e do ontem página lida,
o que faz da manhã nascida
nova partida, nova avenida
não passa como folha corrida
vira sentido, lápida e contrapartida
...quando a noite é cumprida.
Casciano Lopes
Fonte da juventude
As marcas do colarinho não me deixam mentir,
nos desfazemos ao longo dos dias.
Células morrem, envelhecem.
Dentes afrouxam, caem, saem de si.
Neurônios embebedam-se e hormônios... hum,
flutuam, desvirtuam-se do eu, perdem a pose.
Há uma coisa na contramão de tudo isso,
as histórias que vivem dentro e que a cada dia
ganham a beleza do rejuvenescimento.
Casciano Lopes
nos desfazemos ao longo dos dias.
Células morrem, envelhecem.
Dentes afrouxam, caem, saem de si.
Neurônios embebedam-se e hormônios... hum,
flutuam, desvirtuam-se do eu, perdem a pose.
Há uma coisa na contramão de tudo isso,
as histórias que vivem dentro e que a cada dia
ganham a beleza do rejuvenescimento.
Casciano Lopes
Despossuidor
O que vi
O que ouvi
O que aprendi
...Da vida.
Que o hoje é só o que tenho.
Que quando me olho no espelho e ele sorri
é porque como o ontem o outro se foi,
de novo temos que ser apresentados.
...É apenas um sorriso de boas vindas.
Que o cara de ontem assim como o passado
não me pertencem e que por mais que eu tente
e por mais que eu queira me livrar da dúvida,
ela é a única certeza quanto ao amanhã... Incerto.
Casciano Lopes
O que ouvi
O que aprendi
...Da vida.
Que o hoje é só o que tenho.
Que quando me olho no espelho e ele sorri
é porque como o ontem o outro se foi,
de novo temos que ser apresentados.
...É apenas um sorriso de boas vindas.
Que o cara de ontem assim como o passado
não me pertencem e que por mais que eu tente
e por mais que eu queira me livrar da dúvida,
ela é a única certeza quanto ao amanhã... Incerto.
Casciano Lopes
19.11.15
Eu, vento e ventania
Sinta a leveza do vento,
seja tão leve quanto ele e ao tocá-lo,
reverencie-o,
pois ele leva o que tem que ir e deixa enraizado o que te pertence.
Casciano Lopes
Leveza em alto mar
O mar leva o que não levitar
Se eu não puder ter leve olhar
Que então me lave a água do mar.
Casciano Lopes
Se eu não puder ter leve olhar
Que então me lave a água do mar.
Casciano Lopes
Devore-me
Se não puderes me comer de garfo e faca
tens minha permissão para lambuzar os dedos
prefiro o tanque dos guardanapos melados
que a vitrine de exposição (só beleza sem sabor).
Casciano Lopes
tens minha permissão para lambuzar os dedos
prefiro o tanque dos guardanapos melados
que a vitrine de exposição (só beleza sem sabor).
Casciano Lopes
Coração tateando
O que cega não são olhos cerrados
São punhos fechados e mãos apertadas.
Casciano Lopes
Em tempo
Quantas vezes esqueci de mim
para acudir, ouvir... mesmo que sempre as mesmas palavras
e tantas foram as vezes em que me senti desrespeitado
foram tantos gestos, olhares e frases desprovidas de atenção.
Mas ainda bem que sempre podemos estancar o sangramento
barragens se rompem... podemos romper com padrões
é sempre tempo de bastar abusos emocionais
de recomeçar e seguir o fluxo do rio... com vazamentos estancados.
Casciano Lopes
10.11.15
Em conserva
O mar nasceu longe de mim
de lonjuras sofre a audição...
sem canção de ondas
...já o coração sempre perto,
vive molhado, salgando esperas.
Casciano Lopes
de lonjuras sofre a audição...
sem canção de ondas
...já o coração sempre perto,
vive molhado, salgando esperas.
