5.6.22

Menino feito de Neruda

Querido diário, sei que os dias vão tingir suas páginas de um amarelo que só os velhos conhecem, aliás, foram eles que me contaram sobre a ação dessa cor.
Também sei, sobre aprender novas letras que me farão esquecer das cantigas que aprendi com Mariazinha no quintal de casa, onde brincam os pintinhos amarelinhos; inclusive eles crescem e perdem essa cor... Acho que o amarelo tem mesmo algo de perverso...
Diário meu, quero pedir que se possível, mantenha a cor original das linhas em que falo da ponte no fim da rua de casa, pois ela me permite brincar no mundo do outro lado e quando canso, posso voltar e dormir em casa ouvindo a cantoria de minha mãe na cozinha.
Não sei se posso, mas acho que devo proibir o amarelo nessa linha. Assim, quando eu crescer e chover cores pesadas sobre o tempo de escrever, quero voltar pela ponte e ler claramente as letras que escrevi nessas linhas brancas.
Assim, de calças curtas e meias, numa mesa pequena, firmo o compromisso de voltar aqui toda vez que quiser crescer demais... E não estou brincando, viu? Você tem linhas e eu tenho o lápis...
Combinado e assinado; o menino colorido, sem amarelo.

Casciano Lopes




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