18.2.21

Quando me chamarem...

Quero grafitadas de tempo 
Todas as minhas casas
Amanhecidas todas as minhas janelas
E cheias de sol.
Anoitecidos todos os lençóis
Onde repousou a preocupação
Alvejadas as toalhas de minha mesa
Onde os pratos expuseram a alma
E que destrancadas portas abram passagem
Para os que buscarem:
Banho de cores, vista de cheiro ou teto de luz.

Casciano Lopes

A poesia acontece na vida...

Ela vem na garoa de um sábado de carnaval
Num sol que deixa dourado arbustos verdes
Numa lua tímida que desenha nuvens no teto da noite
Num vento que desarruma as cortinas da sala
Numa luz que invade a cama de dormir
...
Cobrindo corpos de dia
...
Às vezes ela se senta e põe-se a escrever letras,
mas via de regra ela acontece do lado de dentro
E sem cadeira ou palco, sem tinta ou papel...
Adora permear pessoas que se unem para amá-la...
Neste caso, fundem-se e viram escrita.

Casciano Lopes

Em espreita... A prosa

O medo existe...
Conselheiro de cautela
Pode ser cravo na lapela
Ameaçador de caminho
Pode ser jogar a rosa
E guardar o espinho.

Casciano Lopes

Obra do tempo

Hoje as lembranças alimentam...
É a refeição pastosa da boca
Desprovida
Saudosa...
E a vista da casa de morar
Eleva o homem faminto
Ao estágio de saciado
Embora...
Falte
Descobre-se
Na sobra de memórias
A completude.

Casciano Lopes

Liga de sustentação

No edifício de morar o homem
Moram as ausências
As distâncias
As longitudes e latitudes todas
As adormecidas corredeiras
As datas com suas horas
Folhinhas de calendários e suas bodegas...

Mas também moram

Desfiles em pontes bambas
Ruas inteiras com carta e carteiro
Avenidas e cerejeiras
Um menino arteiro
Uma fração de vida inteira.

Casciano Lopes 
Não-carnaval/2021







Arco-íris

Um tímido laço

Contorna o céu

E eu como admirador

Entendo de presente.


Casciano Lopes

Oratório

Ainda que te seja
Imposta uma descrença tal,
há um reservatório
De credulidade na dimensão do ser 
Só acessado com a consciência da grandeza
Da divindade que vive em nós.

Casciano Lopes

Papilas sutis

Eu não posso muitas vezes fisicamente estar...
Mas meu paladar de alma é aguçado.
Posso sentir com intensidade.

Casciano Lopes 

Faz parte da cura

Até os limites escondem curas.

Casciano Lopes
Pode ser uma imagem de uma ou mais pessoas, céu e piscina

Nuvem que assina

Acima de nós
Além do querer
Acima de qualquer corpo
Além de qualquer devaneio
Acima dos sonhos
Além dos pesadelos
Existe um portal com arte
De passagens azuis
Com tapetes brancos
Um abrigo feito teto de luz
...
O que abraça o humano daqui
É o laço de céu que o protege.

Casciano Lopes

14.2.21

Nos bailes do querer

Descobri que a vontade de dançar
é mais importante que poder dançar...
Tantos podem e não dançam,
não tem a vontade.
Minha cadeira está vazia sempre,
a vontade cria os salões por onde rodopio.

Casciano Lopes

Escada e páginas

As pedras de nossos degraus
podem ser usadas para decorar a história,
assim quando cansarmos,
poderemos nos sentar e ler nossos capítulos...
Desvendar a caminhada.

Agora,

pode-se afanar a lealdade das pedras
e desafiar ou subverter o próprio livro,
isso diminui os capítulos e desmerece a escada...
Sem história talvez precisaremos de empréstimos
ou outros afanos.

Casciano Lopes

Desconhecida eternidade

Eu teria motivos...
Pra desistir talvez.
Mas escolhi o desafio
E quem assim escolhe
Há que viver como se fosse eterno.

Casciano Lopes

Essa luz

Essa certeza na vista
Essa brisa no espelho da tarde
Essas cores batendo na porta
Prometem um novo tempo
As vezes só um desconhecido
... O tempo.

Casciano Lopes

Dentro do Eu

O que abre a torneira da vida
muitas vezes é nosso reflexo
que sabe mais de nossa sede
que o ressequido corpo
admirador do espelho.

Casciano Lopes

Livro devagar

Vou sem pressa
Sei que a bagagem por um lado aumenta
Porém, também sei que diminui
O que ainda possuo carregarei com leveza
Para não esvaziar demais a malinha de mão
Seguirei acomodando os dias
Dentro dos meus capítulos de bolso.

Casciano Lopes

Possível em vertical

O bom humor e um belo sorriso
Ainda despe as dificuldades
E desmonta a carranca do não.
A calma põe no colo as impossibilidades
E a faz dormir...
O impossível sai então do sonho
Quando isso acontece

Casciano Lopes