31.3.25

Dentro do que podemos

Há um lugar
que precisa
fornecer recomeços
e abraços de alívio...
Fica no interior
do mundo
que viemos pra ser.

Casciano Lopes

30.3.25

Tudo é jardim

Quem aprende o gesto
de segurar flores,
sabe segurar pedras,
não para atirá-las,
mas para construir
passagens entre canteiros.

Casciano Lopes

Coberto de estrada

Talvez seja o caso
de deixar o caminho te vestir,
e nunca mais a pele sofrerá
tentando ser uma viagem desconhecida.

Casciano Lopes

De tudo que lembro

A memória me resgata todo dia,
me ama quando mais preciso,
acaricia todos os meus lembretes
fixados onde não posso esquecer,
agrada com bom ânimo
minhas versões esquecidas
e promete ao meu querer que,
antes de dormir,
me contará a poesia da minha vida.
Ela ainda me cuida...
a memória de tudo que mora em mim,
me cura de faltas.

Casciano Lopes

28.3.25

Tapas da água

Não sei nadar,
ainda assim,
escolho a audácia
de provocar o rio.

Casciano Lopes

Descabido

Há dias
que amanheço eterno;
nesses,
crio mundos
que caibam o meu.

Em outros
acordo mortal;
nesses,
parecido com ferido de morte,
nada me cabe.

Casciano Lopes

27.3.25

Em uma estação... Somos.

Nós nos cuidamos...
A cada percalço ou manifestação de dúvida fingindo certeza, lá aparece 'um cuidando do outro'.
A impermanência é condição da vida, o imponderável é algo inerente a qualquer ser vivo; eu desconfio que uma árvore quando nasce, nada sabe das estações, mas ao saber, não se torna uma outra coisa, mantém sua essência de árvore. É assim que somos... Fragilidade e força no mesmo recipiente, convivendo com a incerteza, sem esquecer o endereço do outro que também convive com ela... A diferença é que vivemos abraçados, e assim, duplicamos a capacidade de ser resposta cheia de pergunta; perenes enquanto efêmeros.
Meio árvore, que ao ver de longe o aceno da ventania, finca o tronco na raiz para receber um sopro de tempo.

Casciano Lopes para Carlos Lopes

26.3.25

Descaminho

O aço forjado de dor
sabe o caminho

eu não

sou um mero narrador
no máximo seu vizinho

ele torna-se morador
eu não

Casciano Lopes

Tecitura

Se por um fio
decidir a vida
se encaminhar

por um fio

se ficar ou ir
a volta ou ida
saiba conversar

por um fio

falar com o fio
sem ferir ou partir
que por insistir

por um fio

quase divide você
mas é porque te viu
parte dele, o fio

por um fio

és o pano da lida
o que a linha pediu
pra saber te dizer

por um fio.

Casciano Lopes

Sabes quem?

Quem sabe a certeza nunca acabe,
quem sabe a dúvida nunca morra,
quem sabe vire prece a minha aparente calma,
quem sabe se dissipe no templo do meu temperamento
a fumaça de tudo o que produz o meu questionamento.

Casciano Lopes

24.3.25

Pra eu me encontrar num canto de mim

Basta um rádio de pilha
num canto da sala,
uma vitrola antiga
tocando um disco
de Elizeth Cardoso
no outro lado,
no outro canto.
Uma cristaleira
no corredor,
com louças sabedoras
do fino tempo,
um quadro desbotado
na parede
que não foi capaz
de apagar todas as saudades
da minha fina vontade
do que basta.

Casciano Lopes

21.3.25

Obrigado

Gratidão
não é dívida
e nem sabe
caminhar
na obrigação.

Casciano Lopes

Todo movimento

Tudo passa o tempo todo;
vale pra pessoas,
histórias
e pra vida,
que já nasce
com a promessa de morte.

Casciano Lopes

Barulho particular

Eu sei que tudo passa, mas cansa...
cansa perceber que não faz diferença
a titularidade de forte
que muitos me dão como um benefício,
sendo castigo a apatia dos gestos,
das palavras e do recuo que provoca silêncio...
isso sim,
provoca gritos dentro de mim.

