Ontem, tardinha...
Um sol de arte,
Refletia na janela sem cortina,
De vidros limpos e transparentes,
Que adornavam a sala,
Trazendo um temperamento dócil.
Passeando por entre os sofás,
Uns raios dourados e quentes,
Que pareciam sentar-se nas almofadas,
Feito um fim de dia querendo conversar,
Acomodou-se em todo o espaço,
Abraçando e se deixando tocar.
De repente quebrou o silêncio,
Um pobre pássaro em viagem.
Em voo atirou-se na transparência,
Chocando-se com o bico, asas e vontade,
Assustei-me em cuidados,
Mas o viajante seguiu viagem,
[Ainda bem que resistiu sem queda]...
Pena que não estava aberta a tal janela,
Talvez o indivíduo tivesse sentado
E participado da conversa...
Trazido noticias...
Casciano Lopes
18.10.12
17.10.12
Desatento
No descuido do sopro do vento
A pétala descuidada
Esvai-se em cores pelo chão
Que por atento abriga o tom
E sustenta a dama que o percorre em flor.
Casciano Lopes
16.10.12
Dentro de mim
Meu interior...
É feito de terra vermelha,
De treminhão,
De canavial,
De picuás,
Tem rádio grande na parede,
Quadro de santa na sala,
Pererecas no banheiro.
Meu interior...
É feito de pé de amora,
De jaca na estrada,
De jabuticaba no pomar,
De carambola florida,
Tem cafezal carregado,
Moinho no alpendre,
Torrador, forno de barro no terreiro.
Meu interior...
É feito de relâmpagos e raios
De garrafada e chá milagroso
De respeito ao divino
De lençol cobrindo espelhos
Tem rastelo e foice
Enxada, peneira e enxadão
Moringa e relógio de bolso.
Meu interior...
É feito de penteadeira,
De trim,
De leite de rosa,
De alma de flores,
Tem bateria de alumínios,
Pote de água de mina,
Lamparina e fogão de lenha.
Meu interior...
É feito de dama da noite ao pé da escada,
De capivara junto do açude,
De coral de grilos de noitinha,
De cigarras esganiçadas a tardinha,
Tem cachimbo e cigarro de palha,
Fumo de rolo,
Dedo de prosa.
Meu interior...
É feito de panela de ferro,
De caldeirão de feijão de vara,
De pamonha e polenta,
De chaminé e carvão,
Tem São Jorge na lua que é grande,
Sapo assustando no meio da trilha,
Cumeeira e coruja espiando.
Meu interior...
É feito de picumãs,
De batedor de cantar roupas,
De latas e fogo,
De grama e cerca farpada,
Tem bambuzal que não se quebra,
Cantoria de galos,
Paineira na porta da casa.
Meu interior...
É feito ninho de João de barro
De roça e trabalhador,
De novena e benzedeira,
De sanfona e fogueira,
Tem peão e cavalo de pau,
Burquinhas e boneca de milho,
Dia de compra e de reza.
Meu interior...
É feito de Casas Pernambucanas,
De charrete e trator,
De buzina trazendo chiclete,
De cavalo trazendo senhor,
Tem caipora e sacis,
Mula sem cabeça,
Gente que não é gente.
Meu interior...
É feito de cristaleira,
De colchão de palha,
De colcha de retalhos,
De escovão e ferro de brasa,
Tem boi bravo no pasto,
Cachorro com medo de chuva,
Horizonte bem perto da mata.
Meu interior...
É feito de remendos,
De banho de canequinha,
De compadres e comadres,
De queijo e doce de leite,
Tem - Bença pai e bença mãe,
- Deus te abençoe,
- Dorme com Deus,
- Amém, dorme você também.
Sim senhor! Este é meu interior.
Casciano Lopes
É feito de terra vermelha,
De treminhão,
De canavial,
De picuás,
Tem rádio grande na parede,
Quadro de santa na sala,
Pererecas no banheiro.
Meu interior...
É feito de pé de amora,
De jaca na estrada,
De jabuticaba no pomar,
De carambola florida,
Tem cafezal carregado,
Moinho no alpendre,
Torrador, forno de barro no terreiro.
Meu interior...
É feito de relâmpagos e raios
De garrafada e chá milagroso
De respeito ao divino
De lençol cobrindo espelhos
Tem rastelo e foice
Enxada, peneira e enxadão
Moringa e relógio de bolso.
Meu interior...
É feito de penteadeira,
De trim,
De leite de rosa,
De alma de flores,
Tem bateria de alumínios,
Pote de água de mina,
Lamparina e fogão de lenha.
Meu interior...
É feito de dama da noite ao pé da escada,
De capivara junto do açude,
De coral de grilos de noitinha,
De cigarras esganiçadas a tardinha,
Tem cachimbo e cigarro de palha,
Fumo de rolo,
Dedo de prosa.