Casciano Lopes
Contração
Já fui menino e velho
até descobrir que o segredo
era não ser... nascer
desde então todos os dias
...parto.
Casciano Lopes
até descobrir que o segredo
era não ser... nascer
desde então todos os dias
...parto.
Casciano Lopes
27.10.15
O discurso e a falta dele
Há momentos em que não caminhamos porque não temos sapatos
Em outros não corremos chão porque alegamos uma dor nos pés
Agora tem aqueles momentos em que faltam estrada
...Nesses momentos geralmente calamos
Se falta base para plantar os pés, sobram palavras na boca muda.
Casciano Lopes
Em outros não corremos chão porque alegamos uma dor nos pés
Agora tem aqueles momentos em que faltam estrada
...Nesses momentos geralmente calamos
Se falta base para plantar os pés, sobram palavras na boca muda.
Casciano Lopes
Desocupada saudade e a importância de uma pedra
A mesma carência de que sofre a árvore
Faz agonizar a pedra sem limo
Embora o colibri que voou do ninho
Deixou recado com a pedra do caminho
...Diga que volto...
E a pedra por um segundo percebeu-se arrimo.
Casciano Lopes
Faz agonizar a pedra sem limo
Embora o colibri que voou do ninho
Deixou recado com a pedra do caminho
...Diga que volto...
E a pedra por um segundo percebeu-se arrimo.
Casciano Lopes
Palavra de barro
Não me bateu à porta a poesia formada de formas e adornada de palavras difíceis, se quer tinha embaixo de seus braços um canudo; porém quando escancarei a porta dei de cara com um amontoado de cacos trazidos pela ventania e embora eu não fosse de olaria, aprendi juntá-los no que dizem ser poesia.
Desde então, exponho os vasos e jarros em prateleiras, quem quiser leia-os e quem não... quebre-os, uso cacos.
Casciano Lopes
Seiva de imensidão
Em terra de gigantes
Homens crescem mais que sequoia
Um fino veio alimenta a selva...
Em parques de gratidão não crescem pequenos.
Casciano Lopes
Homens crescem mais que sequoia
Um fino veio alimenta a selva...
Em parques de gratidão não crescem pequenos.
Casciano Lopes
Traça[mar]
Ao amor deve-se
a latitude de um coração
e a longitude de um olhar comprometido,
quanto às cartas de navegação,
digo que traçam-se sós
e isto não é ônus, é bônus.
Casciano Lopes
a latitude de um coração
e a longitude de um olhar comprometido,
quanto às cartas de navegação,
digo que traçam-se sós
e isto não é ônus, é bônus.
Casciano Lopes
21.10.15
Rua do sem juízo
Ele desceu correndo a rua de casa
Esbarrou na mulher feia
Tropeçou no bêbado
Rolou por sobre o sem teto
Fugiu do cobrador
Estapeou o fofoqueiro
Até atropelou o motoqueiro
...E continuou desembestado
Feito pressa ladeira abaixo
Deu de ombros ao ciclista
Incomodou o incomodado
Escorregou nos ditados e deitados
Assustou a calma freira
Fez vento ao jornaleiro
Até derrubou o quitandeiro
...Quando sentou no estardalhaço
Riu feito palhaço...
Inspirou coragem e subiu mais devagar
...Bagunçar é descida, consertar é subida.
Casciano Lopes
Esbarrou na mulher feia
Tropeçou no bêbado
Rolou por sobre o sem teto
Fugiu do cobrador
Estapeou o fofoqueiro
Até atropelou o motoqueiro
...E continuou desembestado
Feito pressa ladeira abaixo
Deu de ombros ao ciclista
Incomodou o incomodado
Escorregou nos ditados e deitados
Assustou a calma freira
Fez vento ao jornaleiro
Até derrubou o quitandeiro
...Quando sentou no estardalhaço
Riu feito palhaço...
Inspirou coragem e subiu mais devagar
...Bagunçar é descida, consertar é subida.
Casciano Lopes
19.10.15
À pele dura
Dado à espessura
A sordidez da mistura
Causando tristura.
