16.3.24

Lembrar tem gosto

Sabores afetivos, delícias que me recordam... momentos, quem sou, por onde andei e quem amo e amarei; a saudade tem mesmo cheiro, gosto e nem precisa de distância pra se justificar, precisa de amor pra medir a importância.
Memórias.
Os patês, sucos e saladas do meu Bem, que são os melhores da vida... Aliás, tenho saudade daquela melhor caipirinha que fazia quando podíamos nos dar ao desfrute. A quiche da minha nora, a torta de frango da minha madrinha, o churrasco do meu irmão, a polenta de tábua da minha amiga mais antiga, a jabuticaba do pé da fazenda que nasci, coxinhas! Hum... Amo lugares selecionados que nasceram pra produzirem as melhores e que me tornaram um apreciador especialista; coxinhas... Suco de laranja e misto quente de algumas padarias, pingado e pão na chapa de outras, queijo quente... O requeijão de corte da minha infância, o pão caseiro da minha mãe, ah!... a comida da minha mãe, o tempero dela, a sopinha de bolacha maizena no leite ao menor sinal de gripe. Ela...
A saudade... Pessoas, sabores, cheiros que trazem abraços, conversas, olhares, risadas escandalosas, choro sentido, riso contido, músicas novas e antigas compondo trilhas, desenhando trechos da vida. Mesas de encontros, amores servidos, perfumes em apertos de pratos, mãos, corações e em laços de para sempre, ela... Saudade que atravessa.

Casciano Lopes

14.3.24

Arranjo em oferecimento

No silêncio da rosa é tecido um jardim inteiro, a seiva corre calada pelos caules do sustento pra não incomodar os buquês... que são tantos! Que nada discretos, fazem juras e agradam sem palavras os que da emoção viram vítimas mudas e perfumadas de encanto.
Também somos flores oferecidas no sacrifício da palavra, sustentados em nossos corpos que carecem de promessas, por vezes, só olhadas, mas que deixam um rastro do que se faz a vida... cumprimentos.

Casciano Lopes


13.3.24

O objeto e o objetivo

É parte do processo a alegria, como é a tristeza uma ponte por onde se deve passar. Nada pode te atravessar sem deixar as marcas, nem um dia acaba sem que você saiba dele ao anoitecer.
Não é coragem fugir da verdade, assim como o medo também tem sua dignidade. É covardia mentir pra si mesmo pra sobreviver, disfarçando a vida como se pudesse enganar os fins.

Casciano Lopes

12.3.24

Ontem também passa por hoje

Hoje, como em todos os demais dias, precisei me perdoar ao olhar o mundo da minha janela, porque ele também só renasce perdoando o passado, o que fez e o que fizeram dele.

Casciano Lopes

Fuga

Passamos a vida fugindo da escolha...
Fugimos o tempo todo da ameaça de sermos quem somos, de quem viemos pra ser, de quem precisamos ser.
Trocamos tudo em nome da jura que fizemos ao outro, negando três vezes como ao Cristo, a promessa que deveríamos ter feito a nós.
Vestimos as armaduras que nos deram pra uma batalha que não era nossa, quando na verdade, teríamos que nos despir pra ganhar a guerra.
E a vida acaba, como qualquer coisa que começa, finda... e ao final, quando estamos perto de juntarmos as mãos ao peito, num gesto que deveria representar o dever cumprido, nos damos conta que queríamos mesmo é levá-las à cabeça, como quem diz: 'e agora José?'... E o corpo segue a sentença cumprida debaixo da terra, enquanto outros, aqui, assumirão o castigo das sentenças.

Casciano Lopes

11.3.24

Audácia molhada

A decisão que me tirou da inércia, não aconteceu em um dia ensolarado e de rosto encerado de sol; foi num dia de tempestade, de olhos de nuvens pesadas e de face toda molhada, que precisei decidir... embora turva a estrada pela lágrima da escolha, me causou obrigação definir.
O que não quer dizer que não doeu optar... mas não matou como fazer frente aos canhões da indiferença.

Casciano Lopes

Sobre ter... Preciso

Tenho lugares favoritos, abrigos que me guardam com pessoas que me escondem da dor, falas que me aquecem como chás, risos que me transportam do drama pra comédia num passe de circo, pares de ouvidos que me sustentam na escuta como bancos sob pés de amoras, braços com mãos feitas de atenção que sabem fazer o alimento do abraço... Tenho lugares, pessoas que se tornaram lugares, lugares que não desistem de mim, e é por isso que ainda insisto em sorrir; porque o choro, embora exista, não sabe fazer colo, não põe mesa e nem cama, sequer provoca endereço...
A lágrima engole o lado engraçado da vida, e por isso... tenho lugares.

