13.7.15

Sensação térmica

O que deprecia o dia frio não são os ventos que sopram em direção ao continente e sim a falta de vidraças em algumas janelas fazendo dobrar correntes que aprisionam descobertos.

Casciano Lopes

Poesia... uma palavra de opinião

Há coisas que eu gostaria de ter dito
Outras de ter escrito
Essas coisas costumam viver em bocas de poetas
E em mãos que ensaiam pra dizer.

Casciano Lopes

Pretensão

Entre o texto e o contexto, não se despreza o pretexto.

Casciano Lopes

Lustro

Nem sempre se constrói um número de sapateado sem lamentar sobre os sapatos
O tablado é só pauta e a melodia surge via de regra do jogo de cintura
O calçado é só pretexto.

Casciano Lopes

Em tempo e fora dele

Das coisas que sei falta tanto para aprender!
Imagina das que desconheço...
Me acovardo ante o tempo
Impalpável, inexpressível se não arde
Insolente quando desatina em dor... tempo
De modo que preciso fracioná-lo
Em busca das migalhas que me encherão o bolso
Conhecendo apenas o que me cabe no alforje
Já que a vontade do que falta move seus ponteiros.

Casciano Lopes

3.7.15

Do que virá

Na correria da vida percebi que as horas que me restam são maiores do que as que vivi, ao contrário do veredito de que o tempo corre cada vez mais depressa encurtando-se para o que resta.
Nessa corrida, da qual todos fazemos parte, entendi que o que falta é sempre mais e o menos é passado.
Só o que ficou acrescentado foi o que plantei ontem nos corações que amei e a semente que plantaram no meu chão, este mesmo que os minutos araram, terra revolvida onde só sobrevive a amizade sincera, porque esta vai além dos laços de sangue e em todo o tempo tinge o futuro de querer mais um bocado, tornando melhor o que está por vir e o que virá, dará sustança à plantação, fazendo crescer forte o amor sobrevivente e este amor... É o que faz do amanhã um dia com bem mais que 24 horas.

Casciano Lopes

21.6.15

Palavra surda

Se não for pra dizer a verdade, não diga nada
A mentira é uma velha senhora que emite som
No entanto, desconhece a palavra.

Casciano Lopes

Entre nexo e desconexo

O que destoa naquele homem
não são as listras da camisa
com o xadrez da calça,
e sim a mente confusa
entre os passos da missa
e os dedos que se lambuzam
ora na boca promíscua
ora na liberdade submissa.

Casciano Lopes

Minha casa na árvore

Minha casa está plantada...
Correm ramos em suas paredes
Florescem buquês nas copas
Copas que fazem telhados
E nas raízes que se banham
Moram rios com suas Ninfas
Que protegem a morada
Dando vida ao tronco
Para que os galhos cresçam
E me ensinem
... O caminho de volta.

Casciano Lopes


11.6.15

Depois da missão

A casa de onde viemos
...Nossa casa
Nos espera de rosa na mão
De orquestra no vão
De tapete vermelho
E na vidraça a expressão:
...Demorou!

Casciano Lopes 


29.5.15

Da fada vista à fada da vista

Não quero falar do cinza que tinge de desesperança o que passa diante de meus olhos, porque estes fados faróis precisam mesmo é do verde que colore a mata, ele dissolve o cinzento morrer da esperança e enche o viver de mais um bocado de cores.

Casciano Lopes

Salivar a cura

O que sara no dicionário não são os verbetes e suas multidões de palavras
E sim a imensidão dos povos aglomerada em suas páginas, com suas vertentes, seus sons e histórias de línguas que salvam quem prova saberes.

Casciano Lopes

Se acaso for

Não gosto de formas e normas
Prefiro o acaso que melhor se encaixa
Em um homem sem princípio... e fim.

Casciano Lopes

Milimetrar

Gosto de ser extenso
Embora seja um pequeno compartimento
Tento e intento me fazer caber, cabimento
Gosto das distâncias
Das marcações de estradas
De me quilometrar
De medir em palmos o que não se pode medir
Gosto e continuo querendo em mim as medidas todas
Da que liga trópicos a que repara oceanos navegáveis
Embora saiba que tantas vezes mal consigo medir meu nome
Ainda assim quero medir a imensidão que sei em mim.

Casciano Lopes

Mania de querer

Quando açude, quis mar
Quando mar, quis navegar
Agora a tormenta tem que me ensinar nadar
Ou volto pra casa do lago ser
Onde barco não precisa se gabar.

