O que nos mantém dispostos ao riso não é o produto do sinistro, é o prêmio do seguro, da apólice que assinamos em outros tempos, longe daqui, onde o compromisso estava além das perdas, firmado no propósito parceiro de um ganho maior... O cumprimento do agradecimento, com todos os seus méritos instalados no amor.
28.6.24
O pacto de luz todo dia em parto
Eu não saberia dizer o que seria sem sua presença e o que mais diria depois de ter você?
Os dias caminharam por nós e foram tantos os que amedrontaram nossas manhãs! Mas também foram muitos os que pousaram suas tardes na nossa rede e nos ensinaram a descansar.
As noites que cerraram as cortinas da nossa casa nada puderam com as janelas abertas da nossa alma, que nos ensinaram a ter olhos de acreditar na claridade.
A clara luz que nos guia sempre... exposta na nossa mesa quando precisamos repartir a vontade, quando precisamos servir em prato fundo a esperança e a força pra seguirmos juntos.
Nunca foi fácil, mas o empenho pelo sorriso do outro fez possível o inacreditável.
E é assim que sigo a lida, fazendo viver em mim o compromisso com a vida, porque você vive ao lado e me ajuda a entender o impossível.
Casciano Lopes
Alegria disposta
De todas as alegrias, guardo principalmente as que me custaram a disposição das mãos quando se estenderam pra alcançá-las, as que couberam dentro do meu abraço, quando os braços quiseram ceder o afago, de todas... guardo a memória dos lábios que riram sem cobrar motivo, apenas porque eram lábios e ficavam mais bonitos sorrindo.
24.6.24
Recalculando a rota
A meta, quando pequeno, era não cair, não chegar com a comida fria na roça pro almoço do pai, proteger o irmão pequeno dos perigos da fazenda e não derrubar o leite que ia buscar na mangueira de manhã...
Fui crescendo e a meta era fugir das notas baixas na escola, escapar dos meninos maldosos e caprichar no asseio dos poucos pertences...
Continuei ganhando anos e a meta passou a ser o primeiro emprego, ajudar na feira, olhar os irmãos e deixar minha mãe orgulhosa...
Já jovem, queria estudar, quis viajar, as metas se ocuparam do futuro e precisaram, em nome da inteligência, brigar com padrões instituídos.
Cresci e o amor desperto me fez capaz de ser quem eu era e não o que me diziam que eu devia ser. Quis ser honesto com minhas vocações e fiel aos meus ideais, a meta era me sustentar e adquirir, como todos, o mundo...
As metas foram, aos poucos, se tornando rotas alteradas.
Quis envelhecer com dignidade. A certa altura da tal 'maturidade', a meta era apenas ser de verdade. Rompi com as normas e construí a minha cartilha. Quis manter a aventura como uma ferramenta de vida e elaborar, cada dia mais, formas de entender o avanço do tempo como meu maior patrimônio. Quis juntar nele, o tempo, uma boa história.
Tudo passa... Pessoas, dores, medos, frustrações, decepções; alegrias também passam. Passam as metas e, com elas, eu no tempo; o tempo que permite minha viagem e que parece estar debruçado na janela me vendo querer e querendo dele, o Tempo, apenas a nota de aprovação na escola das idades, nas disciplinas que exigem coerência entre quem sou e quem penso ser, de onde vim e pra onde vou, sujando o mínimo possível o chão que me levará às respostas ao final de tudo.
Quando tudo finda... Finda?
Hoje, na minha história, é interessante observar que as metas são muito parecidas com as do menino: cuidar pra não cair, continuar enxergando e andar, e assim, sendo produtivo, esticar um tantinho mais a caminhada com os pés colocados no que acredito e dispostos sempre a defender meu destino com os olhos de quem comprou a passagem ainda menino.
Casciano Lopes
Fui crescendo e a meta era fugir das notas baixas na escola, escapar dos meninos maldosos e caprichar no asseio dos poucos pertences...
Continuei ganhando anos e a meta passou a ser o primeiro emprego, ajudar na feira, olhar os irmãos e deixar minha mãe orgulhosa...
Já jovem, queria estudar, quis viajar, as metas se ocuparam do futuro e precisaram, em nome da inteligência, brigar com padrões instituídos.
Cresci e o amor desperto me fez capaz de ser quem eu era e não o que me diziam que eu devia ser. Quis ser honesto com minhas vocações e fiel aos meus ideais, a meta era me sustentar e adquirir, como todos, o mundo...
As metas foram, aos poucos, se tornando rotas alteradas.
Quis envelhecer com dignidade. A certa altura da tal 'maturidade', a meta era apenas ser de verdade. Rompi com as normas e construí a minha cartilha. Quis manter a aventura como uma ferramenta de vida e elaborar, cada dia mais, formas de entender o avanço do tempo como meu maior patrimônio. Quis juntar nele, o tempo, uma boa história.
Tudo passa... Pessoas, dores, medos, frustrações, decepções; alegrias também passam. Passam as metas e, com elas, eu no tempo; o tempo que permite minha viagem e que parece estar debruçado na janela me vendo querer e querendo dele, o Tempo, apenas a nota de aprovação na escola das idades, nas disciplinas que exigem coerência entre quem sou e quem penso ser, de onde vim e pra onde vou, sujando o mínimo possível o chão que me levará às respostas ao final de tudo.
Quando tudo finda... Finda?