Casciano Lopes

8.3.24

Águas de cantoria

É nascido em mim um rio que corta quem sou...
Cresceu nos fundos de uma casa de madeira da fazenda e corre ainda em mim, ainda me provoca cheias e devasta minha vegetação, ainda me causa solidão quando seca e me alegra quando renasce, e de novo brota das chuvas me trazendo frescor, tilintando seus seixos, equilibrando os eixos da ponte por onde passo, e onde paro pra admirar o curso de tudo que aprendi olhar, pra abastecer meu fluxo de idas, por onde anda o tempo.
Tenho dias de profunda calma e certezas, e outros de angústia que me enchem de dúvidas me transportando pra uma crise de identidade. Ah... não fosse o rio com suas correntes, talvez não fossem arrastados meus pedaços tristes e raivosos, pra que viesse a calmaria junto com as águas que me banham inteiro, e me deixam possível de abrigar feito leito, com seus trechos, com ou sem margens, mas capazes de transbordar o que nem cabe em mim, por isso corre, corta e passa, e eu... sou só berço de nascido, pra contar do rio.

Casciano Lopes

7.3.24

É quase estar só

É nas madrugadas que os dias se mostram possíveis,
que no silêncio observamos os milagres omitidos pela turbulência da tormenta,
que a vida se mostra capaz,
apesar da desistência rondar feito morte de sonho a capacidade de sonhar.

Casciano Lopes


Riscado dentro da gente

Nunca está distante tudo aquilo que amamos; temos parques morando em nós com suas crianças risonhas e seus adultos brincalhões, temos velhos brincantes e jovens que passeiam as alamedas, vivem as descobertas dos desconhecidos que se apresentam e nunca morrem os que emprestaram seu tempo aos bancos da escuta...
Nunca mora distante o tempo que demos e recebemos com o outro dentro, o que ganhamos das horas quando elas nos acomodaram quase que em caixinha de música, onde baila o que nos mantém vivos; o que vive dentro da gente.

Casciano Lopes

5.3.24

O que consome

Que sejam cheios os pratos do mundo...
De gente, arte e abraço
pra espantar a fome que espanta tudo isso.

Casciano Lopes

Minha sombra não é castigo

No fundo, no fundo a gente está aqui pra ser quem a gente é...
Passamos a vida tentando ser melhores que um 'Picasso', quando um 'anônimo' bastaria.
Lutamos pra ser fruta tipo exportação, quando uma nacional do final da feira, apalpada e depredada nos representaria melhor no mercado do mundo, onde nascemos e morremos pra mentira, pra que a verdade reine absoluta.
Este é o desafio: nos entendermos como somos, sem moldura e sem embalagem, sem lindos crepúsculos se nossas tardes pedirem tempestades. Precisamos oferecer nossas estações, aceitar suas condições, pra que ao final da experiência tenhamos, no mínimo, sido bons anfitriões de nós mesmos, porque é disso que se trata a vida... ser a pessoa que somos em nossa casa, em tempo integral, nas quatro paredes do corpo.

Casciano Lopes

26.2.24

Há outro de mim

Ás vezes é preciso transpor quem eu acredito ser,
pra me encontrar, conversar comigo e remover o obstáculo
que não me permite envergonhar-me, causando mudanças.

Casciano Lopes

Arcanos

Vou remendando os danos, o esgarçado dos anos feito costureira os panos. Por mais que pareçam insanos os retalhos ou levianos os vestidos, sigo reconstruindo o que acredito, porque não estou aqui para agradar 'gregos e troianos', vou me vestir da minha obra e sei que sou só mais um entre humanos, que de remendos e em costura passa; não importa quantas vezes me vista diante da linha ou quantas me desvista diante da agulha... só um alguém que, se colocado com os soberanos, prefere os profanos em nome da nudez pronta pra máquina de costura do tempo.

Casciano Lopes

E a escuridão também era caminho de estrelas

Quero da boca o beijo, da lua a rua inteira, da beira a goteira, do lugar a paz e da madrugada uma noite de desejo.
Quero completo, não uma parte, sem anestesia o corte, pra doer e sarar em mim um céu, onde morre lua pra nascer sol, onde chove, mas também venta nas nuvens pra azulejar o voo das gaivotas, até das que voam em mim quando quero tudo, sendo só uma pista sem aviões.

Casciano Lopes

Pautados dançantes

Sei que o agito das águas põe a embarcação em serventia, sei que toda a construção testa a eficiência de seus feitores, sei que a boa calda exigirá também um bom doceiro, assim como sei que o mundo grande colocado na pequena rua que moro pedirá morador em movimento...
Pra tudo que gira ou dança feito a inspiração, será cobrado música e o que ela sabe dar como prova de vida... corpos em andamento.

