Chegamos à vida com malas vazias, não prontas.
Ao longo das vivências de cada viagem, acumulamos suvenires.
Mais tarde precisamos trocar itens maiores por menores, alguns mimos precisam ser substituídos ou eliminados. Necessitamos espaço.
Na primeira etapa subestimamos a bagagem, dá-se um jeito, socamos na mala sempre um pouco além.
Guardamos falas, atitudes e são imensos os catálogos de cada experiência... Nossas e dos que nos cercaram, dos que nos facilitaram travessias e dos que impediram nossos saltos.
Mágoas e rancores tomam espaço fenomenal!
Na última etapa da vida, na reta final da viagem, perto do destino, é preciso liberar espaço, o excesso de bagagem impede o carimbo no passaporte.
Os mimos que colocamos na mala, então, deixam de ser espaçosos e pesados.
Passamos a catalogar olhares e gestos, são mais leves e dignos de armazenamento.
Descobrimos, por exemplo, que o riso e a gratidão validam a passagem, que os abraços seguirão no peito e fora da mala, que o amor incondicional impulsiona as rodas do transporte sem gastar energia poluente, que os largos ou contidos movimentos feitos no silêncio da verdade são admirados pelos condutores do veículo, que a generosidade paga o bilhete do embarque e que a vista do caminho deixa de ser turva quando espalhamos e não juntamos... Seja na mala da vida ou na viagem concluída.
Casciano Lopes