30.6.17

Recorte de globo sem rima - Poema nº 1111

O que fere o mundo de morte
Traz nos punhos algo pior que esgrima
Não tem no rosto nada de sorte
E nem nas mãos lauda que anima

O que mata o mundo sem norte
Não usa pois não conhece a estima
Faz da luta fugitiva sem passaporte
E do planeta uma casa sem clima

...A ganância sem aporte
Que se faz forte
Que o pobre lima
E a terra subestima

...A ânsia sem com quem se importe
O pacto e seu consorte
Que lavra do menino a sina
E empobrece a tela de uma obra-prima

Homem...
Sem porte.

Casciano Lopes

21.6.17

Profeta da rua

Se posso obstruir o caminho de alguém com xingamentos ou rótulos, também posso abrir passagem com elogios e delicadeza.
Filho, anjo, amado, entre outros, são adjetivos que moram na gentileza e as portas que ela abre jamais se fecham diante da aspereza.

Casciano Lopes

Das leveduras

O que fermenta a massa do outro
talvez encruaria a minha,
só fazendo pesar a viagem e a bagagem.

Casciano Lopes

Impresso confesso de certidão

Na palma da lua
Ou nos dedos da rua
Quem sabe nos braços da grua
Nasça um menino por uma mão tua
E sem nome na pressa, na prece tão sua
No verso da reza escolhas Poema e na linha tatua.

Casciano Lopes

Atemporal... A poesia

Que a poesia justifique os meios
Afinal sou o meio
É só do que lembro
E do que lembro sei
Que o fim ou começo
Ou que no começo do fim
Só a poesia contará
O que esqueci de mim.

Casciano Lopes

20.6.17

Papo de passarinho - Entre ninho de voar, galho de ficar e céu de caminhar

Todos os dias você pode escolher ao acordar...
Pés no chão ou asas pra voar?


Casciano Lopes

O incalculável existir

O que sobreviver de mim...
Largado ao descuido
ou cuidado pelo apego,
será sempre uma ínfima parte do que fui
ou uma fração dentro do tempo que serei,
tudo colocado na equação do eterno,
do que não se mede.

Casciano Lopes

16.6.17

Calada mão

O que cala também compõe
Não é porque calado não canta
Que não encanta.

Casciano Lopes

Riso espelhado

A alegria maior está no outro
O que está em você é reflexo.

Casciano Lopes

Um poema de mundo mudo

Uma letra muda
Um perplexo silêncio
...Um passarinho sem ninho
Deixa em luto um poeta
Sem poesia a caligrafia
...Um menino despedindo-se da pipa
Emudece o céu no bailado do vento
Desmerece a terra dos pés descalços
...E a poesia perde a fala, a roupa e cala.

Casciano Lopes

12.6.17

Sensação térmica

Moram no mesmo abraço
O vento que uiva lá fora
A mata encoberta de nuvens
O céu envergonhado de cinza
O frio que abraça o endereço

Sou eu...

O interessado
O braço dado ao abraço
Dono do abraço endereçado
Dos entrelaçados céus que teimam
...Abraçar-me.

Casciano Lopes

Assobio ou assovio?

Quem assobiar pode assoviar?

Apenas sei que nas frestas
De minhas janelas trancadas
Vazam uma melodia ventada
Fazendo assobiar minhas brechas
Enquanto assoviam os panos nos varais
Dentro de meus quintais em festa
E o cifrado vento apara as arestas da floresta

Enquanto eu... nem pio pra não atrapalhar.

Casciano Lopes

Texto e contexto

O avesso diz ao direito
de sua beleza
que por sua vez
só acomoda a mensagem.

Casciano Lopes

9.6.17

Ditado de compoteira

Que a vida surpreenda
Que o doce atenda a encomenda
E que no fim do doce ou no fundo do tacho
Saibas dizer da receita para que o outro aprenda.

Casciano Lopes

8.6.17

O que me possui

Tive rompantes na vida que é curta
Momentos que me encurtaram a visão e me vi duradouro
Longo como se fosse caminho de estrela
Comprido como sem medida o fosse.

Tive gasturas por feridas e não saber como fazê-las cicatrizes
Horas de equívoco em que não tinha o Tempo e o cronometrei
Duros e curtos segundos eram os meus
Longo era o tempo em que me perdia deles.

Tive posses e títulos de coisas e pessoas que nem eram minhas
Gargalhadas em dias e sussurros risonhos em noites
Que só deixaram brechas em mim e lacunas sem graça
Luto sem tecido fúnebre e com pouco corpo para chorar

Tenho a certeza de que sim, a vida é curta
Mas que não precisa ser pequena e nem as paredes tão tortas
Ainda me resto alvenaria e do que aprendi tenho muito...
Muito do que faltava e que na verdade sempre esteve aqui.

Em meu compartimento de Tempo, do que eu possuir.

Casciano Lopes

2.6.17

Tempo está

Do tempo que não sou dono
E do tempo que se emprestou
Do qual não sou possuidor
Nem senhor de hora nenhuma
Diminuto homem frente ao seu estar
Seu altar sem passar
Porque tempo não passa
Quem se espreita por entre seus dedos
Sou eu...
Sou eu que passo
Quando a reza acaba.

Casciano Lopes