Casciano Lopes

Num par de asas

Foi calado que olhei e me apaixonei
Foi calado que murmurei o primeiro suspiro
Foi calado que te vi me olhar como quem aprendia andar
Foi num calado beijo que a vida pegou direção rumo ao ar
Os pés saíram do chão e até hoje voamos aos pares
Num calado voar.

Casciano Lopes


26.5.15

Vista de maré alta

Uma lágrima não é só água salgada
Não é só função orgânica
...É também um oceano desconhecido do alcance
...Grão de areia, riacho doce distante
...Letras escaldantes muito perto dos olhos.

Casciano Lopes

Farta falta

Para muitos a noite chega antes
Para outros tantos mal chega e vai embora
Há fusos horários dentro da rua em que moramos
Abandonados que se recolhem cedo e que se levantam tarde
Janelas que não se abrem e outras que já perderam trancas
Enquanto meninos que não reconhecem a sombra permeiam a madrugada
Tudo na rua que dividimos
Tudo no sol que rachamos ao meio dia ou na lua que louvamos à meia noite
Tudo no mesmo mundo onde a falta não importa se a mesa é farta.

Casciano Lopes

14.5.15

Lado a lado

Por vezes a alegria está do outro lado da rua
E enquanto procuramos uma faixa de pedestre para a travessia...
Ela se muda
Talvez fosse o caso de romper o trânsito
De burlar o asfalto e pegá-la de assalto.

Casciano Lopes

Ciência plena

Só saberei quando, sabendo,
Puder fazer saber aos outros.

Casciano Lopes

Posse essencial

A correnteza levou o que sobrava
Mas lavou por dentro como quem escava
E o que restou de mim é bem mais do que possuía antes.

Casciano Lopes

Unidade de medida

Quando aponto o indicador rumo ao cume
Nem sempre tenho certeza do destino
Medir distância também é tarefa de meus dedos.

Casciano Lopes

Procura do Eu


Loucura(r)

Se a loucura me queria, deveria ter dito antes
Costumo ser cavalheiro, como não sabia
A escolhi primeiro.

Casciano Lopes

7.5.15

Sem passos

Somos um país sem divisas e fronteiras
Somos uma terra inexplorada embora pensamos o contrário

...No dia em que for conhecida nossa extensão
Pularemos nossos muros que nunca foram vistos
Em busca de vizinhas cartografias.

Casciano Lopes

17.4.15

Dos que habitam

O cara que mora na escadaria
Ajeita a cozinha da sua maneira
E até faz a cama de suas manias
Abre as vistas na vidraça dos degraus
E ajeita o conhecimento na calçada
Até seus pensamentos lavados
Põem-se a secar no quintal.

Casciano Lopes

Pardalesca

Da delicadeza tenho a dizer que foi vista de papo com o pardal
Era de manhã, o sol rastreava os farelos do chão e ele os perseguia.

Casciano Lopes

Padecia do mal

Insensível ao que não comunga da mesma opinião
Incrédulo ao que não consta em seu livro de cabeceira
Incapaz de condoer-se com a dor alheia se esta não lhe reverenciar
Irremediavelmente perdido, visto que não há consenso entre suas leis e ações
Do mal dos tempos padecia...
Fanatismo sem juízo
Semente sem terra no campo das humanidades.

Casciano Lopes

Eco ecoa

O silêncio grita sozinho e calado o grito, calam os dias...
Restando apenas o que mora dentro da espera.

Casciano Lopes

Clara e sombra

A montanha
Objeto

Um jogo de luz e sombra

Enquanto se despe em luz... um lado
O outro... se despede em lua

Assombra... se breu.

Casciano Lopes

Nivelar

A mesma paisagem
as casas, as árvores
os carros estacionados
moleques com bolas
pipas bambos no ar
portões escancarados
e vento... vento que só
tudo na mesma rua
se descida ou se subida
é só uma questão de eixo
Ponto de vista... inclinação.

Casciano Lopes

Não

Se não te fizer pensar
Se de tão pronto só restar engolir
Se o sabor não puder ser antes construído
Não leve à boca, não lave aos olhos
Não põe na bolsa e não tatue na saliva.

Casciano Lopes

Descobridor de asas

Fui voando
batendo asas
empoleirando aqui
espiando em voo acolá
ora plainando ninho
ora chocando asas

e foi assim
que um céu apareceu

na verdade quando começou
achei que andava sobre a terra
até que do alto dos picos nevados
fui convencido do voo
só podia ter voado, impossível caminhar
E nos argumentos a montanha me convenceu.

