30.10.11

4 X 4

Quatro por quatro...
Pode ser um compasso,
Pode ser um confronto,
Pode ser tração,
Pode ser um quadrado,
Pode ser um quarto...
O que prefiro;
Para dividir com quatro mãos
E quatro pés entrelaçados,
A atração onde
Quadrados se encaixam,
Em um confronto de compassos...
Um "de" quatro por quatro.


Casciano Lopes

28.10.11

Primavera noturna

A noite começa correr,
Vai adentro,
Vem de fora,
Vem entrando,
Botando pra fugir,
A luz do dia,
Trocando por lua
Meu miúdo coração
E florindo um jardim
Que penso ter.


Casciano Lopes

Lixeira da vida

Sextando

Houve um tempo
Em que as sextas
Não eram apenas
Não era o fim
Não eram só feiras.


Casciano Lopes

Água da vida

A vida é um simples portaló
Como a água que brota só
Que desliza e corre sem dó
Reta, curva, junta sem nó
Abundante, limpa, uma mó.


É água do mar que embala
Calma aqui e revolta acolá
Salgada, profunda a dala
Azul, verde, turva ou opala
Morada de náufrago que cala.


Precisa-se tão somente...
Boia presente
Descrença ausente
Prudência expoente
Alma coerente
E um bocado de sangue corrente.


Casciano Lopes

26.10.11

Necessária

Não precisa ser grande
Não tem que ser extra
Não deve ser roubada
Pode ser pequena...
A tal felicidade.


Casciano Lopes

19.10.11

A lavadeira de 79

Lá no fundo daquela casa
De madeira envelhecida
De assoalho guarnecida
Deixada para trás em 79


Havia uma madeira alva
Um pedaço de floresta
Da vista só uma aresta
Deitada sobre um toco


Tinha nome de batedor
Ao lado tinha uma lata
De 20 litros queimada
Ao fundo era só pasto


Antes guardava a banha
Por seus gravetos apoiada
Em cinzas se via a danada
Com mania de chaminé


Eu pequeno me recordo
Das roupas ali cozidas
Com remendos e vencidas
Que ainda eram espancadas


Na tábua de bater roupas
O som produzia alarde
Isso era toda a tarde
Trazendo ritmo a cantiga


Que cantava a lavadeira
E a roupa de roça fervia
Que depois a grama vestia
De roupa simples batida


No terreirão ou no portão
Enquanto o sol quarava
Ao largo o sapo passava
Da casa eu pequeno assistia


O calor fazia a função
A roupa surrada farpada
No arame dependurada
Em anil secava na brisa


E a cerca de remendos então
Cumpria seu papel fadado
Protegia o menino, o gado
Minha mãe e a vida de fazenda.


Casciano Lopes



Os terreiros

No som que atinge templos ancestrais
São Jorge ilumina e anuncia os quintais
A pele desfila sua cor toda em branco
E o povo agora já tem nome de santo
Vem guri, preto velho, moça alegre e pajé
Em meio a alecrim, arruda e guiné
Torna-se real barracão e coroa
Espada em punho luta até na garoa
Vestido em cores rodopia no lúdico
O banho de cheiro encontra seu súdito
O atabaque chama o moreno que senta
Seu som busca o menino que inventa
A terra batida já caminha sozinha
Colares e fitas desfila a velhinha
Enquanto os pés afirmam uma fé
As mãos acompanham o batido do pé
Mães e pais abençoam o povo que pede
E a África povoa o que já não se mede.


Casciano Lopes

16.10.11

À mostra

Quando roxo
Esconde lilás
Faz marrom
Fugindo do bege
Pinta vermelho
Amordaçando o pálido
Chega de branco
Enegrecendo aos poucos
Só põe preto
Se lhe falta rosa...
Solitário.


Casciano Lopes

Colorido riso

Riso... como ri...
Quando se ia
Quando se vinha
Quando se ria
Quando se via
Rindo se esvaindo
Saindo
Indo
Vindo
Sorrindo
O palhaço
Em tintas se coloria
Amedrontando rindo
A dor que já não doía.


Casciano Lopes

Velhos tempos

Os anos que passam
Curtem o velho vinho
Bebem o antigo homem
Recobram memórias
Refazem os dias
Relembram amores
Refazem caminhos;
Na taça das décadas
Em sinuosas escadas
O passado se esfola
Sangrando saudade
Dos tempos de escola.


Casciano Lopes

14.10.11

Medo... O personagem

O medo é um cidadão desonesto
Afana o que não lhe pertence
Sonega só o que lhe convém
E omite dizendo mentiras
À mente covarde de quem acredita.


Casciano Lopes

Galhos e raízes

Caiu a tarde sem pressa
Como um outono qualquer
Esvaiu-se em folhas
Restando raízes na noite.


Casciano Lopes

Paisagem da varanda

Lá no alpendre
Da velha casa
Onde cachimbos
Não cospem mais
Onde o gado
Já não chega à porta
E onde compadres
Se esqueceram de voltar
Há uma paisagem
Feita artista
Natureza morta
Que a tarde trouxe
Acompanhada de uma dor
Sem água na lágrima...
Seca.


Casciano Lopes

Formigueiro

Migra
Imigra
Emigra
A
Formiga.

Casciano Lopes

Lapela

A flor que brota em desalinho
Que desabrocha a beira do caminho
Veste vinho
Põe marinho
No noivo vestido de linho.

Casciano Lopes

Seguindo

As vezes caminho
Sem tempo
Pois o que marca
O tempo
Não me permite
Parar.

Casciano Lopes