Casciano Lopes

23.2.24

Verdade, faço questão

Sob que condições? A que preço e em que termos?
Ninguém quer saber, é bem mais fácil achar que o jardim brota do seu estado de flor ou coisa assim.
A meta sempre foi ser honesto com os outros e comigo mesmo, não fingir o que o espelho denunciaria. Nunca procurei a riqueza perene feito sabão em pedra, quis a brancura dos tecidos, esvoaçantes e sem vergonha alguma dos varais.
Quis não dever nada, quis plantar e, ao passear por canteiros, quis construir aromas como numa cozinha, sabores. Nunca pretendi roubar uma flor sem saber do seu caso de amor com o jardineiro e, por fim, quis a vida desprovida das regras e das grandes posses, quis pequeno no que me bastava e grande no que precisava dividir; amor por mim pra ter, pra ser o dono da imagem e do retrato ser mais que fotografia, ser história que valha a pena contar.

Casciano Lopes

18.2.24

Hóspedes e as chaves

Se dependuram no meu pescoço, me abraçam, me cheiram e abusam do meu estado frágil.
Puxam a cadeira, sentam à mesa, conversam com meus talheres, comentam os livros que leio e até me deixam em casa quando me querem por perto.
Bagunçam minhas aptidões pra liberdade, me sentenciam a estar só, me tornam econômico no sentimento dos abraços e me guardam só pra que eu pense ser possuído e possuidor...
Memórias... Póstumas e nem tanto, porque vivem em mim, dividindo quem eu penso ser, entre quem fui e quem nem sei se um dia serei, por causa delas, lembranças que moram comigo desde que se tornaram compulsórias.

Casciano Lopes

Fogo cruzado

Firmei velas nos meus lençóis pra não esquecer da afinação que seus fios produziam quando roçavam nossos corpos quentes, assim meio úmidos querendo qualquer coisa entre enxaguar o calor dos tecidos e apagar o ardor da chama.

Casciano Lopes

Arranjo de uma menina só

Então se levantou, arranjou vaso e colocou mesa, perfumou-se como se fosse ao mercado das moças, tomou posse de um cálice de tinto e se deixou ser paga por suas vontades na poltrona de canto. Não fossem suas ideias falantes seria um cale-se, pois o silêncio da sala nada pode com os gritos das flores.

Casciano Lopes

17.2.24

Saída pra buscar tintas

Dentro de onde não houver mais nada e ninguém, deverá haver ainda uma porta... você com a capacidade de carregar na mala o que juntou; olhos, mãos e pincéis de acreditar as telas dos corredores novos.

Casciano Lopes

Achar e depois achar de novo

Dormir é busca, acordar é encontro.
Trabalhar é busca, descansar é encontro.
Chorar é busca, sorrir é encontro.
Abraçar é busca, ficar é encontro.
Nascer é busca e viver é a arte do encontro.

Casciano Lopes

16.2.24

Contratempo

Em corpo de morar estamos todos,
querendo ser andarilhos
de um mundo que pede endereço fixo.

Casciano Lopes


Só porque vivo, ainda quero

Eu quero o direito de errar manifestado na tentativa do acerto, quero abraçar forte pro medo sufocar e depois andar sem rumo só pra fazer do destino uma dúvida capaz de realizar, eu quero ainda ver chegar na minha descrença um motivo de altar e no meu desespero um milagre pra contar. Quero só entender o choro pra poder explicar o riso.

Casciano Lopes

De tulipas

Talvez se houvessem flores nas palavras,
o silêncio não incomodaria,
pois o perfume exalado calaria a fala sem dor.

Casciano Lopes

15.2.24

Coador em flor

Quando me sento na minha varanda imaginária e degusto meu café imaginário de fazenda, estou de prosa com meus ancestrais e eles adubam a minha imaginação pra que eu floresça no manacá do quintal.

Casciano Lopes

Cochilos

Diante da demora feito sonho, sou só um menino com pressa feito pesadelo. Sonho demais e tenho agravos causados por isso, sou crédulo e quando me assalta o pesadelo, nunca estou pronto pra acordar sem sobressaltos; acabo vítima da incredulidade, desperto todo arranhado, e de novo, sonho acordado e até cochilando, porque não perco a mania de sonhar já que sonho não arranha. Das marcas que ele causa eu aprendi lidar, já da pressa de abrir os olhos não.

Casciano Lopes

Horas depressa

Pode ser que não haja a semana que vem,
o mês do aniversário, o final do inverno
ou aquele dia sem chuva.
Pode haver só hoje,
um dia quente de agenda espremida
entre raios e trovoadas de fim de tarde,
um dia sem data especial argolada no calendário da geladeira.
O abraço de ontem, como o ontem passou,
esfriou feito braço sem colo e o hoje caminha de costas,
tão rápido que, às vezes, nem se despede, só vira passado.

Casciano Lopes

13.2.24

Consciente?