Meu interior...
É feito de panela de ferro,
De caldeirão de feijão de vara,
De pamonha e polenta,
De chaminé e carvão,
Tem São Jorge na lua que é grande,
Sapo assustando no meio da trilha,
Cumeeira e coruja espiando.
Meu interior...
É feito de picumãs,
De batedor de cantar roupas,
De latas e fogo,
De grama e cerca farpada,
Tem bambuzal que não se quebra,
Cantoria de galos,
Paineira na porta da casa.
Meu interior...
É feito ninho de João de barro
De roça e trabalhador,
De novena e benzedeira,
De sanfona e fogueira,
Tem peão e cavalo de pau,
Burquinhas e boneca de milho,
Dia de compra e de reza.
Meu interior...
É feito de Casas Pernambucanas,
De charrete e trator,
De buzina trazendo chiclete,
De cavalo trazendo senhor,
Tem caipora e sacis,
Mula sem cabeça,
Gente que não é gente.
Meu interior...
É feito de cristaleira,
De colchão de palha,
De colcha de retalhos,
De escovão e ferro de brasa,
Tem boi bravo no pasto,
Cachorro com medo de chuva,
Horizonte bem perto da mata.
Meu interior...
É feito de remendos,
De banho de canequinha,
De compadres e comadres,
De queijo e doce de leite,
Tem - Bença pai e bença mãe,
- Deus te abençoe,
- Dorme com Deus,
- Amém, dorme você também.
Sim senhor! Este é meu interior.
Casciano Lopes
11.10.12
Manutenção
Um dia eu parei numa rua de silêncio,
Sentei-me no denso burburinho do tempo
E comecei a elucubrar umas contas de acerto.
Não demorou muito e a visão ficou turvada,
Apareceram umas imagens distantes
E quase apagadas, fez da vista embaralhada.
Foi no acerto de contas e em meio àquele chão
Que o imenso e não menos tenso ontem
Passou seus acordes, e em meus ouvidos buscou afinação.
Foi quando o tempo fugiu correndo, porque o dia vinha varrendo
Eu já não era mais sozinho e a rua fez-se caminho
E, ajustados os pensamentos, segui com a multidão.
Casciano Lopes
Sentei-me no denso burburinho do tempo
E comecei a elucubrar umas contas de acerto.
Não demorou muito e a visão ficou turvada,
Apareceram umas imagens distantes
E quase apagadas, fez da vista embaralhada.
Foi no acerto de contas e em meio àquele chão
Que o imenso e não menos tenso ontem
Passou seus acordes, e em meus ouvidos buscou afinação.
Foi quando o tempo fugiu correndo, porque o dia vinha varrendo
Eu já não era mais sozinho e a rua fez-se caminho
E, ajustados os pensamentos, segui com a multidão.
Casciano Lopes
9.10.12
Em obras
O silêncio também serve para absorver e dissolver
Para descender e ascender
Para elaborar e praticar
É amigo e conselheiro
Um amante compondo seus versos
Enquanto se dá a partida no motor de arranque
Da máquina outrora barulhenta.
Casciano Lopes
Para descender e ascender
Para elaborar e praticar
É amigo e conselheiro
Um amante compondo seus versos
Enquanto se dá a partida no motor de arranque
Da máquina outrora barulhenta.
Casciano Lopes
Dirigível
Hoje eu só quero agradecer,
A vida lá fora está coberta de sol
E aqui dentro a luz aquece
Causando seus sons de água na rocha.
No peito nasce cantos e como que por encanto
As asas crescem e o passear por sobre a vista da cidade
Já parece natural.
Casciano Lopes
A vida lá fora está coberta de sol
E aqui dentro a luz aquece
Causando seus sons de água na rocha.
No peito nasce cantos e como que por encanto
As asas crescem e o passear por sobre a vista da cidade
Já parece natural.
Casciano Lopes
Sempre adiante
Quando o sol se deita na grama
Dourando o verde e amadurando a tarde
Faz a vista se recolher e dentro de si
Ela descalça os pés e em banho de rosas põe-se a dormir
No dia seguinte,
Quando brota do mesmo verde, o astro
Fazendo resplandecer toda a grama
A vista se abre, a lua se esconde dela
E o horizonte faz sua parte...
A convida para seguir viagem.
Casciano Lopes
Dourando o verde e amadurando a tarde
Faz a vista se recolher e dentro de si
Ela descalça os pés e em banho de rosas põe-se a dormir
No dia seguinte,
Quando brota do mesmo verde, o astro
Fazendo resplandecer toda a grama
A vista se abre, a lua se esconde dela
E o horizonte faz sua parte...
A convida para seguir viagem.
