Aprendi ainda pequeno, o amor pela cozinha... em fogão de lenha e forno de barro. Vi minha mãe dando conta de pão, pamonha, curau, queijo, requeijão, manteiga de garrafa, doce de leite, doce de abóbora, arroz doce, canjica, galinhada, pirão, polenta, bolo e o plural das coisas que se faz a partir do fogo, da boa vontade e do amor por dividir sabores... fui observador do giro do torrador de café sobre as brasas, do moinho de alpendre preparando o pó e do pilão do terreiro socando o colorau. É, tive provas de que é construído o que se leva à mesa. ...E o amor é construção, que se serve em abundância como tudo que não pode faltar.
Fui apurado feito doce no tacho.
Cresci assistindo minha mãe em fogão e mesa, servindo risadas e bom humor, bom papo e conselhos em torno dos pratos que fazia, com o gosto de quem sabia que o tempero da vida pede o preparo da dedicação pelo outro e que o amor servido mata a fome e fortalece o crescimento humano... A sabedoria de quem serve é o bem que jamais esvazia o celeiro e registra pra sempre a saciedade no livro de receitas da experiência sagrada que é dividir amor.
Casciano Lopes