Não, eu não tenho superpoderes; sou frágil diante da dor, áspero diante da injustiça, medroso diante da incerteza, agressivo diante da ameaça, intempestivo diante do cinismo, arredio diante da hipocrisia, insensível diante da tolice, indiferente diante da prepotência, irônico diante da falsidade, ardiloso diante do egoísmo, ácido diante da neutralidade, bruto diante da covardia, rude diante da preguiça e cruel diante da mentira.
Por fim, sou de carne e osso diante do tempo, passando por ele e querendo ficar, buscando sabedoria e iluminação nas suas vagarezas, tendo que lidar com minhas ignorâncias e sombras vorazes e cheias de pressa.
E na verdade, nessa disputa entre eu e o tempo, não tenho a pretensão de ser vencedor, sei bem que é dele o 'superpoder', só quero que quando eu terminar de por ele passar, ele, tempo, tenha de mim o que contar, porque no fim da linha pessoal cruzada com a dele, o que contará não será o herói que vendi pra mídia, será o quanto consegui com ele dialogar dentro de minhas fragilidades e atitudes nada heroicas, não escondendo minhas inconsistências, mas tendo honestidade com minha humanidade, sabendo ser um simples homem e um homem simples, que não passou impune pela experiência frente ao seu infinito tempo, mas que se doeu inteiro porque por ele passava.

Casciano Lopes

12.2.24

Dizer e não ter a vergonha

A vida pede conta, nada é sem motivo ou coisa assim, não  acaso que fira mais fundo que o acaso com que você tratou seus dias, não há corte que sangre mais que os provocados pelo seu desinteresse por sutura, não há combate mais letal que o da falência dos acordos de paz consigo mesmo, até antes da guerra começar, porque a palavra é implacável no golpe e não dada ao acaso, como não o é o silêncio das trincheiras, onde você guarda seu monte de ossos sem causas e recobertos de pele sem preço e que tem que saber cumprir os ditos, porque tão somente viver não é coisa assim, jogado ao acaso, feito palavra sem bandeira de cor alguma.

Casciano Lopes

Só meus

Foi quando olhei quem eu era, que me tornei quem sou, e todo dia me olho pra ter certeza e me ajusto mesmo que na recusa, porque aceitar me confere a convivência comigo, mesmo que incômoda e cheia de dúvidas, mas justa e próxima dos pedaços que um dia quis longe, mas que eram meus.

Casciano Lopes

11.2.24

De tempo marcado

O tempo passou por mim de forma tão delicada que se deixou ficar na minha pele, contando todo dia enquanto continua passando, que continuará em mim ficando.

Casciano Lopes


8.2.24

Sou da turma do riso frouxo

Eu quero continuar me desafiando, não em pular de paraquedas num voo livre... tenho pânico de altura. Quero voar no chão mesmo, em terra firme.
Levar meu corpo pra passear em cada pequena saída, sabe: ir no açougue e comemorar o dia, vibrar com o açougueiro num sorriso largo, demorar em cada esquina com apreço e mirar cada rosto que passar por mim com interesse, pra que todos compreendam de importância e saibam como eu, voar na capacidade de ser feliz com o muito que têm e não triste com o pouco que falta. Preciso me encantar todo dia com o que posso, e sei que assim, poderei me surpreender com a duração do voo...
Talvez "sorri quando a dor te torturar" foi um jeito que Chaplin encontrou de fazer graça, então, vou sorrir, a bengala já tenho.

Casciano Lopes

No varal

E sobretudo manter bem lavado, perfumado e estendido nosso apreço pelo amor, onde não se fere e nem se tem a intenção do egoísmo, onde o humano está acima da razão e o bom senso não agride porque desmentiria a evolução que precisa de grandeza, em corpo de gente pequena, pra ser forte.

Casciano Lopes

Devias ver

O amor foi flagrado num banco de praça apanhando o chapéu que o vento levou de uma cabeça branquinha. Depois foi visto desembalando um pirulito grande demais pro tamanho do seu ansioso pretendente. Foi fotografado arrumando os cabelos de uma dona de mãos trêmulas. E sem querer foi percebido retocando o batom de uma vaidosa sem espelhos do viaduto.
O amor é coisa assim; conta dinheiro pra quem perdeu a visão até das cédulas, mas não a do reconhecimento dele... amor.
É notado parando o trânsito pra travessia da boa hora trazendo vida nova em momento de chegada... o amor.
O amor é um pouco isso; afasta a dor pra longe, não sobrando espaço pro descaso. ...E tudo vira parto, vida em estado de nascimento.

Casciano Lopes

7.2.24

Ato e desato

Quando abracei, foi porque meus braços foram possíveis; quando contei histórias rindo delas, foi porque me fez cócegas a realidade; quando caminhei as ruas e me encaminhei pras campainhas, foi porque tinha nas malas mais notícias que incertezas.
Hoje que o chão foge de mim, que o monólogo me assombra quando esqueço o texto e que os braços mentem espaços entre eu e tudo que vi, me resguardo o direito de duvidar da dor, porque a certeza dela me mata mais depressa.