Casciano Lopes
Bem necessário
Um abraço só,
Um só abraço,
Um só,
É capaz de tornar claro um coração escuro
De esquentar o que já vive em gelo
De espantar o medo que assombra sem zelo.
Um só,
Bem apertado e justo
Faz sombra sem teto
E caminho reto
Ao que já tateia a esmo
O esquecimento incerto.
Casciano Lopes
Um só abraço,
Um só,
É capaz de tornar claro um coração escuro
De esquentar o que já vive em gelo
De espantar o medo que assombra sem zelo.
Um só,
Bem apertado e justo
Faz sombra sem teto
E caminho reto
Ao que já tateia a esmo
O esquecimento incerto.
Casciano Lopes
O mundo como vizinho
Quando a delicadeza de um sorriso
E a aspereza de uma dor,
Ainda conseguem fluir pelo espectador,
Este tem a capacidade de tornar o mundo
Um tanto melhor e outro tanto possível.
A dor vizinha tanto quanto o sorriso
Mora na mesma rua da vida,
Portanto, também é minha.
Casciano Lopes
E a aspereza de uma dor,
Ainda conseguem fluir pelo espectador,
Este tem a capacidade de tornar o mundo
Um tanto melhor e outro tanto possível.
A dor vizinha tanto quanto o sorriso
Mora na mesma rua da vida,
Portanto, também é minha.
Casciano Lopes
Vida de povo
Tuas vogais bem abertas
Tua vaidade no rústico
Teu destempero no injusto
Teus brios em bainha alerta.
Teu céu de azul empedrado
Teu embolado na praça
Teu chão esmagado em pirraça
Teus santos no peito estacado.
Tem no nome destino
Tem a palma dura
Nela a cura da alma
E a leitura itinerante
Ou retirante de povo nordestino.
Casciano Lopes.
Tua vaidade no rústico
Teu destempero no injusto
Teus brios em bainha alerta.
Teu céu de azul empedrado
Teu embolado na praça
Teu chão esmagado em pirraça
Teus santos no peito estacado.
Tem no nome destino
Tem a palma dura
Nela a cura da alma
E a leitura itinerante
Ou retirante de povo nordestino.
Casciano Lopes.
O viver à prova
Causa choque na sociedade,
A seriedade de ser inteiro,
A integridade posta à mesa,
A honestidade à flor da pele,
O senso de espaço do direito,
O intenso senso do dever.
Não devia, mas causa choque,
Então os que vivem na demagogia,
Encontram outros nomes para qualificar
Ou desmerecer o indivíduo inteiro,
Faz parte do desinteressante viver de alguns,
A inveja dos seres livres e completos.
Casciano Lopes
A seriedade de ser inteiro,
A integridade posta à mesa,
A honestidade à flor da pele,
O senso de espaço do direito,
O intenso senso do dever.
Não devia, mas causa choque,
Então os que vivem na demagogia,
Encontram outros nomes para qualificar
Ou desmerecer o indivíduo inteiro,
Faz parte do desinteressante viver de alguns,
A inveja dos seres livres e completos.
Casciano Lopes
Ele canta ou lamenta?
Quem é ele que perde penas no ar?
Foi da idade ou crueldade o despenar?
Se canta doce e afinado o peso pena
É de inocência ou de sofrer o seu cantar?
Será de choro de masmorra ou petição
O canto triste e engaiolado do azulão?
Casciano Lopes
Foi da idade ou crueldade o despenar?
Se canta doce e afinado o peso pena
É de inocência ou de sofrer o seu cantar?
Será de choro de masmorra ou petição
O canto triste e engaiolado do azulão?
Casciano Lopes
Tudo de barro
Minha vida é feito panela de barro
Feito panela, feito barro...
Tem fogão e lenha, brasa, carvão e cinza
Tem picumã no telhado e moringa na cozinha
Lamparina pelos cantos e chão de vermelhão
Onde o tempo passa devagar...
Rodado em moinho de alpendre e torrador de terreiro
Tem bateria na parede e rádio decorador
Minha vida é assim seu doutor, rica de simples, de barro.
Casciano Lopes
Feito panela, feito barro...
Tem fogão e lenha, brasa, carvão e cinza
Tem picumã no telhado e moringa na cozinha
Lamparina pelos cantos e chão de vermelhão
Onde o tempo passa devagar...
Rodado em moinho de alpendre e torrador de terreiro
Tem bateria na parede e rádio decorador
Minha vida é assim seu doutor, rica de simples, de barro.
Casciano Lopes
A vida na praça
O que me diz da sorte esse encanto verde?
Qual será o bilhete picado a ser bicado?
Qual será a canção do acompanhamento?
Será num pio só o destino como por lampejo
Ou a manivela esticará a corda feito realejo?
Casciano Lopes
Qual será o bilhete picado a ser bicado?
Qual será a canção do acompanhamento?
