29.9.11

O balanço

Em todo caminho
Há um tanto de vida
Outro tanto de cores
Somado a um tanto de poesia.
Casciano Lopes

Noite contábil

Fim de tarde... De mais um dia...
Hora de somar os ventos
Para ver se forma tempestade.


Casciano Lopes

28.9.11

Locomoção

Veio esfregando
Como lavadeira
Seu chão de trilhos
Veio rebolando
Como vedete
Seu corpo longo
Veio chegando...
Suspirando cansado
Expirando ar quente
Abrindo e cerrando
Portas e bocas
Comendo e vomitando
Gente e um trem de ilusão.


Casciano Lopes

É difícil

Tanta dureza nas formas
Frieza nos alicerces
Amontoado de concreto
Ferros e esquadrias
Exposto em vidraças
Imposto em andares
Endurecida vista vertical
Embrutecida paisagem
Eleva-se sobre os pisos
Onde deitam-se ladrilhos
Frio mármore e seu povo
Em suas paredes pastilhas
Remodelam bandeiras
Trêmulas bandeirolas
Do capitalista e seu capital.


Casciano Lopes

O desconhecido

Seja quem for
Tem que trazer
Franqueza na alma
Alegria na carne
Perfume nos olhos
E liberdade nas mãos.

Casciano Lopes

Sempre vale

Já tive na vida...
Decepções, angústias, gratas surpresas
Saudade, fobias, alegrias
Medo de chuva, vontades, insônia
Tristezas profundas e rasas descrenças.
De tudo...
Valeu a pena estar vivo
Para ser quem sou,
Acreditar no que construí
E levar adiante aquilo que penso,
O que escrevo
E o que está por vir.


Casciano Lopes

Manifesto

A religião está dentro de nós
Os templos existem apenas
Para interesses capitalistas
E sustentação de uma falsa moralidade
Apregoada por uma sociedade hipócrita
Igualmente sustentada por um Estado demagogo.


Casciano Lopes

Um navegante

Navegando como quem acredita
Que abaixo das águas e sobre elas
Existe um mar de pessoas incríveis
Desconhecidas de minha poesia.


Casciano Lopes

Graça compartilhada

Em toda a graça há sempre
Uma porção de generosidade
E nela uma pitada
De amor humano.
Nesse amor encontramos tanto!
Tanto a razão
Quanto a emoção de existir
E na efêmera existência
Motivos mil para compartilhar
A importância de ter
E fazer amigos.


Casciano Lopes

"Brasil, mostra a tua cara!"

Até quando este país e sua gente
Tolerará a ignorância de alguns
E a intolerância de outros tantos?
Será em nome de uma lei falida,
De uma moral hipócrita
E de uma religião financiada
Por seus crimes brancos?


Casciano Lopes

16.9.11

Vestido sem querer

Vestiu com desinteresse
Seu terno azul
Com que desinteresse vestiu-se!
O corpo furtava-se do desejo
De vestir
De calçar
De ir...
Calçara o sapato preto
O que mais gostava
Portanto menos usava
Com que dificuldade
O vestiu...
Guardava-se como boneco
Para o desconhecido
Para o gelado caminho
Alinhado como para festa
Que não queria ir.
Empalideceu-se todo
Numa rigidez medrosa
Em prece nervosa
De destino vestido de azul
Para onde não queria ir.
Levaram-no obrigado
Deitaram-no incomodado
Fecharam-no numa caixa
E ainda jogaram terra
Por cima do desabrigado.
Agora desabrigado.


Casciano Lopes