Carece ventura
...À figura
Deve-se a cura.
Casciano Lopes
Cabo de guerra
A força que me falta... sob a mesa
A força que me sobra... sobre a mesa
E eu... vezes mesa sobre o chão
Outras chão sob a mesa.
Casciano Lopes
A força que me sobra... sobre a mesa
E eu... vezes mesa sobre o chão
Outras chão sob a mesa.
Casciano Lopes
Um pulso iludido
O tempo tão ilusório mentiu
Disse-me que era dono do relógio
Eu comprei e ele fugiu
...Foi o ponteiro quem o desmentiu.
Casciano Lopes
Disse-me que era dono do relógio
Eu comprei e ele fugiu
...Foi o ponteiro quem o desmentiu.
Casciano Lopes
Poesia em caixa alta
Um verso nunca é pequeno
Não há minúscula forma de sentir
Já que verso não é palavra
Poeta não versa... MAIÚSCULA.
Casciano Lopes
15.10.15
Pano e palma das mãos
De tempos em tempos costumo analisar as palmas das mãos,
elas têm por hábito:
- Alinhavar partes tecidas... Juntar
- Embainhar partes compridas... Encurtar
- Alongar braços e pernas... Abraçar
Ainda sacoleja a água que dá vida as cores... Colorar.
Casciano Lopes
elas têm por hábito:
- Alinhavar partes tecidas... Juntar
- Embainhar partes compridas... Encurtar
- Alongar braços e pernas... Abraçar
Ainda sacoleja a água que dá vida as cores... Colorar.
Casciano Lopes
14.10.15
(Re)talho
O corte é sempre ferida exposta
que o outro decide proferir
...O outro... homem ou momento.
Só que a profundidade do talho,
sou eu que decido.
Casciano Lopes
que o outro decide proferir
...O outro... homem ou momento.
Só que a profundidade do talho,
sou eu que decido.
Casciano Lopes
6.10.15
Carta à vida
No balanço da canoa percebo que tenho mais a agradecer que pedir ou reclamar. No espelho percebo marcas do tempo sim, mas delas não posso lamentar; em cada uma das ranhuras compreendo um aprendizado. O que me faz mais maduro hoje ainda me torna imaturo para o amanhã, e é isso que anima e fortalece: o saber do meu caminho evolutivo e o querer percorrê-lo ainda mais outro tanto, para então, quem sabe, poder dividir nesta e noutras tantas vidas o conhecimento, sem perder a capacidade de conhecer. Que venham amanhãs e que em todas as manhãs me levante para a vida como quem nasce com o sol.
Amealhei, ao longo desse pequeno tempo, o afeto de pessoas para a vida toda; gente que sabe cultivar flores, independente de espinhos e pedregulhos; pessoas por quem tenho apreço e devoção. Como costumo dizer: no caminho de volta para casa procuro deixar mais flores que espinhos. Deu certo então, e todo dia aprendo, com cada qual que me escolheu para partilhar da estrada, uma canção nova, uma letra desconhecida, um acorde. Assim, tudo vira poesia. Costumo parabenizar os amigos em aniversário assim: ‘Vida longa, que a estrada seja de poesia e a nova idade reserve paz’. Na minha vez, conto com os amigos para tanto, companheiros de evolução, almas ímpares num mundo tão atrofiado por egoísmo.