Casciano Lopes

20.3.25

Origem, destino e intervalo

O céu da gente pode ficar de chumbo,
a meta de dourar a pele de alcances
pode ficar distante,
a noite pode durar fora de hora,
o dia longo pode esquecer de acordar a pressa,
a calma... pode.
A gente acalma,
porque entende a viagem mais que o veículo,
mas o bilhete da passagem às vezes viaja úmido
e amassado no bolso de guardar o suor da chuva.

Casciano Lopes

18.3.25

Daquilo que coube

A poesia é capaz
de pagar a conta
sem perguntar
quem consumiu

faz do esconderijo
de quem fugiu à fuga
uma filosofia de vida,
a poesia

coloca caligrafia
onde não cabe papel,
transforma o quarto,
a vista, e avista hotel.

Atrás de quem intuiu
a poesia.

Casciano Lopes

Daquilo que coube

17.3.25

Tato da dor e da alegria

O sofrimento não é ser quem você é, mas sim conviver com quem o outro é.
Circulamos com facilidade por nosso querer, nos debatemos por insistência na vontade alheia.
O fluxo interrompido pelo volume das nossas expectativas causa horários de pico em nosso trânsito, e interrompe o caminho pessoal da evolução.
Nossos semáforos, que aqui recebem os nomes de sentidos, ficam comprometidos se estiverem ocupados com as avenidas que não são nossas... a audição, por exemplo, só escuta as buzinas daquilo que não dirigimos, e a fala, se perde na falta de paladar da vida por falta da visão do mundo que viemos construir com nossas mãos.
Se tão somente entendermos a individualidade da missão encarnada, deixaremos de querer incorporar a vocação do outro como obrigação.

Casciano Lopes

14.3.25

Olhar cheio

Eu cresci assistindo a lua
se deitar no pasto da minha terra,
hoje sei porque
meu olhar se deita nela.

Casciano Lopes

13.3.25

Elementar

Cada dia eu me levanto no simples, moro e demoro no simples; até pra entender do que me basta. E se por rotina ainda me espanto com o que me falta, espero passar o que me afasta de mim e, lá pela hora onde tudo dorme, durmo na cama simples, onde findam as horas que meu relógio nunca soube marcar, porque aprendeu a contar o tempo riscando-o com carvão no meu pulso de poucas posses. Então durmo corriqueiramente, modestamente durmo.

Casciano Lopes

11.3.25

Partiu

Todo dia exige recomeço.
É necessário seguir, com ou sem medo, com ou sem endereço conhecido, e saber que, quanto mais cedo colocarmos os pés no caminho, mais ele não tarda a se mostrar.
É preciso saber viajar pela solidão dos sentidos; sabendo que haverá criança, jovem e velho na viagem dos sentimentos, e descobrir que todos eles vivem no nosso compartimento de viajante e se alternam na coragem, dando a possibilidade de sermos bem acompanhados.

Casciano Lopes

6.3.25

Estrada no balde

Quando as águas cantarem
lá pras bandas da montanha que não fui,
é preciso que eu saiba daquela melodia.
Que meus ouvidos estejam atentos,
pra que eu possa ouvir, e assim,
estar em muitos lugares,
mesmo sendo eu próprio,
um pequeno lugarejo,
tantas vezes sem água,
onde o único som,
seja o do estalar do sol
em minhas vasilhas vazias e esperançosas
daquela água que não fui ver,
mas que soube ouvir, e sabendo,
saberei ainda mais,
quando ela tocar por intuição,
minha pele de busca.

Casciano Lopes

E lá se vai

É conhecido o arquétipo da montanha...
Na subida; há espetáculos de casa cheia, promoções e prêmios, parcerias, relações disputam vagas, decisões são acompanhadas, visibilidade se confunde com conquista, toda a tenda que abriga a noite é facilmente compreendida... é subida.

É montanha, tem topo, comemorações estabelecem-se como bandeiras fincadas.
Tem a volta pra casa, descida, é montanha...

Os marcos ficam pelas encostas do outro lado, porque do lado de cá, juras não costumam caber no desembalo íngreme e sem freios das pernas, não dá tempo de prometer mãos em pedras tão roliças; onde nada se firma além da coragem quase sem dentes pra sorrir.

