13.3.22

Acorda! a corda que badala e não cala - 1701

É preciso dizer...
Houve um tempo de glória.
Houve dias de fartura e a abastança não era de dinheiro, mas tinha muitos dias num ano, nos meses, nas semanas e os próprios dias pareciam grandes.
Houve festas, encontros, cerimônias e até lugares que se tornaram pessoas e pessoas que eram canto de regozijo.
Houve viagens que substantivaram a arte de um tempo.
Passeios por viadutos que tinham a magia de transportar cidades inteiras pra dentro de uma vila, e colocar a fazenda que nasci dentro de uma bolha de sabão nos parques que me couberam.
Houve um tempo que ônibus me cruzavam, e eu neles brincava de condutor de charrete, que na janelinha me sentava como que em poltrona de cinema.
Houve uma possibilidade que me causou teatros, peças inesquecíveis, filmes memoráveis, exposições e que por uma fração de passado, não me colocou na sinfonia do realejo... Todo periquito, dono da sorte!
Houve sim e eu sei disso:
Uma mãe que me deu pro tempo como que soubesse que ele um dia me diria que houve um tempo.
Amigos abraçavam minhas calçadas, riam de meus casos pintados de circo e dançavam todas as minhas salas.
Tempo de mesas cheias, falas altas, tanto quanto a risada de minha visão que gostava do que via.
Houve um fazer e desfazer de malas felizes, que tinham o poder de transformar qualquer sexta numa de carnaval, onde eu era arlequim e as ruas com suas colombinas me atiravam samba pra eu passar.
As memórias são as chaves que abrem a oração, onde sou sujeito da ação.
Não sou solidão pelo que houve, sou gratidão por ter protagonizado um espetáculo, e não sozinho: gigantes estiveram lá comigo. Não importa se partiram por minhas escassas possibilidades hoje ou por outras razões... O show tem que continuar, eu vou seguir, porque tenho história pra contar.

Casciano Almeida Lopes

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