Hoje, na minha história, é interessante observar que as metas são muito parecidas com as do menino: cuidar pra não cair, continuar enxergando e andar, e assim, sendo produtivo, esticar um tantinho mais a caminhada com os pés colocados no que acredito e dispostos sempre a defender meu destino com os olhos de quem comprou a passagem ainda menino.
Casciano Lopes
Sem medida
Eu não quero ser a régua do mundo. As unidades de medidas pregam limites, e eu, vivo além dos centímetros.
Sinto muito! As quilometragens das rodovias não são capazes de me parar com placas de recomendações. O destino sim, sabe mais sobre quem sente muito e espera de mim apenas que eu entenda da vida sem métrica, e que quando eu me olhar não veja o fim.
Casciano Lopes
21.6.24
Jardim plantado e regado
Daquilo que dói
a gente esquece a rega
e do que sara,
a gente cria e fotografa
pra lembrar de molhar
quando a dor rondar.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
20.6.24
Farol de atenção
Não se demore no lamento, ele por hábito turvará seus olhos, impedindo o trânsito das belezas em sua vista, causando o atropelamento das verdades e convencendo por mentira que a vida é sofrimento.
E não é só um momento que passa, a vida é uma eternidade que fica, e que, enquanto dura, precisa trafegar livre de acostamento... um lugar de esconderijo, onde se mente o motivo dos lábios sorrirem em nome da causa dos olhos verterem e as mãos viram lenço, podendo ser só agradecimento.
Casciano Lopes
19.6.24
Em dois semestres
Amo maios, junhos, setembros, outubros e dezembros... janeiros me agoniam e nos demais meses tento me lembrar de virar as folhas do calendário e dar as costas ao passado que me faz um hoje, querendo sem ter, o amanhã.
Tudo é cheio de tempo, todo o meu templo de morar é cheio dele.
O ontem não pode mais me avaliar, já deixou em minhas paredes os seus diplomas e dele só posso ter a prática de suas teorias.
É entre teorias, teses e hipóteses, que procuro praticar a vida que comete um paradoxo - construir permanências dentro da impermanência - onde posso exercer o direito de me juntar aos dias e entre folhas escritas e brancas feito pálidas, escrever cabeçalhos e rodapés, com meu nome entre eles, fazendo a ponte entre quem fui no ano passado e quem ainda sou ou serei depois que a chuva passar. Serei?
A vida é um 'não sei' cheia de certezas.
Casciano Lopes
18.6.24
Nas linhas, o bem em locomoção
Mais que a negação é o toque das mãos,
mais que a oposição,
mais que a falta,
que a solidão dos anéis...
Bem mais é o toque das mãos,
Bem mais é o toque das mãos,
vai além dos dedos e do que eles apontam,
além da vocação de fala quando gesticulam palavras,
e que, quando tocam,
calam o grito e põe em silêncio a inquietação.
Mãos.
Casciano Lopes
Mãos.
Casciano Lopes
17.6.24
Texto por canalização xamânica
A vida não se explica apenas com o toque suave da brisa que sopra das montanhas quando se está na planície... Ela também se justifica quando se é a própria montanha açoitada por um vento forte, quando se é a areia da terra soprada pela ventania. A vida se multiplica dentro de cada um, quando por instinto, a escalada por nós se faz necessária, pra que do alto possamos nos ver melhor, e a partir da contemplação, nos enxergarmos maiores do que o pequeno gesto da tempestade que passa diante da vista de todos que nasceram pra entender a grandeza do silêncio que o mundo sabe fazer quando a chuva vem e quando a chuva vai.
Viemos pra nos vencer, pra isso, precisamos nos conhecer e conhecendo, nos apresentarmos ao mundo como carta aberta de aprendizado, onde possamos ler e sermos lidos, e lendo, aprendermos e ensinarmos.
O choro que lava os olhos de questões é o mesmo rio que corta as montanhas, que cheio de destino percorre a Terra, lavando e levando pelo caminho tudo o que precisa de novos olhares de respostas.
Nos sofás dos viventes, cabem as lágrimas dos 'nãos', mas também cabe o estio que o 'sim' provoca na face da alma, o lado da vida que não pode ser tocado por ninguém de fora, ...além do possuidor do riso aberto... ninguém pode; feito o sol que clareia o topo dos cânions sem que ninguém o impeça disso.
Então...
Nem sempre o que nos cala empobrece a vida, às vezes enriquece o tempo.
Casciano Lopes
Porque passa
Passamos a vida querendo dela o milagre da eternidade de tudo o que faz durar nossos aplausos, enquanto o seu milagre está muitas vezes na perenidade do silêncio das mãos que sabem acariciar sua passagem...
Casciano Lopes
15.6.24
Somos ainda questionários
Tenho medo de quem tem respostas pra tudo... acredito mais nos pássaros que conhecem de clima e migram antes do inverno, nas árvores que se balançam pra se livrarem das folhas no outono sem que alguém às avisem do calendário...
Quem sabe de tudo tem o hábito de saber sobre você o que, com muito esforço, só poderia ser imaginado. Não acredito.
Saber de mim... As margens que me comprimem o sabem mais, as paredes com seus portões me sabem, me sabem as madrugadas sem falas, as manhãs que amanhecem deitadas e já cansadas na minha soleira, as noites que apagam a lágrima que já nem sabe cantar a cantiga de ninar.
O sabedor das respostas do mundo, não passa de um amador e nada sabe dele e sua dor.
Tenho medo.
Casciano Lopes
14.6.24
Mimos trocados
Afetos são trocados porque o outro precisa ser afetado, modificado no toque que atravessa sua necessidade.
