Avista-se
Uma ponte
Velha, retorcida
Emborcada, despedaçada
Sem passagem e passageiro
Do outro lado brejeiro
Um casebre de uma cal
Envelhecida, enegrecida
Com seu tempo crú
Seu passado cozido nú
Por conjugação esquecida
Sua única porta sem chave
Sem Ave Maria
Como radiola sem clave
Chão de terra sem charme
O teto de palha seca
Furado, esturricado
Sabe contar dos moradores
Lembra-se dos trovadores
Dos domingos de galinhada
Do revoar da passarada
No terreiro de criação
Tomou conta o poeirão
Escondendo a cacimba
Que lembra do pato Simba
Conta os papos das comadres
Dos cachimbos e compadres
Ri das tapas dos guris
Das façanhas que viu ali
Lá pra banda do forno de barro
Outrora um pássaro João raro
Deixou escrito então...
A seca levou as Marias
Os Antonios e Josés
Enterrados sem lágrimas
Sem missas
Sem caixão
Já dormem nesse chão
Onde brota o mato
Parido da última água no Crato
Que veio depois da morte
Chegou depois da sorte
Matando de sede um monte
E emborcando a ponte.
Casciano Lopes
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