A planície chega, onde findam a alegria cumprida ou a tristeza interrompida, e aí, desce-se o corpo sozinho pela última vez, por mãos desconhecidas.

Casciano Lopes

3.3.25

Penso

Eu penso
que não preciso
impressionar ninguém.
Eu sim,
tenho que estar emocionado.
Custe o que custar.

Casciano Lopes

1.3.25

Perto de mim

Não sei lidar com algumas perdas ainda...
nem sei qual delas é mais significante.
Sei que o caminho talvez me ensine,
como sei que a árdua missão
é não me perder dele;
porque,
enquanto eu me sentir caminhante,
poderei vislumbrar destino,
e me saberei digno dele.

Casciano Lopes

28.2.25

Brisa quem sabe

Sou só um sopro
que procura
uma montanha pra ventar.

Casciano Lopes

Cartas de direção

Também não posso
conhecer um destino antes da viagem...
só quero chegar lá inteiro,
aqui dentro de mim,
onde moram todas as estradas,
os rios que buscam mares,
estes que entendem
de faixas de areia,
de terra firme.

Casciano Lopes

27.2.25

Quando você sangrou

Quando te vi no chão, me vi doendo e sem lugar de sentir tudo aquilo. Na demora de estancar aquela dor, aprendi tanto!...

Entendi a capacidade do amor quando cala a desesperança, só porque ela não entende nada de parar o medo.

Sei que excedo na esperança, mas naquele dia, quando amanheceu lá fora, tudo dentro de mim virou cedo, me senti capaz quando vi parar de correr pra longe de mim... você.

O amor sabe estancar o medo e cicatrizar os sustos da vida. A vida é espanto e para o bem dela, cuidado!

Casciano Lopes

Quando chega o trem na estação...

Desembarcam notícias,
malas com suas pessoas,
partem outras,
com muita ou pouca bagagem.
A viagem se inicia pra muitos,
finda pra outros,
bilheteiros começam o expediente,
outros cumprem a jornada
e voltam pra casa,
pombos arrulham sobre fios,
esbarram-se pessoas num quase encontro,
abraços acolhem e despedem-se
num gesto de apito da locomotiva.
Intervalos dividem o choro do sorriso;
e o soluço dos que não sabem falar,
grita ou cala o que não pode partir,
mas parte,
porque um dia chegou.
...
Isto não é sobre trens.

Casciano Lopes

Apartamento

Situações nos trancam do lado de fora...
passa o tempo do verniz dos tijolos,
assim como o viço dos nossos ossos,
nos instalamos em algum pretexto de varanda e,
aos poucos,
nos esquecemos de como era o lado de dentro,
passamos a aceitar com naturalidade
o inverso do verso,
o avesso do direito
e a morte que a exclusão provoca,
só que em vida.

Casciano Lopes

25.2.25

Negação não é opção

Sobretudo
gostar de me encontrar,
de saber que o espelho envelhece...
eu, se quiser, não.
Que tudo que anoitece
também amanhece,
que não pode viajar
ninguém que escolher parar,
que a melhor multidão
não é a que passou na minha porta,
mas a que se formou em mim
em cada encontro comigo mesmo.
Saber que,
do lado de dentro,
as rugas são eventos,
onde a solidão só existe
se eu não me apresentar todo dia
como alguém que se leva pra passear.

Casciano Lopes

24.2.25

Anfitrião

E se fores convidado pra rotina dos teus cômodos?
Pra estar na clausura de teus pensamentos,
pra viver entre tua sala sem baile
e tua cama sem hóspedes,
entre tua mesa sem extras e tua cozinha calada...
o que fazes?

E se houver fissura entre os quartos
que te impeçam a passagem?
Se tua lisura impedir o acesso
ao tráfego das avenidas,
se tuas portas exigirem braile pra se abrirem,
se tua cortina cansar de te anoitecer,
se a parede suada e sem leque do teu abrigo
te amanhecer antes do sol...
o que fazes?

