6.9.22

Entre o tempo de pulso e o de bolso

Há pelo menos dez anos saí da cidade grande e fui pro interior.
Deixei as ruas largas de calçadas azulejadas, abdiquei dos edifícios altos que baniam o vento e entreguei as chaves do aluguel caro.
Entendi que o sol que eu gostava se mirava na cerca do campo e que a lua se deitava no colo da prosa com o desconhecido, que na vilinha todo mundo queria conhecer.
Lá, onde sempre tem luz acesa na casinha simples, encontrei a palha que envolveu o milho, enquanto comia dele a pamonha e entendia a brasa, sentado ao lado de fogão de lenha. Percebi que santas eram aquelas mulheres de lenço sedado e estampado nas cabeças e santos eram os homens de voz rouca e tempo nos bolsos de guardar conversa; até os meninos e meninas com seus cachorros tinham asas abanando a lenha de fazer calor.
Volto pra capital? Não! Vou me demorar ainda dentro de mim, ao menos até que eu me conheça um pouco, até que dentro de mim apareça a paisagem mais nítida desse interior.

Casciano Lopes

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