Cheguei por aqui em 1970, filho de lavradores dignos. Em plena ditadura militar, mas o ano era o do ‘tri’ e, segundo dizem os contadores, da melhor seleção. Vida de fazenda sabe como é: fruta no pé, cafezal em flor, queijo, pão caseiro e manteiga de garrafa na mesa, moringa e roça, fogão de lenha com panela preta, pilão no terreiro, moinho no alpendre, batedor de roupas e muito anil, grama pra quarar e comadre de papo com cachimbo penso na boca. Cenário perfeito pra se nascer. Depois é que veio missa, novena e terços, baile na casa de dona Terezinha, jogo no campo de fazenda contra fazenda, e eu... como criança espoleta, escondia o cachimbo da comadre, corria da vara de amora da mãe, mas também tinha obrigação com os bichos, levar marmita na roça, buscar leite na mangueira, olhar o caçula... E de tarde era a festa, ‘trim’ no cabelo com mamãe penteando e puxando a orelha pra segurar a cabeça como se essa fosse fugir e o caminho era da casa da benzedeira da colônia – dona Cândida – Ah! se a onomatopeia me ajudasse a dar som para aquele chiado que só as benzedeiras entendem; um dialeto salpicado com ramo de arruda e abençoado na água com pedra de carvão! Eita, que até hoje me dá água na boca aquele gostinho da água benta e abençoada. Desde pequeno era vigiado pra não colocar brasa na boca... digamos que tinha uma atração pelo carvão.
No entardecer dessas palavras só posso ser feliz por ter vindo de pais tão nobres e honrados, heróis incansáveis na diária tarefa de nos impulsionar no amor e compreensão. Sim, tenho mais do que pedi: pais perfeitos, uma família maravilhosa, sobrinhos em castelos; para alguém sem filhos... São Príncipes e Princesas; casado com uma pessoa linda, de caráter ilibado, alguém com quem aprendo todos os dias que continuar é preciso, alguém que me tornou um Ser melhor em todos esses quase vinte anos, com quem entendi que podia ir muito além do que supunha, que me encantou com as palavras me despertando a poesia, meu primeiro leitor desde o primeiro poema, passando por todos os outros que vieram assim que acabavam de ser escritos, meu crítico literário pessoal, incentivador e aconselhador. Me contagiou com gosto por MPB, ah... e como foi bom ter esse contato, cresci tanto desde então! Tem coisa melhor?... Livros, bom papo, poesia, música, enfim, inteligência sempre foi, para mim, um “pega rapaz”. Ao meu Carlos um agradecimento é pouco, penso em dar a ele algumas vidas das que puder vir a viver.
Ainda, como se mais precisasse, vieram amigos. E ao falar de amigos só digo que tive sorte, verdadeiros irmãos, amizades sem culpas ou desculpas, sem meios ou por onde, sem pretextos ou contextos, só textos... sem cobranças e ameaças, perfeitos como coisa de alma. É assim com os queridos, uma ligação sublimada e que não deixa lugar para recursos já que nunca há julgamentos, assim são os amigos, os meus amigos, raros e caros.
Em São Paulo, desde o fim de 1979, descobri a vida da cidade e de como tinha posses o menino da fazenda sem o conhecimento delas. Com 12 anos já era ajudante de jornaleiro, depois de sapateiro no ofício de colar solados de tamancos, uns trocos pra feira, vida “marvada”. Mas como nada é totalmente ruim vieram os personagens do rádio povoando a imaginação. Sim, rádio – ‘turma da maré mansa’ era o programa preferido; a primeira televisão só aos 21 quando fui morar só.
Nesses 45 anos foram 29 mudanças – só com Carlinhos foram 15 em 19 anos. Endereços cheios de histórias, onde deixei também os meus rabiscos, o que me rendeu o título de cigano. ...E não duvidem de que a 30ª já esteja sendo preparada. Vida intensa meus amados... Sou um convicto incomodado, não costumo fincar raízes já que árvore não sou; apesar de ser perfeccionista e metódico, não gosto muito de rotina. Profissionalmente, então, foram inúmeros postos e apostas: de hospital a banco, de contínuo a encarregado, comerciante. Enfim e por fim acabei num curso de cabeleireiro, fui como para terapia de uma depressão e da síndrome de pânico. Acabei gostando, até que um problema de coluna apitou me tirando da ativa.