Casciano Lopes

Passante

Eu não preciso que me entendas
Não te exijo chancelas e carimbos
Jamais me empresto aos teus vistos

Eu, enquanto fração de tempo
E que de tempo sou feito, fortuito como o tal
Só preciso passar, só necessito ser pulso

Um relógio ou um fio
E entre o segundo e o ponteiro
...Passar

Casciano Lopes

Autenticação

Se imprimo abaixo ou acima da linha de minha cintura
É só uma questão de assinatura
Sua opinião, ainda que me leia, não me desventura.

Casciano Lopes

Rumo das nascentes

O peixe talvez seja um poeta
Na piracema ele faz poesia
Estou convencido disso.

Casciano Lopes

17.3.15

Arrelia

Era...
Só uma gaveta que não se abria
Só uma fenda que não se bulia
Só uma página de todavia
Era...
Quase ontem com quase hoje
Quase noite mas ainda dia
...
Tempo guardado é assim
Uma quase romaria.

Casciano Lopes

Revide ao peso

Se o peso do mundo me subestimar
Desaforado que sou
Cruzo as margens de seu planisfério
E do outro lado da lua o deixo flutuar.

Casciano Lopes

17.2.15

Depois da poesia não será o mesmo homem

Como rio e peixe
...poesia e homem
navegam o mesmo curso
no intuito de não ser fisgado
embora seja destino.

Casciano Lopes

14.2.15

Tablado

Fingindo ser teatro pôs-se palco no meio da caminho
Fingindo ser tinta pôs-se circo e pintou palhaço na velha praça
Quando na verdade era só uma gaiola de tristura
...Fingindo metal, tinindo madeira.

Casciano Lopes

13.2.15

Lágrima lavadeira

Ela transforma lábios em altar de súplica
Adormece o olhar
Sem piedade enxuga a secura dos vincos esfacelados
Por face enlameada corre sem dó
Toda a reza vai lavando
As escadarias ficam deitadas e ela escorre...
É feito chuva de dormir.

Casciano Lopes

Se não for lar... é silêncio

As telhas trincam um gemido debaixo do sol
...Tudo é sonoro quando casa
Se não for abrigo... calam as estações
Até a andorinha apressada recolhe seu ninho
E o vento passa longe para não fazer ruído.

Casciano Lopes

Quarto enfeitado

Na maçaneta da porta um bilhete
Na penteadeira um ramalhete
E na cabeceira de amores
Um cravo à espreita, enfeite
Um fugitivo talvez
Ou quem sabe tenha aprendido o caminho
Entre o espelho faminto e a cama satisfeita.

Casciano Lopes

10.2.15

Hidrografia humana

O homem e seu fluxo correspondem ao sentido do rio e suas pedras,
tudo interligado numa teia de destinos e margeado de desconfianças.

Casciano Lopes

Preponderando

Um soldado entrincheirado... ainda é guerra
Um barraco voador... ainda é tempestade

Um menino adormecido... ainda é colo
Uma centelha... ainda é brasa

Então... uma ideia ainda é possível.

Casciano Lopes

Demores em mim

Entre e procure cá dentro o que ainda restar
Mas se nada encontrar fique e me complete.

Casciano Lopes

Buquê sem dolo

Dolorosa não devia ser uma palavra que incluísse a rosa
...Apesar de seus espinhos.

Casciano Lopes

Inocente saber

Muitas viagens perdem destino
Porque na partida deixamos o menino.
A viagem é um diálogo
Uma conversa entre dois tempos
E o primeiro é quem sabe o caminho.

Casciano Lopes

Chão de cores

Na parede do meu céu... tinta
E no hemisfério de minha pouca convicção... mais tinta
Nas rachaduras da inteligência... tinta
Na plenitude do que ainda não sei... mais tinta
Agora com tanta tinta é só começar a pintar!

Casciano Lopes

5.2.15

Cálice aberto

A falta que me mede e a medida do que me falta
Me cala a busca e o horizonte
Me cala a guerra e seu fronte
Me cala o peso sem balança
Me cala os segundos sem andança
...Calado por um grito que faz falta.

Casciano Lopes

4.2.15

Azulina

E se a arte nos faltar...
Que os azuis nos invadam
Eles podem voejar nossas cores e naufragar nossos medos.

