3.3.23

O inegociável

Desde crianças, guardamos nos bolsos as pedrinhas mais coloridas das brincadeiras, escondemos bilhetinhos desenhados em lugares que julgamos seguros como no meio do caderno escolar, reservamos até um chiclete mascado embaixo da cama pra felicidade durar até o dia seguinte...
A inocência aos poucos se despede.
E na nova idade, continuamos colecionando recebidos e sigilosos distribuídos; tudo bem acomodado no pequeno baú chaveado e em algumas vezes, um beijo segredado até acaba se esbarrando num velho chiclete acomodado e até precisamos conter os lábios pra não estourar bolas da antiga goma.
O tempo vai mascando nossas riquezas baratas, nos desgastando...
Amadurecemos.
Nem lembramos mais do lugar de esconderijo da chave do baú; definitivamente a perdemos.
É quando nos enchemos de certezas, de falas perfeitas, de pensamentos isentos de equívocos, de acertos mais que de erros, de convicções de que estamos no centro da verdade e nos munimos de uma vontade gigante de ser melhor e chamamos a isso de vencer na vida.
A que preço?
Que saibamos todos, que onde morar nosso mais caro, nosso apreço, nossa maior valia, nosso intocável bem, a reserva da nossa estima e o nosso bolso de crenças... Será o lugar mais afetado no tempo em que precisaremos ceder pra cabermos naquele bolso da infância, onde só miudezas importavam.

Casciano Lopes

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