A casa limpa e organizada, a comida pronta, as roupas lavadas e passadas, a dispensa abastecida, as rotinas diárias ticadas.
O asseio cumprido no banho, nas unhas e cabelos, a ida ao dentista concluída com sucesso, os boletos devidamente pagos, os ritos das manias cumpridos e os rituais que enxaguam a consciência de missão, executados.
Chega o fim...
Fica tudo no varal; a impermanência fala mais alto, a força cede seu lugar, as memórias passam a dizer sobre tudo o que se calou no tempo corrido das agendas pessoais, que não tinham nada de permanente.
As falas não ditas de uma vida gritam em meio à desordem da ausência, deixando claro que as doações importavam mais que os armários disciplinados com suas camisas impecavelmente dobradas, e que a fraqueza sempre foi parceira da fortaleza, e que o vento que soprou aquilo que mostramos em nossas portas, também soprará o que não foi permitido por desconhecimento de que vivemos suspensos, estendidos para sermos vistos passando; molhados e enxutos, alvos ou nem tanto, mas lavados de tempo num curto varal indisciplinado.
Casciano Lopes
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