Casciano Lopes

Paterno dia em noite materna

De modo que nasço todos os dias como fazem os nascentes
... O sol inclusive
E quando este vira poente
De novo entro em processo de gestação
Os ossos se aprumam para acomodar a nova carne e a pele se recompõe
Na madrugada têm início as contrações...
O coração altera seus batimentos em cada "dar.se à luz"
E quando os olhos se abrem, de novo o encanto neonatal
Percebo que se pôs entre os dormentes um poente homem
Enquanto um novo vivente adia o ser morrente.

Casciano Lopes

3.2.15

Águas de Ondinas

Se puder me juntar ao fogo
Vulcano, se ao mar
...Oceano.

Casciano Lopes



Acostume-se

Rezadeira boa é a que tem fé na reza, não no terço
A água que corre nos pés é sempre mais fresca que a do rio
E a que rola garganta matando a sede
Mais eficaz do que a que lava a procissão.

Casciano Lopes

Aos que me atravessam

Se de cores for meu colar
E por elas trilhar meus passos
...Nas cores

Encontrarei todos os perfumes
Todos de que preciso, necessito
...Emanar

Do lima ao carmim
Da Pérsia ao cedro oriente
Todos passando por mim

Com notas suaves...
Claves em cheiros
Dos que adornam olfatos.

Casciano Lopes

Homem altar e seu contínuo passar

Um homem feito é feito templo
Tem dourado nas paredes
O teto todo azulado
E o chão de marfim forrado
Feito de telha branca
Pra refletir toda luz
Olhos faróis de milha
Portais que levam à trilha
Homem é coisa séria
Sagrado feito devoção
Semelhança da imagem
Tempo mosaico de passagem.

Casciano Lopes

Das voltas que a palavra dá

Numa roda de poesia
A pedra canta afinada
A rua versa apaixonada
E a calçada não fica deitada
Numa roda de poesia
O brejo vira riacho
Cachorro usa penacho
E letras nascem em cacho
Numa roda de poesia
É onde o Divino se senta
Vento vira vestimenta
E toda a conversa é benta.

Casciano Lopes

Partida das águas

No gesto fel da face cruel
A abelha já não faz mel
A árvore não cresce
João não faz barro
Sem balanços no galho
A criança não tem copa
E então já não tem bola
E por não ter nada
Nada se avista, nem vista
E no fim a grama seca
Deixa de compor cordel.

Casciano Lopes

Das andanças no passeio

Quando caminhar procure tocar o menos possível o chão que te passeia
Afinal dele dependem outros caminhantes e os que já nele descansam
Dependem histórias...

As que plantaram no chão e as que em você se plantou.

Casciano Lopes

31.1.15

Infanto sumidouro das cidades

Na calada da noite quase nua
Na calçada com a lua, quase rua
Uma crua criança recua
Calada insinua fome, não era mútua
De posses só a ausência era sua.

Casciano Lopes 


30.1.15

Entre lobos

Quando desço a ladeira do mundo
Sou terra dividida, poeira soprada
Pedra rebolada sem quina para estancar
Água sem rumo certo fugindo de lobos e suas bocas

Quando subo a ladeira do mundo
Sou o próprio céu, estrela vira alimento
O bruto pedregulho assento e a terra
Cabe na palma da mão calando os uivos.

Casciano Lopes

Colônia poesia

É a poesia que me convence
Sua letra que me investiga
Sua pele sempre nua que me veste
É achar que não posso tê-la
Que faz de mim um perseguido
Pelas ruas brancas, sem rabiscos
Que ela insiste em povoar
Com gritaria de criançada
Com marmotas na calçada
E eu colono, obedeço.

Casciano Lopes

29.1.15

Cordas em caps lock

Quando um buraco de agulha
Me alargo para passar o fio
Se arco da porta da cidade
Me abaixo para estancar o rio
E assim vou dizendo em maiúsculas
O que calaram os minúsculos.

Casciano Lopes 

Repercussão


O esculacho da lavadeira

Casciano Lopes

Sou a tábua ensaboada do riacho
Sou o surrado da roupa no agacho 
Sou a cantoria fervendo no tacho
A grama e o farpado escracho.


Que todo mundo lia


No buraco da fechadura


Rua de explicação

Se na esquina da menina houver bancos
Sente-se e espere chegar a mulher
Retas perguntadas, rotatórias duvidadas
Respostas em intersecções
...E então entenderá onde se esconderam as paralelas
Antes que em curvas de pedradas se perdesse.