Tenho no meu imaginário uma carência, quase uma deficiência de cafuné na alma, daqueles gestos que parecem ninhos que põe a gente no piado do bem querer, e que quando a gente cala é porque dormiu sem querer mais piar por segurança... é porque de tanto afeto a gente pode tudo, até se mostrar pequeno pra caber no galho do colo.
Na vida
Desenhamos as letras em rascunho o tempo todo, buscamos acertar o traço, grifar importâncias e argolar o que não podemos esquecer.
Embora a borracha exista e nos sintamos tentados a usá-la, não nos é permitido, mesmo que por vezes algumas anotações sejam tidas como provisórias, quase nunca teremos tempo de passá-las a limpo.
Eu tenho um sonho....
Subir na montanha das palavras
de uma vida inteira,
e quando olhar para trás,
do alto enxergar mais livros
que páginas em branco.
Casciano Lopes
Vitrine em menino
Desde pequeno fui treinado; apontado, entendi sobre exposição e muito cedo, aprendi que meu telhado deveria me proteger, que desabrigados eram os que estavam fora dele, 'sem tetos', e por isso os dedos em riste e as mãos encarregadas de pedradas.
Hoje, ainda em mira dos que não possuem vidros envoltos em suas construções, sigo construindo transparências, porque sei que assim as pedras me atravessarão, enquanto eu, exposto como quem nada teme, permaneço ileso, em destaque.
Casciano Lopes
Ainda na escola
Falhei muito e em muita coisa, deixei de praticar o melhor por tantas vezes não entender seu caminho e quando pensei saber, era só a vontade travestida de sapiência.
Por canseira errei na subida e o trajeto tantas vezes foi na contramão de quem esperava minha direção. O fluxo trouxe a descida e lá embaixo, na pista por onde circula o tempo, me busquei na multidão dos ponteiros, tentando encontrar meus segundos apressados, meus minutos equivocados, afim de ajustar minhas horas pra que elas entendessem que o amor dita as regras e sempre ditou; eu que preciso me alfabetizar todo dia, pra escrever na pele suas palavras, pra que haja mais acertos na leitura que erros na interpretação do destino das minhas mãos.
13.6.24
Quando nos sentamos à sombra
Nunca faltou a proteção da forma mais plena de amor, a que cuida sem imposição ou condição, a que zela e se importa antes da interrogação.
Em tempo algum faltou o olhar pra tudo que passa, pra perenidade da flor ou pra fragilidade da lágrima, assim como pra fartura do sorriso, quando em promiscuidade com a boca, fez a casa abrir suas portas pra entrada de tudo que provocava cócegas.
Por fim, ainda não falta na cidade que construímos no outro e onde moramos, no sol ou sombra de nossa idade, a capacidade de descansar, sabendo que nunca faltou ou faltará o encontro diário de nosso compromisso... O outro.
Casciano Lopes
Para o eterno namorado que guardo na sombra da minha gratidão.
11.6.24
Não são só palavras
Palavras são interruptores que acendem a sala ou apagam o quarto... clareiam os cômodos com um toque de língua ou põe pra dormir no silêncio da boca adormecida, o ouvido da casa.
Casciano Lopes
10.6.24
Em obra
Tantos lugares que me cuidam
Tantas histórias que me constroem
...
Memórias de ouvir na vitrola dos ouvidos
Pedaços de mim nos álbuns de fotografias de meus olhos
Pessoas que dizem versos na minha boca e que restauram minhas ruínas com penas
...
Que se penso em parar a construção
Dispenso o pensamento pra não me negar abrigo e fujo depressa pra junto de onde me distraio com a reforma de tudo que não sei, mas que preciso aprender dizer.
Casciano Lopes
Tantas histórias que me constroem
...
Memórias de ouvir na vitrola dos ouvidos
Pedaços de mim nos álbuns de fotografias de meus olhos
Pessoas que dizem versos na minha boca e que restauram minhas ruínas com penas
...
Que se penso em parar a construção
Dispenso o pensamento pra não me negar abrigo e fujo depressa pra junto de onde me distraio com a reforma de tudo que não sei, mas que preciso aprender dizer.
Casciano Lopes
Depois das cinco
Quase amanheceu
Quando a noite quis ir embora
E a noite quis amanhecer
Ir embora
Amanheceu.
Casciano Lopes
Há jeito de florir
Os pedregulhos do caminho nada podem contra os pés que sabem riscar canteiros. Ainda haverá chão sob os escombros enquanto houverem acordos entre a flor e o caminhar das sementes.
Casciano Lopes
8.6.24
Vida em locomotiva
Na viagem encontramos o aço da bagagem, mas também o abismo das flores em mala de mão, onde aportamos do trem de ferro pra abastecer de delicadeza nossos vales e entender que não se viaja na dureza da pressa, mas na gentileza da pausa, assim como o partir que precisa da chegada pra seguir e o viver que carece do nascer pra morrer, todo dia.
Um sonho por favor
Vez ou outra me pergunto sobre a realidade, saio do sonho sem pedir licença e cometo o despautério da questão. Com as mãos espalmadas sobre o rosto, cometo a dureza da pergunta e nem sempre espero a resposta; volto pra casa, onde sonhar ainda me ancora na verdade, porque o que me dizem ser real, é só a mentira brincando de pesadelo.