Pensava ter me encontrado, mas como nada é por acaso, essa intercorrência me levou para outros ventos e nesses novos que sopraram eu descobri o Reiki e aí tudo mudou. De 2012 para cá realmente tenho vivido um novo tempo, dentro do meu Ser, do que é meu território sagrado, o único templo que reconheço é o sagrado de cada território humano, onde o Outro é meu mestre e esta nova energia todo dia me transforma. A visão do todo e de sua parte em mim, assim como a minha nele, tem feito toda a diferença nos meus dias.
Nesse apanhado descubro muito que comemorar: os encontros e até os desencontros, os casos e acasos, as chegadas e partidas, os ganhos e também as perdas, porque nada chega sem sentido e nem se vai sem o dever cumprido. O que é nosso perdura e o que vai embora talvez nunca nosso tenha sido. Na vida luto cada dia por mais verdade e o que seja fruto dela. Não posso reclamar, visto que as facilidades da vida nos ensinam pouco, mas as dificuldades... Essas têm pós, mestrado e doutorado.
Quanto às perdas, deve-se mencionar o que eliminamos... aí é bom, há dois anos estava com quase 100 quilos e consegui, com uma nova postura frente ao prato, somado com outras novas posturas frente ao corpo, eliminar mais de 24 quilos. É uma baita comemoração diária à vida desde então, fiz as pazes com a autoestima e descobri que posso quando quero!
[Isso está quase uma autobiografia e era só um agradecimento de aniversário, bom, bastava dizer que era um homem feliz, mas como dizem que felicidade não se explica resolvi contrariar.]
Também vale dizer ainda que há pouco mais de 5 anos conheci o mar (tardiamente), indizível o sentimento que me assomou e desde então, ouço o barulho das ondas a me chamar, envelhecer ao seu som sei que vou e morrer de amor é promessa junto ao mar.
Tenho encontrado também na poesia um apoio, algo que apareceu em 2004, criou corpo em 2005 e foi parar na rede feito gente grande em 2010, tímida que só! Ainda me lembro de comemorar os primeiros 100 poemas blogados; 5 anos depois são quase 1000! Fui publicado na Romênia, houve exposição em Londres na Semana Internacional de Poesia, livro publicado na Bahia junto com outros poetas e, enfim, não vou ficar aqui discorrendo pelo currículo porque não é o caso. Modéstia à parte, a lista dos eventos está em pleno crescimento. O interessante, no entanto, é dizer que para alguns isso pode ser pouco, mas para o menino da Fazenda Sinhazinha lá de Centenário do Sul, Paraná... É muito, tem horas que penso que aquela lua gigante do pasto me transportou como se fosse um balão. Eu ainda a reconheço quando a vejo daqui e só peço que se ela pode mesmo transportar o menino que ainda vive aqui dentro, que não me deixe para trás, afinal, a viagem tem que continuar.
Se ainda posso querer dizer algo mais, deixo por conta da gratidão: devo tudo aos meus pais amados pela vida rica que me doaram, ao meu marido e amigo Carlos meu eterno compartilhar de mãos juntas, obrigado por todos os caminhos que vencemos e nos que virão continue contando com meu amor, aos amigos que sempre apoiaram me oferecendo abraços, saibam dos meus braços largos à disposição, agora com mais um risquinho nessa reta de existência.
Ao Universo o meu coração disposto ao aprendizado do amor Universal e que a vida seja uma prática de suas leis.
Namastê
Casciano Lopes
Outubro-2015
Amealhei, ao longo desse pequeno tempo, o afeto de pessoas para a vida toda; gente que sabe cultivar flores, independente de espinhos e pedregulhos; pessoas por quem tenho apreço e devoção. Como costumo dizer: no caminho de volta para casa procuro deixar mais flores que espinhos. Deu certo então, e todo dia aprendo, com cada qual que me escolheu para partilhar da estrada, uma canção nova, uma letra desconhecida, um acorde. Assim, tudo vira poesia. Costumo parabenizar os amigos em aniversário assim: ‘Vida longa, que a estrada seja de poesia e a nova idade reserve paz’. Na minha vez, conto com os amigos para tanto, companheiros de evolução, almas ímpares num mundo tão atrofiado por egoísmo.
