24.6.24

Recalculando a rota

A meta, quando pequeno, era não cair, não chegar com a comida fria na roça pro almoço do pai, proteger o irmão pequeno dos perigos da fazenda e não derrubar o leite que ia buscar na mangueira de manhã...
Fui crescendo e a meta era fugir das notas baixas na escola, escapar dos meninos maldosos e caprichar no asseio dos poucos pertences...
Continuei ganhando anos e a meta passou a ser o primeiro emprego, ajudar na feira, olhar os irmãos e deixar minha mãe orgulhosa...
Já jovem, queria estudar, quis viajar, as metas se ocuparam do futuro e precisaram, em nome da inteligência, brigar com padrões instituídos.
Cresci e o amor desperto me fez capaz de ser quem eu era e não o que me diziam que eu devia ser. Quis ser honesto com minhas vocações e fiel aos meus ideais, a meta era me sustentar e adquirir, como todos, o mundo...
As metas foram, aos poucos, se tornando rotas alteradas.
Quis envelhecer com dignidade. A certa altura da tal 'maturidade', a meta era apenas ser de verdade. Rompi com as normas e construí a minha cartilha. Quis manter a aventura como uma ferramenta de vida e elaborar, cada dia mais, formas de entender o avanço do tempo como meu maior patrimônio. Quis juntar nele, o tempo, uma boa história.
Tudo passa... Pessoas, dores, medos, frustrações, decepções; alegrias também passam. Passam as metas e, com elas, eu no tempo; o tempo que permite minha viagem e que parece estar debruçado na janela me vendo querer e querendo dele, o Tempo, apenas a nota de aprovação na escola das idades, nas disciplinas que exigem coerência entre quem sou e quem penso ser, de onde vim e pra onde vou, sujando o mínimo possível o chão que me levará às respostas ao final de tudo.
Quando tudo finda... Finda?
Hoje, na minha história, é interessante observar que as metas são muito parecidas com as do menino: cuidar pra não cair, continuar enxergando e andar, e assim, sendo produtivo, esticar um tantinho mais a caminhada com os pés colocados no que acredito e dispostos sempre a defender meu destino com os olhos de quem comprou a passagem ainda menino.

Casciano Lopes

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