7.6.24
Sinal de ocupado
Ocupe os espaços do mundo,
Ocupe a casa que mora,
Ocupe a vontade de ser,
Ocupe o corpo que respira,
a rua toda,
a vila,
a cidade toda,
ocupe.
Ocupe a casa que mora,
o parque do bairro,
a praça da esquina,
o banco,
ocupe.
Ocupe a vontade de ser,
a coragem inteira,
o abraço todo,
o olhar,
ocupe.
Ocupe o corpo que respira,
a Terra que inspira cuidados,
o outro que pede tempo,
o tempo,
ocupe.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Tu não sabes
Até que o relógio do sol te chame
e o corpo te clame, não sabes do dia,
nem da noite que em ti dormia.
Casciano Lopes
Apetite
A fome pede degustação, assim como a vida pede gosto, e é preciso gostar do tempo e saber: ele lambe os pratos onde somos servidos ao sabor que sacia a vontade de ter tempo pra lamber a vida.
2.6.24
Iluminação
Nas madrugadas da vida ou no breu das horas,
é preciso estar atento ao que nos ilumina...
Assim, jamais ficaremos no escuro da interrogação.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
1.6.24
Uma Tereza, mãe de fé
Não fosse o Divino em mim, talvez não fosse mãe... Ser mãe exige divindade.
Talvez meu altar estivesse ainda sem flores, não fosse o divino em mim.
Não fosse a fé sentada em meus degraus, talvez eu não subisse tão alto quando o medo balançou a escada.
Talvez os campos de girassóis estivessem cabisbaixos e o próprio sol deixasse órfão meu sentimento de fé....
Porque precisa estar aquecido o amor, e sem ele, morre a fé, e com ela a mãe dos filhos antes da carne e a filha de Deus antes do espírito.
Em gratidão à grata amiga Tereza
31.5.24
Leve... Que assim seja
Que eu leve a vida assim:
Sem o peso de saber demais; só o necessário pra que me cause incerteza. Pra que na dúvida eu continue aprendendo um pouco por dia; e que não se acabem meus dias só buscando certezas, mas que eu tenha tempo de rir com o compreendido. Que eu possa me distrair com penas e ventania. Por fim, que eu seja visto entre pautas nuas a espera de saber notícias da minha ignorância.
Casciano Lopes
O rio que corre já é quase mar
Quando o rio, sendo rio, diante de mim, como que rindo passa, eu, sem esboçar na face tempo algum, passo e também feito rio corro, rindo nos choques com as pedras e produzindo sulcos e veios no sorriso, por onde escorrem pedaços de rio, trechos de mar, e por sorte, praias inteiras onde posso ser visto pelo rio que corre pro mar, passar.
Casciano Lopes
27.5.24
Tardes construídas, somos todos
Fica nítido o tamanho da construção pelo tamanho das sapatas e o aprofundamento de suas colunas, assim como a robustez de uma árvore fala de suas raízes sem mesmo ser preciso revolver sua terra...
A tempestade trata como enxague qualquer um que habite em sua queda, no entanto passa o tempo, e o molhado por ele, estendido sob o sol seca e em brisa se reconhece até a próxima chuva, pra que de novo a construção abrigue, as raízes sejam testadas e as roupas da vida alvejadas.
26.5.24
Entre retratos
O sagrado está na vista, escondido em cada gesto de vento que toca a água que corre e em cada folha de árvore que paira, está em cada paisagem que finge esconderijo pra ser avistada.
Casciano Lopes
Plantão diurno
Quando amanhece dentro de mim,
moro todo na capacidade,
embora saiba do anoitecer.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
23.5.24
Poesia de bule
A poesia é tão danada que quando cai chuva lá fora, cá dentro ela canta, passa café, faz bolinho de chuva e espera passar quem a lê e a água pelo pó, que depois escorre pela garganta, lavando o nó e levando feito moinho a palavra pra outro lugar; dentro de mim.
Com passo
Daí o passo fez possível olhar quem estava na estrada, e olhando, pude ser visto caminhando... pude me ver no menino da calçada esperando a avó, no avô lentamente indo buscar seu pão, no passarinho arrumando o ninho da noite dormida, pude ver todos em mim e das esquinas que dobrei, guardei o passo e daí vi o que pude ver... no passo.
Tatear
A névoa cobriu a cidade
e a gente vai tentando entender
os caminhos quando ficam nublados,
procurando sempre evitar
quebraduras na alma.
Casciano Lopes
20.5.24
De ponto a ponto
As rasuras que cicatrizaram o texto que escrevi, modificaram a leitura dos que por mim passaram vistas, uns eram lenitivos e deixaram analgésicos entre linhas, outros, com borrachas tentaram apagar os pontos e borraram meu papel... em pele dita em bom tom sigo dizendo, escrevendo, cortando e suturando a carne atrás da palavra de tinta boa que cure definitivamente as velhas e novas formas de marcar a lida, tanto minha, quanto de quem me toca a escrita.
19.5.24
Composto
Sou uma mistura de tudo que me atravessou, desejos que dormiram lá em casa e compromissos que perderam a hora, mas também sou as alegrias que vieram sem avisar e as dores que foram embora sem se despedirem.
Sou todo modificado pelo relógio que pulsou no pulso que marcou o tempo como se soubesse passar.
Sou o menino que nasceu, um filho do vento que balançou a bananeira do terreiro e a corajosa tempestade que sacudiu o abacateiro do pomar, mas também sou a fragilidade da amora madura que cai do pé e se despedaça no chão, sou sua tinta que tinge o chão e que seca na brisa que sopra depois, por fim, tenho em mim pomares que alimentam, mas também desertos e profunda sequidão, onde o que me faz coragem é tudo que sou e que vive em mim mais que o medo.
