21.2.20

Carnaval?

Vou pular no samba....
Sem arquibancada
Sem avenida cheia
Sem comissão de frente
Talvez tenha as cabines...
Julgadores, enfim
Independente do enredo sempre tem.
A evolução da harmonia, composição...
É de autoria da vida
Cabe-me executar cada passo com graça
Feito mestre-sala
Reverenciando a bandeira do tempo...
Sim
O desfile o tem
Preciso cumprir.

Casciano Lopes

Para meu Carlos com amor incondicional

Hoje quero ficar sem nada...
Sem pele vestida
Sem face maquiada
Sem mãos empanadas
Sem olhar empalhado
Só alma nua
... Só alma
Essência Divina
Pura...
 
O momento pede
A calma comunica
Só alma se anuncia
Boca nem balbucia
Quando o coração pronuncia.

E eu desvestido para te acompanhar
Aprendo todo dia
Com que roupa que eu vou...
De humanidade sem deixar de ser divino.

Casciano Lopes

18.2.20

Peça devagarinho

Que a caneta se arraste
Ao menos um pouquinho
E se por descuido ou desalinho
A folha que se empresta, se afaste,
Puxe-lhe a orelha de cantinho
Castigue com assento um banquinho
E dedilhe fala em tinta o que pintaste
Se for de verso tua vida vira caminho
Se de diário talvez um burburinho
Mas importa dizer do viver ou desgaste
Da palavra que há de ser guindaste
Embora hora espinho, hora passarinho
Convivem... Contraste.

Casciano Lopes

11.2.20

É durante o caminhar...

Me doeram as pernas,
as impossibilidades.
As negativas e as limitações.
Mas até hoje doem as interrogativas
de quem não sabe nada de minha estrada...
E o que faço?
Sigo encantado uma jornada
onde aprendo e evoluo a cada dia,
até porque não sou daqui...
E ela, é a estrada,
me leva pra casa...
Já a dor, deixo no caminho pra transmutação.
Não posso ir além com um peso que não é meu...
Busco a leveza para que as asas se adaptem ao voo.
Esses que adoecem já não podem me adoecer,
caço jeito,
calma e alma para encantar-me.

Casciano Lopes

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Saber um olhar

Tive que aprender muito rápido...
Ficar mais sentado,

mesmo quando a vontade me pedia chão de caminhar.
Ficar mais calado,

mesmo quando a história me exigia palavras.
Ficar dentro de meus pequenos quartos,

mesmo quando a casa grande do mundo pedia vistas e visitas.
Ficar olhando a valsa da vida

e saber que os olhos bailam se a salsa e o samba
perderam o compasso em mim.
Ficar... Ficar...
Não na estação de esperar o trem,

mas nos trilhos que transportam o tecido da vida.
Na poesia de bordar,

viver e no olhar carregar o necessário para não ficar...
Nem aquém
Nem além
Aqui e agora é o suficiente
Mas em todo tempo sabendo de lá
... Todo tempo sabendo.


Casciano Lopes

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5.2.20

Canal lacrimal

De onde vem a chuva que lava em choro toda a rua?
Que cobre de vermelho os telhados e de verde as árvores outrora pálidas?
Não viria do mesmo canto por onde escorre chuva no canto dos olhos?
Uma lágrima que cai na cidade pode ter remetente idêntico, dentro dos olhos,
embora tenha destinatário diferente quando chove todo o rosto em busca de seu leito.
O rosto é um mundo pra lavar,
floresta pra aguar e o chão bebe sedento o que não dá pra segurar.
E a cidade?
Banha-se toda numa lágrima a despencar.

Casciano Lopes