Casciano Lopes

6.2.24

Zen palavra

Se o que você tem pra dizer
não pode ser dito baixo,
calmamente e de forma doce,
então,
você não tem nada pra dizer.

Casciano Lopes


5.2.24

Porque falam de mim

Os lugares por onde passei ficaram em mim,
e também me contam porque me sabem.
São modificados pelo meu olhar,
suas ruas foram caminhadas por mim
e sua fotografia nunca mais será a mesma.
Suas paredes ressoam minha voz ainda hoje
e meus ouvidos gastos,
ainda reconhecem as falas daquelas calçadas.

Casciano Lopes

4.2.24

A gente e um adeus

Quando acaba, a gente se despede...
Do jantar esperado
Das férias aguardadas
Da festa planejada
Da praia quando chove
Das maternidades e delegacias
Dos tribunais e carnavais
Da feira quando finda
Da infância
Da adolescência
Da boca pequena
Do primeiro beijo
Da primeira vez
Das promessas quando perdem altar
Das cidades que viram desertos
Da serventia quando perde a mão
E por fim, a gente se despede da gente,
sem abraço ou coisa assim,
só com as mãos no peito, como quem diz:
- acabou.

Casciano Lopes

Impermanência viajando

A gente vai embora...
Da primeira casa em que nasceu, da primeira escola, daquela rua dos amigos, daquele bar que conheceu, daquele escritório que parecia eterno, daquele parque no caminho de tudo... A gente vai embora.
Dos dias felizes, daquela semana cansada, das horas tristes, do sepultamento das pessoas incríveis, dos nascimentos, das viagens com seus portos e aeroportos, das rodoviárias e estações, dos anos velhos, dos novos, do mês passado, do que virá... A gente vai embora, vai passar, a gente vai.
Das agendas, das prioridades, dos retratos na estante, das lembranças e seus buquês, dos motivos, do endereço que mora e até dos corações das pessoas que quase eram casa... A gente vai, embora.
E porque a pressa é da vida, assim como a calma é da ida, a gente vai pras origens e caminha de volta pra casa o tempo todo, com a ilusão da permanência convivendo com o seu contrário pra não gostar demais de ficar, porque a gente vai embora.

Casciano Lopes

3.2.24

ABC

Pra quem sabe ler a cartilha do mundo não passa impune: uma manhã sequer, uma flor deitada em fim de primavera, um vento que foge do obstáculo e encontra a fresta ou uma árvore que cresce fora de hora porque um passarinho passou por lá... Na leitura de quem tem tempo, tem menino triste rindo, porque sabe olhar além de ver, e tira do espanto um motivo de canto e entende que a alegria é coisa construída apesar dos olhos banhados... letrados.

Casciano Lopes

Matriz da hora quebrada

Como o tempo fui passando, deixei uma vontade e uma saudade penduradas em alguma badalada de sino e, outras tantas, fui deixando cair dos bolsos, no resultado do choque entre eu e ele... Tempo.
Fui marcando as horas feito relógio de catedral, fui trabalhando feito ponteiros sem ser, e quando me percebi, estava assim, sem corda, sem marcar a hora da missa e dizendo ladainhas fora de hora, querendo tempo sem ter, sem ser.

Casciano Lopes

Alerta

Se até o planeta precisa conviver com suas chamas e conter o seu calor pra que sobrevivam os campos e seus homens...
Preciso cuidar dos meus incêndios pra que viva a minha parte 'selva', pra onde me retiro quando preciso me perder.

Casciano Lopes


Quer ficar?

É quando calamos e não quando gritamos, que entendemos as letras ditas de silêncios.
Há uma idade em nós em que achamos que a razão tem toda razão, depois, já quase sem ela e com mais idade, percebemos a utilidade da emoção e a sentimos toda, e amando ser à 'flor da pele', só passamos, porque quem quer ficar busca exposição, quem quer sentir... não.

Casciano Lopes


Antagonista

Tenho medos em mim que são só meus, ninguém poderá, por piedade ou dó, por um segundo se apropriar... Medos, em mim.
Eles são conversadores e insistentes, e dentro das lendas que eu crio pra sobreviver, eles sempre querem os personagens mais ilustres, brigam por eles inclusive; me arranham todo, judiam da minha aparência, me causando nojo, além da vergonha de mim... Medos.
Querem destaque e pra isso, me assombram, me esperam nas esquinas dos meus cômodos de morar, se jogam no meu pouco chão de andar e me espreitam nos espelhos dos elevadores...
Querem ser protagonistas do meu prédio e eu ainda conheço as escadas, a saída de emergência e o caminho do subsolo; não posso matar o que adoece os andares, mas posso evitar os subterrâneos onde esqueço meus inquisidores... Medos.