Cheguei por aqui em 1970, filho de lavradores dignos. Em plena ditadura militar, mas o ano era o do ‘tri’ e, segundo dizem os contadores, da melhor seleção. Vida de fazenda sabe como é: fruta no pé, cafezal em flor, queijo, pão caseiro e manteiga de garrafa na mesa, moringa e roça, fogão de lenha com panela preta, pilão no terreiro, moinho no alpendre, batedor de roupas e muito anil, grama pra quarar e comadre de papo com cachimbo penso na boca. Cenário perfeito pra se nascer. Depois é que veio missa, novena e terços, baile na casa de dona Terezinha, jogo no campo de fazenda contra fazenda, e eu... como criança espoleta, escondia o cachimbo da comadre, corria da vara de amora da mãe, mas também tinha obrigação com os bichos, levar marmita na roça, buscar leite na mangueira, olhar o caçula... E de tarde era a festa, ‘trim’ no cabelo com mamãe penteando e puxando a orelha pra segurar a cabeça como se essa fosse fugir e o caminho era da casa da benzedeira da colônia – dona Cândida – Ah! se a onomatopeia me ajudasse a dar som para aquele chiado que só as benzedeiras entendem; um dialeto salpicado com ramo de arruda e abençoado na água com pedra de carvão! Eita, que até hoje me dá água na boca aquele gostinho da água benta e abençoada. Desde pequeno era vigiado pra não colocar brasa na boca... digamos que tinha uma atração pelo carvão.
No entardecer dessas palavras só posso ser feliz por ter vindo de pais tão nobres e honrados, heróis incansáveis na diária tarefa de nos impulsionar no amor e compreensão. Sim, tenho mais do que pedi: pais perfeitos, uma família maravilhosa, sobrinhos em castelos; para alguém sem filhos... São Príncipes e Princesas; casado com uma pessoa linda, de caráter ilibado, alguém com quem aprendo todos os dias que continuar é preciso, alguém que me tornou um Ser melhor em todos esses quase vinte anos, com quem entendi que podia ir muito além do que supunha, que me encantou com as palavras me despertando a poesia, meu primeiro leitor desde o primeiro poema, passando por todos os outros que vieram assim que acabavam de ser escritos, meu crítico literário pessoal, incentivador e aconselhador. Me contagiou com gosto por MPB, ah... e como foi bom ter esse contato, cresci tanto desde então! Tem coisa melhor?... Livros, bom papo, poesia, música, enfim, inteligência sempre foi, para mim, um “pega rapaz”. Ao meu Carlos um agradecimento é pouco, penso em dar a ele algumas vidas das que puder vir a viver.
Ainda, como se mais precisasse, vieram amigos. E ao falar de amigos só digo que tive sorte, verdadeiros irmãos, amizades sem culpas ou desculpas, sem meios ou por onde, sem pretextos ou contextos, só textos... sem cobranças e ameaças, perfeitos como coisa de alma. É assim com os queridos, uma ligação sublimada e que não deixa lugar para recursos já que nunca há julgamentos, assim são os amigos, os meus amigos, raros e caros.
Em São Paulo, desde o fim de 1979, descobri a vida da cidade e de como tinha posses o menino da fazenda sem o conhecimento delas. Com 12 anos já era ajudante de jornaleiro, depois de sapateiro no ofício de colar solados de tamancos, uns trocos pra feira, vida “marvada”. Mas como nada é totalmente ruim vieram os personagens do rádio povoando a imaginação. Sim, rádio – ‘turma da maré mansa’ era o programa preferido; a primeira televisão só aos 21 quando fui morar só.
