11.4.16

Com o tempo...

Perdemos as mãos que seguram os primeiros passos
Desapegamos do amigo imaginário
Esquecemos das cantigas de roda
Fugimos dos contos de fada

Ganhamos carteiras escolares com novas personagens
Vestimos novas roupas e obrigações
Conhecemos um mundo frágil e virtual
Recebemos bilhetes para a competição

Enquanto...

Desaprendemos a essência
Descaracterizamos as lembranças
Obstruímos as pontes do natural
Roubamos de nós mesmos a sutileza

Alforriamos a gentileza
Degolamos sem piedade a caridade
Linchamos em praça pública a solidariedade
Comemoramos a maioridade das inferioridades

Quando...

Percebemos a distância percorrida na estrada
Avistamos proximamente a chegada da descida
Fincamos a bandeira da fisicalidade no topo
Lamentamos o momento se não possuirmos uma

Declinamos desembestadamente ao inevitável
Passamos pelos dentes perdidos
Sofremos na carne as doenças dos que amamos
Cumprimentamos de perto a distância de tantos

Finalmente...

Alisamos a cabeça clara ou desprovida
Fuxicamos os bolsos para proteger o que resta
Comemos o possível porque o impossível já não cabe
Alimentamos a saudade do que se mostra distante

Fingimos vida útil para o Tempo
Iludimos as memórias que se perdem com o tempo
Perguntamos o tempo todo para o Tempo sobre o próprio tempo
Suspiramos, por derradeiro, aprendendo que tempo não gera tempo

Ilusório tempo.

Casciano Lopes

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