Casciano Lopes

29.1.24

O grande encontro

Sou eu, a busca por mim que me insere todo dia na jornada e que me investe de curiosidade, me tornando capaz mais do que suponho, que move meus passos e torna meus braços aptos, apesar das noites que teimam em esconder os dias.

Casciano Lopes

Quimera

É solitário o caminho e, no trajeto, vez ou outra, encontraremos burburinhos e aglomerações que passam... porque nos nossos desertos nos tornamos inóspitos e, nas miragens de água, nos enxergamos potentes.
Lá no oásis final, no grande portal, o que não será alucinação foi o tempo gasto com o caminho; seco ou não, abastado ou diminuído, mas sozinho... Será verdade o passo, o traço feito, o laço dado no cantil em volta da cintura, que não perdeu a sede quando não foi delírio.

Casciano Lopes

Todos temos

A sombra que também é minha,
fica contida entre a dúvida e a certeza,
me provocando desejos que nem sei se são meus.

Casciano Lopes

Nota de falecimento

Morre pelo caminho...
A pele todos os dias
A paisagem que corre
A vontade que muda
A flor que cumpriu ser
A essência do perfume
A promessa da boca
A palavra quando emudece
... Morrem
Pessoas vivas e mortas, despedidas todos os dias, partidas de dor, da dor, de alegrias...
Partida é morte todo dia. Pequenas e grandes juras também partem, também morrem, o nascimento é coisa que morre, enfim, está tudo bem, desde que morra em mim a exigência de eternidade aqui, no mundo da perenidade; morremos todos de alguma forma, todos os dias.

Casciano Lopes

A cabeça ajuda

A agonia não tira você do buraco, ao contrário,
ela aprofunda a cova e te sepulta vivo num processo claustrofóbico.
O segredo é cuidar do pensamento em superfície,
mas com a pá nas mãos, e ao menor sinal de aterramento, cavar.

Casciano Lopes

Cuidado descuidado em silêncios resmungões

O agressor da rua não me conhece, não viu meu sorriso e nem riu da minha cena, não decorou meu texto, não sambou o meu enredo, não desmontou o palco de nenhum dos meus espetáculos, não montou a lona do picadeiro, não pintou meus olhos quando precisaram engolir o choro e, na avenida, quando o salto quebrou, nem de longe viu.
E talvez, no grande circo, por tudo isso, a face fica borrada é dentro da coxia, entre os pares, perto dos corações selvagens, que deveriam conhecer de harmonia pra que a concentração, antes do tempo, não se torne dispersão. ...e talvez a graça não precisasse sentar pra chorar.

Casciano Lopes


27.1.24

Entre dois pontos

Quando passam os dias fazendo barulho em minhas janelas, só penso que, como um trem, haverá uma estação de desembarque, e eu, passageiro que sou, viajo tranquilo então, sabendo que lá haverá uma plataforma com seus pombos e guardas, pessoas trocando apertos de mãos... Sei da faixa amarela, mas também sei dos trilhos que trazem pra perto o que precisa ficar e levam o que preciso deixar ir...
Tem algo musical quando vagões tocam um 'si' nas chegadas e partidas, quando já em mim caído, me rendo ao destino.

Casciano Lopes

Guardião

Sou um privilegiado
e não há ocasião
que me arranque o que herdei do tempo,
não por merecimento,
mas por cabimento
nessa experiência humana.

Casciano Lopes

Vejo um mundo

Sou um devoto do olhar que me foi permitido, não deste adoecido, e sim, do que enxerga por entre as frestas, do que consegue entre sacolejos, equilibrar o retrato do que importa, deste que apesar dos terremotos e sem a arquitetura graduada, consegue reerguer a cidade e colocar bancos na praça, pra neles se sentar e contemplar o vento que sopra a sombra, fazendo clarear as calçadas com seus passarinhos.

Casciano Lopes

Em tempo

Sobretudo saber que o tempo não é coisa de se contar em horas ou dias, ele gosta mesmo é de ser dito sem relógio pra demorar passar e com a pele arrepiada de quem conta, sem pressa, o que fez dele.

Casciano Lopes

Amanhã dependerá

No ano passado, ontem, na semana passada, ontem, no mês passado, ontem, passado...
Não posso viver lá e nem querer que aquele sol entre pela vidraça e perfure de luz a cadeira da mesa da sala, banhando de dourado a cena com as pessoas sentadas nela... cena.
O ouvido não pode se perder caçando as risadas soltas entre juras e promessas de 'para sempre'.
A boca não pode viver cantando aquela canção sob a pena de esquecer o que nem aprendeu das novas letras e os dedos desconhecidos da melodia não devem sofrer de câimbras por exaustão da busca de nota.
As pernas que precisam de destino e comandos e que não possuem olhos, precisam deles pra seguirem porque antigos palcos já perderam caminhos e com eles se foram... a bilheteria, o sapateado dos corredores, os aplausos.
As mãos precisam de disposição pra tocarem novos personagens, principalmente os que aguardam dentro do hoje, a oportunidade de serem aplaudidos; onde não morre o sol e onde a plateia independe de delírios pra brilhar, onde a verdade dispensa a garantia de sucesso porque entende que o que valerá no final, não serão apenas as salas cheias, será também o monólogo bem dito que ignorou a euforia e seus gritos...
Porque é fácil confundir a insanidade das palavras bêbadas com a coerência de um texto que a vida escreve em tempo real.