Sou só contrição, construção, uma contração de quem nasce todo dia pra morrer toda noite sem perder o motivo que faz da junção de meus dias, a festa que atesta minhas idades.
Sou...
Casciano Lopes
17.5.24
O que importa
Há sempre alguém presente na experiência de atravessar a noite do mundo... Por mais que a caminhada exija passadas dispostas enquanto fogem os pés pra indisposição, a leitura do caminho alfabetiza o destino e entendemos que a viagem é atravessada também pela paisagem desconhecida, incluindo no roteiro, além de nós, um motivo, e é muitas vezes ele que nos acompanha na visitação do percurso que sequer queríamos pisar.
Convite de gente passarinho
Vamos sacudir as grades de nossas gaiolas, vamos pichar nossos poleiros, vamos incomodar os comedouros com o apetite de céu aberto, onde possamos apanhar a fome em voo livre e saciar as chaves com falta de portas.
16.5.24
Pra que viemos? Seguir a multidão?
Fui diferente quando me exigiram igualdade, quando quiseram me nivelar com a maioria fiz questão da minoria, e quando quiseram me pregar no sacrifício dos padrões, fugi pro lugar dos libertos, porque a opressão não está na construção sem qualquer padrão, está na cela do castigo das regras da perfeição, onde não há escolhas; e por não haver, logo não há liberdade de ser indivíduo capaz, onde não se pode construir pensamento e assim, o voo perde as asas e a vida seu maior direito... o de criar caminhos. O novo exige partida do zero e todo o resto, é vã repetição e perda de tempo.
Ação
Até que meus veios signifiquem passagens, escorrerei entre eles feito ribeirão a caminho do mar, e o sangue no corpo, correndo como que em mineral, fará portais em breu pra que a luz do tempo me faça correr.
Casciano Lopes
15.5.24
Riscado
De todas as cicatrizes,
as mais profundas
foram cortadas pela coragem
que precisei ter
quando a pele fugia da dor.
Casciano Lopes
Noite clara dos apagados
Sou como a cidade,
cheio de calma acesa
e de pressa dormindo na madrugada,
cochilando na calçada da espera.
Casciano Lopes
14.5.24
Quarto de rima
Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Jose Saramago, Cora Coralina, Manoel de Barros, Mario Quintana, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Mia Couto... São tantos!
Castro Alves, Luís de Camões, Vinícius de Morais, tantos!
...
Poemas em sentimentos com seus tinteiros, pensamentos com suas penas e um reflexivo mundo com seu papel em branco, morando em meu cômodo pequeno... Enchendo as linhas de minha mobília, ocupando as frestas da porta, se estendendo em varais como cordel a minha janela, cavucando o reboco de minhas paredes e colocando letras na mesa, na cama e na poltrona esgarçada do meu canto de morar. E é isso que cria dia em mim, é o que desperta a noite pra que eu entenda as vírgulas da poesia que é essencial pra chuva de fora, pra goteira de dentro, pra alegria tinta de dor ou tingida de pretensão, a sede, quando mata de água a vida que escrevo.
Casciano Lopes
Eu escorrido
Há um vertedouro em mim,
emoções contidas em sua vazão
e outras escoadas entre a alma e o corpo,
correndo pelo chão.
Casciano Lopes
13.5.24
Banho em primeiro olhar
Minhas referências beiram o açude
que beirava minha infância...
Minha primeira pessoa
aprendeu cedo a conjugar a água.
Desde então,
moro em rio onde tudo passa,
onde só represo o que vi menino
pra idade não levar na correnteza.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Ai
É preciso conhecer a dor pra medicá-la.
Mais que o remédio,
o conhecimento dosará a eficácia de viver...
Porque dói.
Casciano Lopes
6.5.24
Jardim de infância
Há que se cumprir a criança dentro de nós. Em cada névoa brincada, em cada névoa temida; a criança reencontrada.
A estrada da gente grande tem suas curvas e neblinas, tem seus medos escondidos e seus sustos no meio da pista... Não pode faltar a criança brincada, aquela que faz o giz desenhar uma porta que abre sorriso pra gente passar.
Casciano Lopes
Pés em prece
É preciso reverenciar os caminhos; eles se estendem diante dos pés, mas nem por isso devemos esmagá-los, o pisar precisa de leveza pra quando precisa voar, flutuar sobre o que não aparenta saída.
4.5.24
Pensamento
Pensando bem, eu não posso, por uma série de fatores alheios ao que planejei pra idade madura. Pensando bem...
Se for parar pra pensar, ficaria parado, absorto nas funduras das impossibilidades e mergulhado numa cadeira pacífica de fingido conforto.
...Por isso não penso, e sigo por um mundo bêbado apregoando minha desequilibrada sobriedade.
As mãos que seguram
Em mãos entregamos a vida, nascemos.
Em mãos nos colocamos, vivemos.
Em mãos criamos apertos, crescemos.
Entre mãos nos despedimos, morremos.
Em mãos,
parto e partir na mesma oração,
(re)parto e (re)partir na mesma obrigação.
Casciano Lopes
1.5.24
Por isso planta'ação
Sinto que a colheita não depende só do plantio,
mas também da rega,
da poda e do tempo do amadurecimento;
este último pede o olhar
pra que não se perca a ação em tempo.
