31.1.15

Infanto sumidouro das cidades

Na calada da noite quase nua
Na calçada com a lua, quase rua
Uma crua criança recua
Calada insinua fome, não era mútua
De posses só a ausência era sua.

Casciano Lopes 


30.1.15

Entre lobos

Quando desço a ladeira do mundo
Sou terra dividida, poeira soprada
Pedra rebolada sem quina para estancar
Água sem rumo certo fugindo de lobos e suas bocas

Quando subo a ladeira do mundo
Sou o próprio céu, estrela vira alimento
O bruto pedregulho assento e a terra
Cabe na palma da mão calando os uivos.

Casciano Lopes

Colônia poesia

É a poesia que me convence
Sua letra que me investiga
Sua pele sempre nua que me veste
É achar que não posso tê-la
Que faz de mim um perseguido
Pelas ruas brancas, sem rabiscos
Que ela insiste em povoar
Com gritaria de criançada
Com marmotas na calçada
E eu colono, obedeço.

Casciano Lopes

29.1.15

Cordas em caps lock

Quando um buraco de agulha
Me alargo para passar o fio
Se arco da porta da cidade
Me abaixo para estancar o rio
E assim vou dizendo em maiúsculas
O que calaram os minúsculos.

Casciano Lopes 

Repercussão


O esculacho da lavadeira

Casciano Lopes

Sou a tábua ensaboada do riacho
Sou o surrado da roupa no agacho 
Sou a cantoria fervendo no tacho
A grama e o farpado escracho.


Que todo mundo lia


No buraco da fechadura


Rua de explicação

Se na esquina da menina houver bancos
Sente-se e espere chegar a mulher
Retas perguntadas, rotatórias duvidadas
Respostas em intersecções
...E então entenderá onde se esconderam as paralelas
Antes que em curvas de pedradas se perdesse.

Casciano Lopes



Meados da poesia e minha metade

Em meio aos meus meios
Emendo-me de seus inteiros
Remendo-me dos seus meios
E de sua mania de inteirezas...

Casciano Lopes