Casciano Lopes


Menino pequeno em mundo grande

Tudo era grande... a fazenda e sua gente, o pasto e seu boi 'Lorinho', a casa e seu rádio de parede, a novena e seu terço, o baile e sua sala, a cozinha e seu fogão de lenha, o forno e seu pão, o terreiro e sua paineira, a estrada e seu trator, o avô e sua charrete, a comadre e seu cachimbo, o moinho e seu alpendre, a benzedeira e seu carvão... o milho, a plantação, o poleiro, o rastelo, o canivete, o fumo de rolo, a camisa curta e seu bolso esquerdo de guardar o mundo, começando por amoras e seus pés grandes, de guardar menino em sua varinha sem condão.

Casciano Lopes

25.1.24

Desenho também gasta

Quando menino, no tempo em que minha caixa de lápis de cor era pequena e de seis cores, o mundo que eu pintava cabia mais cores e com poucos traços, as cidades eram erguidas e nelas não haviam ruas que não me coubesse.

Casciano Lopes

Pequenos quadrados

Quando tento encerar meu chão, buscando o brilho dos tablados... Não é pra impressionar os que eventualmente passam pra conferir o zelo; é pra que eu deslize com mais facilidade por meus cômodos apertados e consiga refletir em meus assoalhos, toda a circunferência da vida, que como o mundo, é grande, mas que precisa caber em mim, pequeno.

Casciano Lopes

Noturnamente

A ousadia da noite que chega calada, faz madrugar as dores e apaga as paredes do corpo pra que eu durma. Não sei se por canseira ou coisa assim, permito o sono e ouso sonhar enquanto durmo. Então amanheço... O que também é ousado.

Casciano Lopes

23.1.24

Adapte-se

A vulnerabilidade da vida nasce antes dela,
no útero, e permanece até a morte,
quando até o forte se deita e se cala pra sempre.

Casciano Lopes

Labirinto

Vai muito além da alegria... o riso.
Vai muito além da tristeza... o choro.
Ambos nos levam pro coma...
e nos deixam lá pra achar a saída.

Casciano Lopes

Tudo na palma da mão

Uma sala, um escritório inteiro; TV, câmera fotográfica, filmadora, PC, impressora, álbuns, vitrola, calculadora, máquina de escrever, telefone, fax, cd, dvd, disquete, LP, bússola, telex, lanterna, gravador, calendário, rádio, agenda, relógio, guia de ruas, mapas, despertador, enciclopédia, caneta, papel, arquivo, livros, jornais, revistas, pastas, selos e carteiros no portão... Bancos e seus sistemas, empresas e reuniões... A lista seria imensa!
O mais perigoso e desastroso é o silenciamento sem cabimento, mas que também cabe na palma da mão... Num aparelho de poucos centímetros, encurta-se quilômetros e também deixa distante o abraço, cada vez mais distante o afago, o olhar, o cheiro, o beijo do encontro, o lenço emprestado num gesto delicado, o colo do acolhimento... A audição fica comprometida, a leitura fica tendenciosa e a escrita que toma o lugar da fala, tem pressa e vira especialista de conhecimento nenhum.
Na palma da mão, o equívoco graduado, a valorização da ignorância e a validação da intolerância.
O poder do cancelamento, do bloqueio, do grito em caixa alta, da razão unilateral colocada acima do bem comum, a surdez que adoece a língua, que esquece das palavras gentis porque não as usa e por não usá-las, morre lentamente em curtidas e compartilhamentos a missão da humanidade de conviver e de praticar afeto e respeito.
Tem tudo na palma da mão, menos o aperto de mãos.

Casciano Lopes

Na barriga da noite

Djavan inicia uma canção dizendo: "cuida do pé de milho, que demora na semente".
E eu quero dizer da demora adormecida, aquela que descansa e espera em gestação.
Algo que se quer muito, precisa ser formado antes dentro da gente. Tudo nessa vida tem o tempo da semente, e o cuidado faz brotar o nosso pé de sombra, nosso pedaço de sonho de fazer caber nossa demora.

Casciano Lopes

21.1.24

Amanhãs livres

Quando ocorrem compressões dentro da gente; de toda ordem: veias e artérias, vasos e ligamentos, juntas e cartilagens, músculos e vértebras, ossos, tendões ou nervos; é quando a gente entende que é soltando que se liberta o fluxo da vida e não prendendo do lado de dentro... As mágoas, os arrependimentos, as angústias e decepções... Como disse Viviane Mosé em 'Poemas presos': "Palavra boa é palavra líquida/Pessoas adoecem de palavra presa.