Casciano Lopes



Meados da poesia e minha metade

Em meio aos meus meios
Emendo-me de seus inteiros
Remendo-me dos seus meios
E de sua mania de inteirezas...

Casciano Lopes

29.7.14

Queda livre das águas

A chuva que lava os olhos
É a mesma que lava a terra
Mundos molhados de rios em busca do mar.

Casciano Lopes

Em off

Meu silêncio...
Canta, murmura
Chora, soluça
Ou... simplesmente silencia.
Nos seus agudos
Aprendo ralentar calado.

Casciano Lopes

Do que é cíclico

Era o tempo que cozia as cãs
E o tinto tão da moda era cru.

Ao ponto apaga-se o fogo
E acolhe o Universo quem dele brotou.

Casciano Lopes

Até que se expire


Fio durável

Na costura da linha o pano esgarça...
O tempo não.

Casciano Lopes

Isca calada

Que a pesca não assuste os peixes e que os gritos não desviem o curso dos rios.

Casciano Lopes

Teimosia moralista

Nos vestem camisas pesadas
Nos colocam abotoaduras nas mangas
E teimam em apertar os colarinhos
Quando tudo que queremos é andar nus
De frouxos cintos até que se dispam as pernas
Dentro do caminho das levezas.

Casciano Lopes

Visto um livre por aí...

Das vergonhas pouco tenho o que dizer
Não possuo capacidade de entendê-las
De modo que penso ser um desavergonhado.

Casciano Lopes

Angustura de tristura

A mesma correnteza que desce cantarolando o desfiladeiro
Chora soluçando as barrancas do triste, da tristeza hospedeiro.

Casciano Lopes

CEP de minha rua

Preciso saber mais do que mora aqui
Do que daquele que ainda está no caminho
Num caminhão de mudanças.

Casciano Lopes

Se pular as janelas, sou 'Do Pulo'

Se a alegria está dentro de casa
Perco as chaves
Se está do lado de fora, viro chaveiro.

Casciano Lopes

Correspondência balbuciante

Se meramente eu disser um sorriso
No silêncio com esmero correspondas.

Casciano Lopes

Certidões

Ao longo da vida nascemos e nascemos, sem 're', só nascimentos.
Ainda tenho 43 anos e aguardo tantos outros nascimentos futuros, tão importantes quanto todas as datas em que, de novo, nasci.
A capacidade de recomeços não vem ao acaso, vem das impossibilidades e nelas temos o dever do descobrimento das coisas possíveis e então, dá-se o nome: possível. Sim, é possível nascer quantas vezes se fizer necessário.
Assim vou colecionando certidões lavradas nos cartórios das vilas por onde andei.
Aprendi ainda que antes de cada 'dar a luz', houve um período gestacional, períodos de noite sem lua, de deserto escaldante onde o encontro era comigo mesmo. Em cada um desses encontros pude conhecer um lado ainda não explorado e neles, conquistas importantes aconteceram, sempre de dentro para fora.
Assim, maio de 1996 quando olhei pela primeira vez meu grande amor, não foi menos importante que outubro de 1970 quando olhei o mundo pela primeira vez e, por conseguinte, setembro de 2012 quando descobri o reiki e nele fui iniciado foi tão importante quanto as duas datas anteriores... E agora em julho de 2014 com a montagem do consultório Kurama de terapias reiki e florais me descubro um novo nascido.
Que bom que essa vida seja assim dividida e que em todo esse tempo houve mãos de 'parteiras' que auxiliassem os partos. Gratidão sempre aos emissários que o tempo trouxe para manter os ponteiros circulando. A mim coube pulsar e posso dizer... Vivo!
No último período que fechou um ciclo, eliminei literalmente um peso que carregava há duas décadas, 22 quilos e agora com o espelho está tudo lúcido; uma das tais conquistas mencionadas em períodos sem lua. Em outro anterior a esse a poesia me encontrou e nela conheci essa que até hoje é minha força motriz.
Enfim, hoje mais feliz quando se descortina o novo mundo, porque a cada nascimento se desvendam novos prismas, continuarei contando com todos que fizeram parte dessa ainda tão pequena história, mas que com certeza é bem grande na vontade de continuar chancelando passagens nesse trem chamado vida.

Casciano Lopes

13.6.14

Minha cara nada cara

A hipocrisia chama de ilustre a um desconhecido.

Casciano Lopes

Além das horas

Todos os dias faço cama e mesa como se fosse receber visitas
O novo que amanhece é um desconhecido que carece de atenção.

Casciano Lopes