Era uma gaveta velha de fundo escuro
De dentes gastos que rangiam à ordem de abrir
Chamando atenção para si
Exalava seu perfume de papéis amarelados
Um pequeno quadrado, envernizado e gasto
Puxador desparafusado e penso
De assoalho bambo e laterais frouxas
Que ainda guardava o gosto da última demão
Único compartimento de uma ilustre pesada
De três pés e um quarto emprestado
Sobrevivente do êxodo mobiliário
Das coisas do tempo retirante, esquecida
E no miolo da esganiçada centenária
Um relógio de bolso esquecido de continuar
Parava a hora de partir sobre uma carta
E uma foto do neto que a abria.... gaveta
O que a carta dizia...
O neto não disse.
Casciano Lopes
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