E se o mundo em guerra se converter,
o teu, o que fazes?
Te implodes antes que te implodam
pra construírem um novo edifício digno de visitação,
ou, te reformas pra tornar-te
tombado pelo patrimônio histórico...
o que fazes?

Se fores teu único habitante, te fazes morador?

Casciano Lopes

Cheio de dedos

Não basta...
dormir na cama que o sono propõe,
banhar o suor no riacho
que cresceu junto com a gente,
comer do fruto da árvore
que nasceu no fundo da casa que vivemos
e que sombreia nossa fome de perto...
É preciso lamber o melado
que escorre da cana que plantamos,
fugir dos cágados que brincam
de teimosia nos nossos quintais,
usar a brasa pra desamassar
a roupa de cerimônia.
É preciso ajeitar os cabelos
com uma boa mão na ventania...
mão de medir o que venta.
Basta saber olhar a grama,
decidir se deita nela,
se poda,
se espera as formigas chegarem.
Ou, na espreita, esperar a vida te bastar.

Casciano Lopes

21.2.25

Castigo da compensação

Capazes de tolerar o dia,
porque ele promete a noite,
a segunda,
porque ela anuncia o sábado,
os meses,
porque eles antecedem a viagem...
somos capazes.
Ainda não dispomos de vaga na agenda
pra um feliz presente sem premiação,
pra um passado sem condecoração,
pra um amanhã sem recompensas...
ainda não somos capazes
de abraçar o agora.

Casciano Lopes

Escoriações e hematomas que provocamos

Ainda não somos eficientes na gratidão,
na visão do caminho,
no amor pela nossa caminhada,
no entendimento
de que os valores estão acima do preço,
de que as mãos que nos plantaram
nem sempre foram as nossas,
de que a alegria que brota todo dia
na sobra de esperança,
depende da coragem da nossa água,
mas também da rega
dos que estão dispostos ao nosso lado...
ainda não suficientes.

Casciano Lopes

20.2.25

Sinal de ocupado

Eu não vou atender a porta quando a falta de jeito bater, quando o telefone chamar incomodando meu modo de deter a pressa, em repouso, não vou atender. Nem quando o caos pretender pular a janela, sem roupas e com prazos estourados, sangrando em cacos de vidro o meu estado de 'sala', eu não vou inverter a calma ou perverter minhas promessas de que vou manter a capacidade do curativo, a sutura de estancar o que dói, em favor do silêncio que abomina o grito.

Casciano Lopes

18.2.25

De quem orquestra e orquestrados

Gosto também da dança sufi, os dervixes em transe absoluto me encaminham através da observação ao estado do pensamento do nada.
Gosto da música clássica, da ópera que sabe me dizer lágrimas, sem que os olhos consigam dizer palavras, diante da impossibilidade de desatenção perante o altar da música, onde quase se aprende a rezar de tanta devoção.
Gosto do canto gregoriano, de corais, e também dos étnicos alívios que me causam as danças tribais, as manifestações de humanidade em corpos tão cheios de divindade, que mais parecem deuses pintados de gente comum dançando.
Gosto das harmonias, de duetos, trios, quartetos e quintetos, que se unem para explicar a razão da emoção, que emocionam a dureza de tudo que exige explicação.
Por fim, gosto do que faz a vida, quando dança e canta para dizer que é uma festa estar dentro de um corpo e, vivendo como humano, poder experimentar o milagre dos santos, a sacralidade de brincar com os ouvidos, de ouvir o encontro dos ventos com as águas, da terra que pulsa com o fogo que estala.
...Tudo junto, numa partitura escrita na pele que recobre o espanto da alma.

Casciano Lopes

Piu suficiente

No silêncio em que busco a respiração, onde cada minuto dura a eternidade de um pulmão atrás de informação, onde tenho que calar a mente em estado de ebulição; ainda consigo ouvir o canto de pássaros suados, canto molhado no meu canto em combustão... só no silêncio.

Casciano Lopes

17.2.25

Estatura

Eu pretendi amar a vida do jeito de quem não desiste; ainda pequeno, e sem saber direito o tamanho do palco do mundo, mas bem orientado pela grande mãe que tive, de que representar o papel que vim desempenhar sem desistência, era tão importante quanto o próprio cenário... pretendi.

