Vi homens sujos de lama
Contrariando as mães que ensinaram que não se sujassem
Vi outros atracando-se
Contrariando a lei de que não se agride os semelhantes
Vi pessoas entrincheiradas
Contrariando o lema de que o que é bonito é para se mostrar
Vi gatos e cães com sede
Contrariando as nascentes que existiam para saciedade
Vi gente virada soldado
Contrariando as vestimentas que uma avó de óculos costurou
Vi mãos sujas de pólvora
Contrariando as fogueiras de festas juninas... julhinas...
Vi lábios mordidos de medo
Contrariando cantigas de ninar esquecidas de tão belas
Vi olhos miscigenados tristes
Contrariando a vista de uma família dominical à mesa
Vi uns cabelos embaraçados
Contrariando o toque de uma mão carinhosa e meiga
Vi umas barbas crescidas em nós
Contrariando a aparência de uma certidão de natalidade
Vi uns corpos estendidos
Contrariando o dito de que não se pode dormir aos montes
Vi umas armas cuspindo sangue
Contrariando os quebra-cabeças e miniaturas da infância
Vi gente que andava matando
Contrariando os soldadinhos de chumbo da minha estante...
Não vi um amiguinho da escola... Será que foi pesadelo?
Casciano Lopes