Nesses 45 anos foram 29 mudanças – só com Carlinhos foram 15 em 19 anos. Endereços cheios de histórias, onde deixei também os meus rabiscos, o que me rendeu o título de cigano. ...E não duvidem de que a 30ª já esteja sendo preparada. Vida intensa meus amados... Sou um convicto incomodado, não costumo fincar raízes já que árvore não sou; apesar de ser perfeccionista e metódico, não gosto muito de rotina. Profissionalmente, então, foram inúmeros postos e apostas: de hospital a banco, de contínuo a encarregado, comerciante. Enfim e por fim acabei num curso de cabeleireiro, fui como para terapia de uma depressão e da síndrome de pânico. Acabei gostando, até que um problema de coluna apitou me tirando da ativa.
Pensava ter me encontrado, mas como nada é por acaso, essa intercorrência me levou para outros ventos e nesses novos que sopraram eu descobri o Reiki e aí tudo mudou. De 2012 para cá realmente tenho vivido um novo tempo, dentro do meu Ser, do que é meu território sagrado, o único templo que reconheço é o sagrado de cada território humano, onde o Outro é meu mestre e esta nova energia todo dia me transforma. A visão do todo e de sua parte em mim, assim como a minha nele, tem feito toda a diferença nos meus dias.
Nesse apanhado descubro muito que comemorar: os encontros e até os desencontros, os casos e acasos, as chegadas e partidas, os ganhos e também as perdas, porque nada chega sem sentido e nem se vai sem o dever cumprido. O que é nosso perdura e o que vai embora talvez nunca nosso tenha sido. Na vida luto cada dia por mais verdade e o que seja fruto dela. Não posso reclamar, visto que as facilidades da vida nos ensinam pouco, mas as dificuldades... Essas têm pós, mestrado e doutorado.
Quanto às perdas, deve-se mencionar o que eliminamos... aí é bom, há dois anos estava com quase 100 quilos e consegui, com uma nova postura frente ao prato, somado com outras novas posturas frente ao corpo, eliminar mais de 24 quilos. É uma baita comemoração diária à vida desde então, fiz as pazes com a autoestima e descobri que posso quando quero!
[Isso está quase uma autobiografia e era só um agradecimento de aniversário, bom, bastava dizer que era um homem feliz, mas como dizem que felicidade não se explica resolvi contrariar.]
Também vale dizer ainda que há pouco mais de 5 anos conheci o mar (tardiamente), indizível o sentimento que me assomou e desde então, ouço o barulho das ondas a me chamar, envelhecer ao seu som sei que vou e morrer de amor é promessa junto ao mar.
Tenho encontrado também na poesia um apoio, algo que apareceu em 2004, criou corpo em 2005 e foi parar na rede feito gente grande em 2010, tímida que só! Ainda me lembro de comemorar os primeiros 100 poemas blogados; 5 anos depois são quase 1000! Fui publicado na Romênia, houve exposição em Londres na Semana Internacional de Poesia, livro publicado na Bahia junto com outros poetas e, enfim, não vou ficar aqui discorrendo pelo currículo porque não é o caso. Modéstia à parte, a lista dos eventos está em pleno crescimento. O interessante, no entanto, é dizer que para alguns isso pode ser pouco, mas para o menino da Fazenda Sinhazinha lá de Centenário do Sul, Paraná... É muito, tem horas que penso que aquela lua gigante do pasto me transportou como se fosse um balão. Eu ainda a reconheço quando a vejo daqui e só peço que se ela pode mesmo transportar o menino que ainda vive aqui dentro, que não me deixe para trás, afinal, a viagem tem que continuar.
Se ainda posso querer dizer algo mais, deixo por conta da gratidão: devo tudo aos meus pais amados pela vida rica que me doaram, ao meu marido e amigo Carlos meu eterno compartilhar de mãos juntas, obrigado por todos os caminhos que vencemos e nos que virão continue contando com meu amor, aos amigos que sempre apoiaram me oferecendo abraços, saibam dos meus braços largos à disposição, agora com mais um risquinho nessa reta de existência.
Ao Universo o meu coração disposto ao aprendizado do amor Universal e que a vida seja uma prática de suas leis.
Namastê
Casciano Lopes
Outubro-2015
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