29.6.11

Verdadeiro ou falso

Sano ou
Insanidades mais?
Mais...
Mais...
Insanidade é
Dizer-se sano
Somos todos
Esqueletos de insensatez
Escassos de lucidez
Só assim vivemos...
Homens insanos em mundo imundo
Sem sanidade.
Aos poucos
Construímos a falta ou sobra
Da moralidade, da insanidade
Individual, própria e sábia
São e pessoal só o ser insano.


Casciano Lopes

Caos

Onde vida e morte se aproximam
Nostalgia e querência de ontem
As filas se diluem em esperas fúteis
Em cartas inúteis se apraz a inteligência
Instalam-se
Faróis
Sombras
Gritos
Sono
Qualquer dormência
Qualquer infância
Ou imaturidade
Velhice antecipada
E dúvidas misturam-se a certezas
Fazendo palpitar um atropelo
Um flagelo de desejo moço
Um sussurro de velho torto
De torpe um pouco
De açoite mais um tanto
De muito caos.


Casciano Lopes

Tempo magoado

A árvore deitada ao chão
Conta nos galhos secos então
Que viu passar outrora
Na vizinha estrada sem hora
Um bando de animais ferozes
E muito menos velozes
Filhotes sobreviviam
Distintos coexistiam.
Desprenderam-se do bando outros
Que por teimosia, destino ou loucos
Decoraram caixotes com suas peles
Madames, em ombros de lebres
Conta que viu trepar em seu galho
Saguis, preguiças, quatis em chocalho
Que o fruto nascia farto
E que tinha nos ramos parto
De aves calmas
De raras palmas
Faziam-se sombras
Descansavam pombas
Que seu chão era rico
Antes do dia do fico
E que o verde enluarado abundava
Em amarelo ensolarado tudo dava
Quando caia a tarde
Antes que caia árvore.


Casciano Lopes




11.6.11

Trans

Vi s t a
In t e l i g e n t e m e n t e
Tr a v e s t i d a
Ro u b a
Im a g i n a ç ã o
Na t u r a l m e n t e
El e g a n t e.

Casciano Lopes

10.6.11

Sempre recomeço

Finito
Dia
Finita
Noite
Infinita
Existência
Eterna
Imortalidade.

Casciano Lopes

Quebre se for preciso

Quando sentimos o desconforto
Na nuca
O destempero
Na veia
O susto
Na testa
O medo
Nas mãos
A febre
Nos pés
A angústia
Na pele
A ira
Nas meninas
Dos olhos e neles
A desesperança
Onde o gelo
Molha a alma fria
Onde a montanha
Esconde a nudez
E a mornidão dos dias
Já não aquece a fé...
É hora de transgressão,
Do que dizem ser certo
E do que se esconde das certezas.


Casciano Lopes

Anjo Alisson

O que disse a mãe?
O que disse a tal sociedade?
Quando um anjo
Novato na terra
Pisou descalço
Um chão frio
Em inverno cortante
Desprovido de lã
Encolheu os braços
E esticou o olhar
Buscando o calor,


Solitário frio
Pele angelical trêmula
De abandono vil
De uma roxidão
Que a mãe não viu
E que a tal sociedade...
Fez que não viu.


Casciano Lopes



3.6.11

Ser imortal

A dor mais intensa,
Mais cortante...
É a ausente,
A distante,
A imaterial,
Fere o que os olhos
Não contemplam
Nem tocam
Atinge o que está fora
Do tato
Da audição...
A pequenez do ser
A infame existência
E a lúdica condição de mortal
Faz imortal o sentimento
De dor.


Casciano Lopes