Casciano Lopes
Bendita a vida que perfuma o corpo
Bendito o perfume que faz vaso ao buquê,
que dá conteúdo ao frasco do perfumista
e que desperta o apetite da flor
quando por ela passa um beija-flor...
Bendito seja.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
30.4.24
E os anos
Do que o tempo não foi capaz, prezo em saber:
que o que derruba o homem não é o choro constante,
é o sorriso distante.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Pessoas virão, pessoas irão, nós não
Temos todos novas chances, oportunidades de recomeço...
Nem sempre pra encontrar pessoas ou apertar nó fingindo laço com situações alheias à nossa vontade, às vezes o processo é estendido apenas pra que nos reconheçamos e então, compreendamos nosso endereço.
Vale
Nossos abismos esperam o nosso olhar, todos temos; profundezas que precisam de enfrentamento, penhascos que merecem visitação...
Parte nossa vive lá e se não ousarmos a descida, passaremos a vida sendo parte do que poderia ser inteiro.
Casciano Lopes
28.4.24
Travessia do mundo líquido
Minha expectativa não é chegar enxuto do outro lado do rio,
é chegar molhado de vida e encharcado de boa vontade.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
26.4.24
Ao lado
No final não importará quantas cadeiras vagaram ao longo da vida,
mas se você ocupou seu espaço interno.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
25.4.24
24.4.24
Meu mundo em visitação
Estive flertando com a despedida...
A casa era grande, o jardim e o quintal contavam com a minha disposição, como a vida que, tão imensa, esperava do corpo pequeno uma atitude pra caber toda.
Tempo marcado em que a agonia reclamou da finitude e a embarcação se agarrou às ondas buscando superfície.
E como num mar, eu, quase náufrago, sobrevivi. Desde então, velejar virou uma questão de honra, é o mínimo que se espera de quem tem das águas uma nova chance.
Prédio e lua
Quando ela vem recatada,
esgueirando-se pelas nuvens,
evidencia minhas rachaduras,
reformas e causas da tinta
com falta e sobra de tempo.
Casciano Lopes
14.4.24
Contém o que conto
Estou contido entre a lágrima da pergunta e o sorriso da resposta, entre o sono do descanso e a insônia do cansaço.
Estou preso entre o que solidifica meu olhar e o que evapora meu pensar, entre o pesar do que vi e a leveza do que verei, e em tudo isso, vejo de forma contida, o que calo e o que grito construindo uma passagem, mais de lembranças que de esquecimentos, e que cada dia mais é merecedora de mim.
Olhos de criação
Ainda que o caminho seja íngreme, ainda que a escada seja longa, ainda que haja mais chão que pés e que o descanso finja miragem... Ainda assim, seu olhar cria em mim a possibilidade, e todo dia me dá a chance de construção; da casa de abrigo, da rua de sonhar caminhada, do topo da vista... de onde se avista a morada e onde a calma ensina um jeito de chegar.
9.4.24
Porque o tempo
Dias se sentaram na soleira, pedindo pra pousarem as noites, esperando meu gesto de abrir a porta...
O tempo parece que exige casa aberta para construir memórias, e eu ainda continuo apostando na capacidade de me doer só, porque dói a casa das lembranças em quase morte quando fica vazia, e se cheia, me impede de ouvir meus ais.
8.4.24
Eles em nós
Todos temos povos nos contando seus tempos.
Todos temos, correndo em nós suas vidas.
Casciano Lopes
A queda da torre
Perdi a voz quando meninos e meninas despediram-se das portas de sua cidade, quando mulheres e homens tiveram os muros de sua cidade destruídos.
Perdi a voz quando sob escombros a vitrola não pode tocar a música preferida da cidade.
Por fim...
Perdi o lenço e a lágrima não pode nele ser dobrada, escorreu cidade afora.
Casciano Lopes
Perdi a voz quando sob escombros a vitrola não pode tocar a música preferida da cidade.
Por fim...
Perdi o lenço e a lágrima não pode nele ser dobrada, escorreu cidade afora.
Casciano Lopes
Persistência
A gente sempre volta...
Volta pras origens, pras prioridades,
volta das batalhas, das desistências,
a gente volta pro começo porque o fim não existe, só recomeço.
Volta pras origens, pras prioridades,
volta das batalhas, das desistências,
a gente volta pro começo porque o fim não existe, só recomeço.
Volta pro dia porque a noite acaba e depois pra noite porque finda o dia...
a gente é cheio de sempre, de volta, de ciclos sem fim e de finais de ciclos.
A insistência resiste e a gente insiste,
teima em voltar pro abraço que prometeu o 'para sempre',
em despedir do giro do mundo pra depois voltar pro mundo que gira,
é isso, como o mundo a gente gira e sempre volta.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
De alma então
O que se deita em minha mesa, em minha cama, em minhas portas e chão, em meu endereço, esquinas, ladeiras e decisão, não é feito de tristeza ou coisa assim, é talhado na alegria, no sabor aquecido da beleza de quem sabe ser coragem, e que se lança na minha boca como canção, quando pede vontade o coração.
Somos
Somos...
Mar
Ondas
Canoa
Vivente
Remo
Somos...
Proa e convés
Porto e navegação
Chegada e rumo
Somos...
Folha de carta
Dobra de tempo
Somos...
Coisa que passa, ficando
Que fica, passando.
Casciano Lopes
Mar
Ondas
Canoa
Vivente
Remo
Somos...
Proa e convés
Porto e navegação
Chegada e rumo
Somos...