Quando ela já estava nos seus últimos dias, já em cuidados paliativos, foi perguntada sobre o que faltava, o que ela mais queria naquele momento; ela respondeu: - a cura.
Não desistir... Entendi.

E é na vontade de viver que mora o desafio que tenho pra vencer. Não é o tamanho dos problemas; que são grandes, eu sei, mas o meu, que é pequeno, e que sei disso fingindo não saber.

Casciano Lopes

15.2.25

Vivendo na casa de mim

Uma parte de mim não sabe quem é, outra ainda se espanta, se encanta, se acha impregnada de lugares nas esquinas da minha casa.
Onde moro, guardo, de forma organizada, as cartas que receberam todas as outras casas que morei. As tintas envelhecidas de tantas paredes, estão ainda residindo embaixo das cores que pintam o hoje, e me ajudam a lidar com o chão e telhado.
Até as fotografias espalhadas localizam meu tempo quando estou sem passado, pasmado em janela, feito lagartixa à espera; são imagens que restauram as portas emperradas da moradia, senão da casa que vivo, do corpo que moro.
Embora me pegue às vezes sem endereço, tenho em mim o que resgata o que fui: o que ditam minhas cortinas, quando brincam de me fechar e abrir, e o que escreve minha alma feito sala iluminada, quando olha os dependurados dos varais, e me lembra quem sou.

Casciano Lopes

14.2.25

Cartas de amor pedem

O amor obrigatoriamente
passa pela admiração,
é impossível amar sem se encantar,
sem se debruçar demoradamente
no espetáculo do outro.

Sem aplausos e cartazes
que digam elogios
é inviável qualquer texto,
e tudo não passa de encenação.

Casciano Lopes

Abusado

Tem que ousar
se quiser passar
pela via insalubre
da travessia do mundo.

Casciano Lopes

12.2.25

Último grau

Tudo muito simples:
Abraços longos,
sorrisos espontâneos,
conversas demoradas,
olhares largos,
ouvidos bons de escuta...
salas de poesias,
de recitais,
de saraus,
de música boa...
tudo no outro,
no teatro que deve ser o outro,
e nas minhas câmaras,
nas entranhas de minhas galerias,
na plateia que cala em si o espetáculo
para aplaudir em mim,
o simples.
Que de simples fica esperando
o extraordinário passar.

Casciano Lopes

Bem vivo

A respiração demanda trabalho e controle em todo ser vivo, mas é a inspiração que move a continuidade de tudo o que o vivente precisa pra sarar a relação entre o que se quer e o que se pode fazer. E é inspirando a coragem que a gente expira o medo, e segue avaliado como vivo porque respira o que explica a vida.

Casciano Lopes

Perto, média e longa distância

Os óculos da vida... aqueles que são solicitados pra cada situação; como a ocasião, pedem uma graduação... ajuste de foco, ponto de vista, equacionar a posição.
A depender das lentes por onde se olha, pode ser distante o outro lado da rua, da mesa, da história, e pode se aproximar uma nesga de lua, uma verdade nua e crua, ou manter segura uma profundeza de memória, mesmo que provisória.
É caso de aumentar ou diminuir distâncias... talvez seja assim, que dores em Osaka são sentidas aqui, e ali, na esquina do grito do meu prédio, não são absorvidas pelos andares, as dores.
Há sons que provocam tremores e ação, como um terremoto no Japão, outros, temores e rejeição, como faz tão bem, a isenção.
É só um caso de óculos...
Perto, média ou longa visão.

Casciano Lopes

9.2.25

A cura

Acendo o fogo com tudo
que soube me causar amargura,
as labaredas fazem desaprender o caminho...
a desventura.
A ossatura da alegria sai fortalecida
de cada tristura que dissolvo,
e assim, porque é brava a bravura,
estapeia a agrura cada vez
que ela vem me dizer de secura.

Casciano Lopes

5.2.25

Cama de rio

O rio não perde
a compostura no seu curso,
porque tem o leito
que sabe acomodar suas águas.

Casciano Lopes