19.10.16

Bastidor

No bordado da existência
é preciso entender que a linha é curta para tanto pano
e que é na junção das múltiplas linhas que o desenho cria forma.
Precisamos caprichar na arte
para que outros a queiram continuar.

Casciano Lopes

14.10.16

No balanço do mar

Já passei por abismos quase sepulturas e estreitas pontes como que linhas puídas furtavam meu passo...

Sobrevivi para dizer que de fato o que não mata nos fortalece.
De tudo restou a graça de poder dizer que ainda é possível acreditar, de que quando tudo parece terminar ainda pode se recomeçar.
Aprendi que os amigos são mesmo os irmãos que o coração escolheu e que os dedos de minhas mãos contam os meus, antigos e presentes que ainda dão conta de meu hoje.
Aprendi que a família é um patrimônio caro e que nos ais ou no cais é ela que põe a mesa, que seca a lágrima, que guarda a calma em tempestade até que se acalme.
Aprendi que só existe um amor capaz de abrandar a vida da gente, uma vez só ele acontece e será o suficiente para justificar uma vida inteira, um amor em forma de gente que cuida e encorpa a alma da gente e que faz da estrada algo coerente. Subidas e descidas compartilhadas em par de asas, gêmeas que sabem fazer possibilidades de voos traçados e orientados na troca de olhar.
Alma é coisa do verbo amar... amor, uma conjugação de mar, do amar quase sem dor, do doer e sempre amar.

Casciano Lopes 
Outubro 2016
Estrada 46
Finalzinho do primeiro tempo

Cigano sentimento leitor

É preciso amor
aquele que bate fora do peito
para segurar nas mãos do outro
e saber ler o que elas dizem.

Casciano Lopes

2016

O ano das relações provadas e aprovadas,
do estreitamento dos laços,
do apertamento dos frouxos nós,
do laceamento das líquidas palavras
e do encantamento do que de fato importa...
O amor sacramentado na ferida calada e selada,
no benzimento de um beija-flor.

Casciano Lopes

Batida surda

Nada perco com o silêncio,
depois que aprendi calar
descobri que as pessoas
são mais interessantes...
Era o meu barulho
que me impedia de observar.

Casciano Lopes

Brincando de gente grande

Que nunca se acabe
o sonho da criança
e que nunca
se desmonte seu brinquedo.

Que nunca se perca
os dedinhos que apontam
nem o horizonte apontado
seu vizinho ao alcance das mãos.

Da criança, da criança, da criança...
até da que vive em mim.

Casciano Lopes