Trocando cartas com os varais

A linha que costurou meu pano provocou a resistência do tecido, tentei falar disso com a analista e ela não conseguiu entender a trama, talvez porque não viu.

Eu mesmo, quando estendo no varal minhas costuras com suas formas e furos de agulha, fico assistindo o vento a soprá-las e quase ouço, como se fossem cartas lidas, frase por frase, alinhavadas letras que compuseram ora bordados, ora remendos.

O fato, é que quando recolho as secas falas da vida, submeto-as ao ferro quente, à brasa da ação de desfazer as dobras, como se pudesse ajeitar os acontecidos e as visto nos domingos de passeio, para suar a minha alegria misturada com a fantasia tecida, a roupagem embrutecida.

Casciano Lopes