É como tango latejando em meus compassos
Me fazendo imaginar o indizível da dança...
Aquela elegância gesticulada
Os corpos geminados
Sem se quer ter ensaiado um passo
Sem ter pousado em Buenos Aires
E de Gardel apenas canções ouvidas
Em vitrolas distantes.
É o espetáculo encenado em teatros jamais vistos
Tablados montados em salas da ficção
O espaço cultural da arte imaginária
De um cérebro desprovido de ócio
Toque melodioso, com dedos e sem piano
O vago, o misterioso.
É a imagem que se forma, que se vai
Aquela que acorda e desperta
O ser em movimento repousado
Transloca e desloca o órgão
Levado de toque em toque
Sensação fria de ardor fugaz
Temor que cai, corta e sai.
Viagem por castelos e Europa
Medievais, bosques, expressão de séculos
Em gemidos de arquitetura
Talhada, pintada de ilusão
Realidade difusa, confusa, lambuza as mãos
Molha, salga e adocica, amarga o êxtase
A solidão...
Visível na pele rachada
Tachada de eu
Conjugada na primeira pessoa do tempo rasgado
Do complexo comigo.
Casciano Lopes
Esse poema me faz lembra de uma cena em minha fase de fumante. Era noite passava das duas horas, estudava as "cartas". O cigarro no cinzeiro abarrotado de pontas grafados com a letra "M" (minister). a fumaça subindo lentamente se dividia como se fosse corpos numa dança sensual e numa entrega total ate que sumiam no ar.... parabens pela poesia, linda!
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