Folha de carta
Dobra de tempo
Somos...
Coisa que passa, ficando
Que fica, passando.
Casciano Lopes
Elucidar
A luz sempre rasga alguma coisa
que teimamos em guardar
na sombra de nossa angústia.
Casciano Lopes
28.3.24
Ancestralidade e manto
Minha proteção vem de longe, de outros tempos, e os povos que correm em minhas veias entoam cantos que fazem dançar minha direção, não que seja fácil o passo, mas caminho dançado é bem melhor que chorado, e eu, no canto das certezas, vou pouco a pouco sarando minhas dúvidas e aprendendo a ser eterno no pouco tempo daqui, imperfeito, mas protegido.
27.3.24
Pés mesmo que de asas
Descansar não é ausência de tempestade,
é enxergar calmaria dentro dela...
saber esperar passar a tormenta,
sem deixar de acreditar no caminho
que aguarda os pés quando tudo passar.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
No compasso, intervalos
Desde que aprendi a florescer, passei por podas, mas aprendi.
Entendi que o coração precisou perder, vi que ele esgueirou-se por paredes solitárias e que não raras vezes, esqueceu de bombear a água do crescimento... não morreu pela umidade dos tijolos solidários e entendi.
Absorvi o vento que tangeu minhas folhas, tanto quanto acolhi o sol que produziu minhas ramas, e da chuva que lavou minhas raízes, bebi.
Desde que nasci, os batimentos atestaram a vida e ainda hoje, pelejam a florescência dela.
Inverso do verso
Tem solidão que a gente nem sente,
é tão grande, que ela é que sente a gente.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
25.3.24
Promessa que me fiz
Eu vou estar na fé,
sentado na confiança sempre,
porque dura é a descrença
e desconfortável o lugar da ausência de abrigo.
Tudo aquilo que acredito me faz teto,
e o que me tira o descanso
jamais me tornará um desabrigado.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Testemunho
Na minha vida tudo é milagre, nada do que foi e que hoje é, seria, não fossem eles... os milagres.
Alguns precisei operar acreditando, outros aconteceram por cima de minhas expectativas, e as necessidades geraram, em altar, a espera de tantos... milagres.
Assim como a própria vida eclode num milagre maior e a morte é o começo de outro, o intervalo desses dois tempos causa sonhos e pesadelos, gera ritos e ciclos, gritos e sussurros, clausuras e liberdade... Porque é disso tudo que são feitos os milagres.
Dos tempos
Ainda é possível o hoje, o que tenho, só hoje. O ontem todo dia se vai e o que vem todo cheio de amanhã, se vem... Passa correndo e eu só quero dele o que posso, e sei que posso, quando for hoje.
22.3.24
Rotina
É a vida... Nem todo dia é tempo de rede e água de coco,
tem os dias que o coco cai do pé com você embaixo e sem rede.
Casciano Lopes
Prova viva
Que sobreviva em nós o melhor de nossos dias,
que viva para sempre o tempo bom e o que fizemos dele.
Que perdure o toque de amor aos que necessitavam de mais tempo,
e que não faltem horas dispostas para contar sem pressa
o lado bom aos que já perderam a capacidade de contar.
20.3.24
Ponto de vista
Tudo é uma questão de olhar,
do olhar além de ver,
de sentir além de tocar,
de querer estar, além da palavra
e de saber o outro...
só por amar e aí respeitar.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
16.3.24
Lembrar tem gosto
Sabores afetivos, delícias que me recordam... momentos, quem sou, por onde andei e quem amo e amarei; a saudade tem mesmo cheiro, gosto e nem precisa de distância pra se justificar, precisa de amor pra medir a importância.
Memórias.
Os patês, sucos e saladas do meu Bem, que são os melhores da vida... Aliás, tenho saudade daquela melhor caipirinha que fazia quando podíamos nos dar ao desfrute. A quiche da minha nora, a torta de frango da minha madrinha, o churrasco do meu irmão, a polenta de tábua da minha amiga mais antiga, a jabuticaba do pé da fazenda que nasci, coxinhas! Hum... Amo lugares selecionados que nasceram pra produzirem as melhores e que me tornaram um apreciador especialista; coxinhas... Suco de laranja e misto quente de algumas padarias, pingado e pão na chapa de outras, queijo quente... O requeijão de corte da minha infância, o pão caseiro da minha mãe, ah!... a comida da minha mãe, o tempero dela, a sopinha de bolacha maizena no leite ao menor sinal de gripe. Ela...
A saudade... Pessoas, sabores, cheiros que trazem abraços, conversas, olhares, risadas escandalosas, choro sentido, riso contido, músicas novas e antigas compondo trilhas, desenhando trechos da vida. Mesas de encontros, amores servidos, perfumes em apertos de pratos, mãos, corações e em laços de para sempre, ela... Saudade que atravessa.
14.3.24
Arranjo em oferecimento
No silêncio da rosa é tecido um jardim inteiro, a seiva corre calada pelos caules do sustento pra não incomodar os buquês... que são tantos! Que nada discretos, fazem juras e agradam sem palavras os que da emoção viram vítimas mudas e perfumadas de encanto.
Também somos flores oferecidas no sacrifício da palavra, sustentados em nossos corpos que carecem de promessas, por vezes, só olhadas, mas que deixam um rastro do que se faz a vida... cumprimentos.
13.3.24
O objeto e o objetivo
É parte do processo a alegria, como é a tristeza uma ponte por onde se deve passar. Nada pode te atravessar sem deixar as marcas, nem um dia acaba sem que você saiba dele ao anoitecer.
