10.1.12

Dias intensos

Dias intensos, independem de condições meteorológicas, dependem puramente de sentimentos intensos.
Há verão na minha vida, de sol escaldante, como há dias, de inverno causticante nos ossos da alma.
Há dias, em que penso a vida como quem mastiga um rolo de fumo, que divago no tempo, como quem tempo não tem para arrependimentos.
Nunca me senti tão só, como hoje me sinto. A temperatura fugiu dos termômetros e a vista divaga perdida por sobre os ombros, buscando só uma visão, mesmo que miragem, de um perdido qualquer que faça companhia ao órfão colo.
A falsa liberdade a mim imposta, aposta no cárcere de meus pés e na branquidão de meus cabelos torpes, delira minha pele e as cores enegrecem dentro de um navio submerso no oceano de meu peito, os dedos já embrutecidos encostam só a porta solitária de uma brecha perdida dos caminhos sem volta, olhos parados tentam empurrar meus submarinos pelo que acreditam.
Quanto frio nos nervos de minha terra! Quanta composição esquecida e quanta letra não desenhada! Quanta lentidão em meus sistemas! Quantas amoras guardadas no celeiro da colheita passada!
Sinto a calma ralentando e a música mais que triste sussurrando aos ouvidos seu enfado. Conta fados e canta seus portugueses lamentos, tendo meu chão como palco, meu quinhão rachado e encoberto por daninhas famintas, que me lascam os calcanhares.
Intenso como tenso meu inverno, descoberta a coragem fracassada e desafia a alma não mais ensolarada a dar mais um suspiro afinado, a cobrir de verde um jardim tão desmatado e a plantar nas covas a semente do verão passado.
Que me ajudem abutres, se me falharem os homens, no plantio e na colheita desse intenso...

Casciano Lopes

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