Será num pio só o destino como por lampejo
Ou a manivela esticará a corda feito realejo?
Casciano Lopes
Eu e o meu tanto
Tanto tudo!
Que tudo dói,
E que tanto!
E que tudo!
Tudo tanto dói.
O meu tudo,
E o meu tanto...
Flui.
Casciano Lopes
Rota de fuga
Os atalhos podem ser perigosos
O que não os torna menos interessantes
Essa estrada só tem de certo o que ninguem quer pra si
No entanto,
Quantas vezes nos escondemos nos becos
À espera de uma nave que nos faça transpor
Tanto estrada quanto atalhos
Tanto o certo quanto o duvidoso
Tanto a vida quanto a sentença.
Casciano Lopes
O que não os torna menos interessantes
Essa estrada só tem de certo o que ninguem quer pra si
No entanto,
Quantas vezes nos escondemos nos becos
À espera de uma nave que nos faça transpor
Tanto estrada quanto atalhos
Tanto o certo quanto o duvidoso
Tanto a vida quanto a sentença.
Casciano Lopes
Ledo emprestar
De tanto emprestar-se, corre-se o risco de perder-se
A calma pode ser duradoura
O que não equivale a eterna
Assim como tudo finda quando se cansa da espera.
Casciano Lopes
A calma pode ser duradoura
O que não equivale a eterna
Assim como tudo finda quando se cansa da espera.
Casciano Lopes
Botão de vida
Assim como as estações, a vida é cíclica
É necessário que o chão se esparrame em folhas
E que o botão de rosa caia
Para que adiante a beleza de outros
Nos calem a contemplação
Nos embebedem com seus perfumes
E a vida segue... num eterno girar da roda,
As estações.
Casciano Lopes
É necessário que o chão se esparrame em folhas
E que o botão de rosa caia
Para que adiante a beleza de outros
Nos calem a contemplação
Nos embebedem com seus perfumes
E a vida segue... num eterno girar da roda,
As estações.
Casciano Lopes
Em tecido xadrez
Quando vi minha mãe lavar pela primeira vez minha camisa xadrez
Tamanho pp de costura caseira e cor de festa,
Olhei ferver, depois quarar e estender na cerca farpada
Esperei secar e a vi passar no ferro de brasas...
Entendi para toda a vida que era um privilegiado,
Pela mãe, pela grama que quarou, pela cerca que secou,
Pela brasa que primeiro ferveu e depois passou
E pela camisa fazendeira que ainda hoje veste meu peito de orgulho
E protege minhas costas de esquecer o passado.
Casciano Lopes
Tamanho pp de costura caseira e cor de festa,
Olhei ferver, depois quarar e estender na cerca farpada
Esperei secar e a vi passar no ferro de brasas...
Entendi para toda a vida que era um privilegiado,
Pela mãe, pela grama que quarou, pela cerca que secou,
Pela brasa que primeiro ferveu e depois passou
E pela camisa fazendeira que ainda hoje veste meu peito de orgulho
E protege minhas costas de esquecer o passado.
Casciano Lopes
Nas oitavas de uma saudade
Aquele cafezal... Ah, aquele cafezal!
Os carreadores não saem jamais da lembrança,
Com sua gente no derrice,
E seus cigarros de palha atrás das orelhas.
Não me abandona a saudade da mulherada das peneiras,
Com suas cantigas oitavadas,
Não foge a delicadeza das moringas,
Descansando frias embaixo dos pés carregados.
Não desaparece no túnel do tempo,
O ronco dos tratores e nem o trotar dos cavalos,
Ah, os picuás e embornais de um cru tão interiorano,
Que tinha o poder de dar gosto de costela na polenta.
Posso sentir o cheiro de capim tenro,
Da terra fofa e de toda aquela minha gente,
Que ainda vive na memória,
Embora tantos tenham se apressado na partida.
Digo assim para a saudade:
Que ainda vive aqui um Paraná
E sei,
Que vive lá um menino do interior.
Casciano Lopes
Os carreadores não saem jamais da lembrança,
Com sua gente no derrice,
E seus cigarros de palha atrás das orelhas.
Não me abandona a saudade da mulherada das peneiras,
Com suas cantigas oitavadas,
Não foge a delicadeza das moringas,
Descansando frias embaixo dos pés carregados.
Não desaparece no túnel do tempo,
O ronco dos tratores e nem o trotar dos cavalos,
Ah, os picuás e embornais de um cru tão interiorano,
Que tinha o poder de dar gosto de costela na polenta.
Posso sentir o cheiro de capim tenro,
Da terra fofa e de toda aquela minha gente,
Que ainda vive na memória,
Embora tantos tenham se apressado na partida.
Digo assim para a saudade:
Que ainda vive aqui um Paraná
E sei,
Que vive lá um menino do interior.
Casciano Lopes
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