É preciso não amargar demais; o caldo quente do nosso caldeirão de dias, a sopa encarregada de dar o gosto de viver e o tempero dos anos misturados como ingredientes, para servir aqueles que nos visitam ao longo do preparo do mantimento da vida sem nos esquecermos.
Precisamos chorar menos, afim de não salgar as receitas e como bons anfitriões, limpar os olhos para que a alma esteja desembaçada, porque só assim, será possível servir e matar a fome de nós mesmos.
Chega um momento em que encontramos o mar... Todo o rio que corre comprimido entre margens, encontra nele amplidão sem contenção. Em troca, abre mão do seu sabor que nomearam de água doce em favor da água salgada. Mas é o mar casado com o horizonte que faz da vida do rio um amante que nele quer se deitar.
Senhores com os seus cachimbos fiavam o fumo enquanto acariciavam as palavras, as bocas mastigavam sem pressa cada caso, antes mesmo que as crianças atentas crescessem pra contar...
Quando me largo ensimesmado num lugar de pensamento, não estou gastando tempo contabilizando as perdas, estou ganhando e entendendo as rugas que os risos sempre me provocaram e que ainda cavam no meu jeito calado, um lugar bom de pensar... rindo.
Por onde andarão aqueles dias em que as tardes demoravam passar dentro de mim e as noites se esqueciam de acordar? O sol se deitava tão pertinho que eu nem sentia frio e a lua me cochichava sonhos que eu dormia.
Quando os caminhos se deram, eu caminhei por eles. Quando os becos se esconderam, eu brinquei por eles. Quando os atalhos imitaram destino, eu pratiquei o acesso e cheguei...
Porque nunca importaram os mapas, e as trilhas todas que fiz me levaram ao encontro de minha parte mais desconhecida. Então valeu, porque o principal foi perceber que eu não era só o caminhante, mas o caminho que me encontrou, e quando não pude me levar por ele sem fadiga, sentei, descansei e aproveitei pra me entender.
Não vou subir a escada que me propôs, não vou escalar a sua vontade só pra me cansar, não vou escorregar no seu prazer pagando com o meu desconforto os gemidos caros... amanhã não vou.
Não vou me propor uma tirolesa sobre o rio que nunca nadei, por nada, por ninguém... eu não vou.
Às vezes é só uma questão de se desmanchar em tintas, de exibir as pétalas, de se borrar de cores e arriscar um arranjo sem motivo ou data especial; só pra decorar a alegria que sabe por mesa e presentear o próprio jardim que sabe enfeitar o riso do perfume cheio de estima.
Dos desafios, digo que sempre adornaram o pescoço de ver além...
sabe quando a gente dá aquela espichada no tronco pra conseguir chegar o olhar atrás dos montes, ou suspende a cabeça pra ficar fora d'água a capacidade?
Então, nesses momentos o peito tinha pendurado um terço deles, um colar de contas que batizei de superação, e que, rezei todas elas em cada 'não'' e foi mantrando 'sim' que me enfeitei.
Os pesadelos mais perversos não acontecem no sono profundo, eles provocam a realidade dos olhos abertos, desafiando por ousadia nosso raso estado letárgico.
O céu pode esconder os astros e o chão todo feito pra caminhar pode omitir o brilho que mostra destino; eu é que não posso mentir minha luz, apagar minha estrela pra não andar e ainda justificar com o breu a falta de chegada.
A lida, a espera, a carência, as histórias e seus personagens. Sei que findam. Rompem os fios das ligações, morre o ciclo da rosa, se dissipa o perene, e tudo o que o mundo jurou, se desfaz no vento que sabe levar promessas. Sei disso, mas saber não me isenta de ser cobrado e a eternidade que acorda cedo no sentimento de cada dia me apavora, como se durasse para sempre tudo o que parte e que me faz falível na dor e indestrutível na vontade de durar, só até o dia em que o tempo se esquecer de mim e não acordar... Findar.