11.1.12

Complexo ato

É como tango latejando em meus compassos
Me fazendo imaginar o indizível da dança...
Aquela elegância gesticulada
Os corpos geminados
Sem se quer ter ensaiado um passo
Sem ter pousado em Buenos Aires
E de Gardel apenas canções ouvidas
Em vitrolas distantes.
É o espetáculo encenado em teatros jamais vistos
Tablados montados em salas da ficção
O espaço cultural da arte imaginária
De um cérebro desprovido de ócio
Toque melodioso, com dedos e sem piano
O vago, o misterioso.
É a imagem que se forma, que se vai
Aquela que acorda e desperta
O ser em movimento repousado
Transloca e desloca o órgão
Levado de toque em toque
Sensação fria de ardor fugaz
Temor que cai, corta e sai.
Viagem por castelos e Europa
Medievais, bosques, expressão de séculos
Em gemidos de arquitetura
Talhada, pintada de ilusão
Realidade difusa, confusa, lambuza as mãos
Molha, salga e adocica, amarga o êxtase
A solidão...
Visível na pele rachada
Tachada de eu
Conjugada na primeira pessoa do tempo rasgado
Do complexo comigo.


Casciano Lopes

Um comentário:

  1. Esse poema me faz lembra de uma cena em minha fase de fumante. Era noite passava das duas horas, estudava as "cartas". O cigarro no cinzeiro abarrotado de pontas grafados com a letra "M" (minister). a fumaça subindo lentamente se dividia como se fosse corpos numa dança sensual e numa entrega total ate que sumiam no ar.... parabens pela poesia, linda!

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