Não é coragem fugir da verdade, assim como o medo também tem sua dignidade. É covardia mentir pra si mesmo pra sobreviver, disfarçando a vida como se pudesse enganar os fins.
12.3.24
Ontem também passa por hoje
Hoje, como em todos os demais dias, precisei me perdoar ao olhar o mundo da minha janela, porque ele também só renasce perdoando o passado, o que fez e o que fizeram dele.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Fuga
Passamos a vida fugindo da escolha...
Fugimos o tempo todo da ameaça de sermos quem somos, de quem viemos pra ser, de quem precisamos ser.
Trocamos tudo em nome da jura que fizemos ao outro, negando três vezes como ao Cristo, a promessa que deveríamos ter feito a nós.
Vestimos as armaduras que nos deram pra uma batalha que não era nossa, quando na verdade, teríamos que nos despir pra ganhar a guerra.
E a vida acaba, como qualquer coisa que começa, finda... e ao final, quando estamos perto de juntarmos as mãos ao peito, num gesto que deveria representar o dever cumprido, nos damos conta que queríamos mesmo é levá-las à cabeça, como quem diz: 'e agora José?'... E o corpo segue a sentença cumprida debaixo da terra, enquanto outros, aqui, assumirão o castigo das sentenças.
Casciano Lopes
11.3.24
Audácia molhada
A decisão que me tirou da inércia, não aconteceu em um dia ensolarado e de rosto encerado de sol; foi num dia de tempestade, de olhos de nuvens pesadas e de face toda molhada, que precisei decidir... embora turva a estrada pela lágrima da escolha, me causou obrigação definir.
O que não quer dizer que não doeu optar... mas não matou como fazer frente aos canhões da indiferença.
Sobre ter... Preciso
Tenho lugares favoritos, abrigos que me guardam com pessoas que me escondem da dor, falas que me aquecem como chás, risos que me transportam do drama pra comédia num passe de circo, pares de ouvidos que me sustentam na escuta como bancos sob pés de amoras, braços com mãos feitas de atenção que sabem fazer o alimento do abraço... Tenho lugares, pessoas que se tornaram lugares, lugares que não desistem de mim, e é por isso que ainda insisto em sorrir; porque o choro, embora exista, não sabe fazer colo, não põe mesa e nem cama, sequer provoca endereço...
A lágrima engole o lado engraçado da vida, e por isso... tenho lugares.
8.3.24
Águas de cantoria
É nascido em mim um rio que corta quem sou...
Cresceu nos fundos de uma casa de madeira da fazenda e corre ainda em mim, ainda me provoca cheias e devasta minha vegetação, ainda me causa solidão quando seca e me alegra quando renasce, e de novo brota das chuvas me trazendo frescor, tilintando seus seixos, equilibrando os eixos da ponte por onde passo, e onde paro pra admirar o curso de tudo que aprendi olhar, pra abastecer meu fluxo de idas, por onde anda o tempo.
Tenho dias de profunda calma e certezas, e outros de angústia que me enchem de dúvidas me transportando pra uma crise de identidade. Ah... não fosse o rio com suas correntes, talvez não fossem arrastados meus pedaços tristes e raivosos, pra que viesse a calmaria junto com as águas que me banham inteiro, e me deixam possível de abrigar feito leito, com seus trechos, com ou sem margens, mas capazes de transbordar o que nem cabe em mim, por isso corre, corta e passa, e eu... sou só berço de nascido, pra contar do rio.
7.3.24
É quase estar só
É nas madrugadas que os dias se mostram possíveis,
Casciano Lopes
que no silêncio observamos os milagres omitidos pela turbulência da tormenta,
que a vida se mostra capaz,
apesar da desistência rondar feito morte de sonho a capacidade de sonhar.
Casciano Lopes
Riscado dentro da gente
Nunca está distante tudo aquilo que amamos; temos parques morando em nós com suas crianças risonhas e seus adultos brincalhões, temos velhos brincantes e jovens que passeiam as alamedas, vivem as descobertas dos desconhecidos que se apresentam e nunca morrem os que emprestaram seu tempo aos bancos da escuta...
Nunca mora distante o tempo que demos e recebemos com o outro dentro, o que ganhamos das horas quando elas nos acomodaram quase que em caixinha de música, onde baila o que nos mantém vivos; o que vive dentro da gente.
5.3.24
O que consome
Que sejam cheios os pratos do mundo...
De gente, arte e abraço
pra espantar a fome que espanta tudo isso.
Casciano Lopes
Casciano Lopes
Minha sombra não é castigo
No fundo, no fundo a gente está aqui pra ser quem a gente é...
Passamos a vida tentando ser melhores que um 'Picasso', quando um 'anônimo' bastaria.
Lutamos pra ser fruta tipo exportação, quando uma nacional do final da feira, apalpada e depredada nos representaria melhor no mercado do mundo, onde nascemos e morremos pra mentira, pra que a verdade reine absoluta.
Este é o desafio: nos entendermos como somos, sem moldura e sem embalagem, sem lindos crepúsculos se nossas tardes pedirem tempestades. Precisamos oferecer nossas estações, aceitar suas condições, pra que ao final da experiência tenhamos, no mínimo, sido bons anfitriões de nós mesmos, porque é disso que se trata a vida... ser a pessoa que somos em nossa casa, em tempo integral, nas quatro paredes do corpo.
Casciano Lopes
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