Casciano Lopes


Silêncio do perfume

Quando eu fico cansado de tentar explicar a flor,
que não precisa de motivo, eu só acolho o jardim
que tem suas razões em falas sem palavras,
pra aprender o descanso que só a flor tem.

Casciano Lopes

Madrugada levantada em mim

Sei que de tudo, ficou a paz deitada no meu travesseiro, quando levantei e fiz um café pra conversarmos; eu e a calma... Porque ela também precisa aprender a ficar, afinal, a pressa vive na soleira da porta, se fingindo de ativa, mas sei que é agonia quando me grita, quase acordando quem descansa.

Casciano Lopes

Razão das horas

Cuide pra que não falte motivo pra acordar,
pra dormir tem motivo todo dia.

Casciano Lopes


19.1.24

Os fins justificam os meios?

Somos inteiros; início, meio e em processo de finalização.
Somos o que falamos ontem e o que falaremos hoje.
Somos o que fizemos na década passada e o que faremos na próxima... se houver.
Somos a birra da infância e a intolerância da velhice.
Somos cheios de passado que não se apaga, de presente feito de tempo acontecendo e de ambição por um futuro sem promessa de ser tempo.
Somos...
Ontem e hoje
Realidade e pose
Claro e escuro
Casto e impuro
Noite e dia
Poesia e lata vazia
Carroça e jumento
Paz e tormento.
Um conjunto indivisível de textos, contextos e pretextos com silêncios no meio, uma indizível obra que a gente passa a vida tentando vender como um sucesso de edição, sem saber que a morte pede conta, não dos volumes vendidos e sim, do que fizemos daqueles encalhados em nossas prateleiras.
Somos aquela dissertação que fica verdadeira na boca do espelho que nos viu e que talvez destoe da nossa palavra que viu o espelho.
Justifica?

Casciano Lopes

Posso!

Por onde andam nossas aptidões, nossas vontades e idas?
Sabe? ' Deu medo... vai assim mesmo'.
Onde?
Será que se perdeu no impermanente 'sim' ou se esbarrou na imponderável frieza do 'não'?
São tantas vindas, medos... tantas chegadas, medos... pra tão poucas saídas! Coragem...
Confunde-se facilmente com a falta dela... coragem.
Mas da mesma forma que o enfado facilmente leva os apelidos de canseira ou preguiça, a covardia se impõe pra vender medo e há quem compre, perdendo a valentia de ser capaz.

Casciano Lopes

Doutorando querendo diploma

Vivemos tempos de doutores da palavra... em que nossas falas estão sempre distantes das teorias dos informados, em que não encontramos audição calada e que nossa opinião é só um equívoco do pensamento.
Tempos em que a oratória das convicções roubou a possibildade das hipóteses e que o outro é apenas um incômodo porque diverge das certezas, uma ameaça.
Tempos em que as pessoas apresentam argumentos como se estivessem numa avaliação de 'TCC', apresentando suas teses pra uma banca avaliadora de curso, cheias de frases prontas e referências bibliográficas, autoras de normas que nada tem de compreensão do caminho que o ouvinte fez ou faz, porque estão ocupados demais na expressão dos seus interesses, colocados em rebuscados discursos que descartam tudo que não seja aplauso.

Casciano Lopes

Ainda que chova lágrima

Ainda que chova,
quero manter secos os meus calçados,
pra que os pés deixem mais poeira
que lama nas demandas dos dias.

Casciano Lopes


Lembrete

Pra maioria das pessoas são só coisas, pra mim são as vírgulas da minha história, pausas de que precisei pra respirar, aí coloco tudo à vista; nas paredes, nas mesinhas, no canto da sala, dentro de mim; entre meus guardados arrumadinhos e bagunçados, pra quando eu precisar lembrar de parar.

Casciano Lopes


18.1.24

Afetuoso

Os afetos
contam mais que a rosa afetada de sorrisos
quando num gesto vira presente.

Casciano Lopes

Atrapalhando o trânsito?

Viu como compensa a escolha do bem
no lado da rua da vida?
Tanto faz se ele estiver na calçada,
no acostamento
ou na pista correndo perigo.

Casciano Lopes

Considere o não saber

Sagrado
é tudo quanto me leva pra longe
do que penso ser.

Casciano Lopes


Eu, canteiro

São os verões maturando minhas sombras, são os outonos derriçando meus galhos, são os invernos brigando com meu caule e as primaveras me dizendo flores e espinhos que me fazem lavrador das minhas terras... estações.
À noitinha, quando minhas mãos em calos deslizam por meu rosto e alcançam a boca que calo, é quando trocamos silêncios, ficamos ali calados esperando a poda.

Casciano Lopes