8.7.10

Óbito

A alma se trancou em algo que não é corpo
Fugiu de coisas como coração, sentimentos
Do que lembrar
Morreu sem pompa, sem canção triste
Sem público, sem direito a honrarias
Sem sepultamento.
A mãe já pergunta o que se passa
Com um corpo entalhado de perguntas
Ensimesmado e mudo
Moribundo e sem respostas
Sem batimentos e olhos sem motivos.
Chora a noite sem abrigo
Procura o corpo para repousar seu frio
Encontra gelado o virtual vivente
Portas cerradas, expiro sem névoa
O friorento ser da alma sequestrada
Roubada, perdida em noites passadas
De repente
Sugada por espíritos famintos.
A morte é algo que acontece
Antes da falência de órgãos
O corpo é só o detalhe, o pretexto
É só carro, sem condutor se acaba
É substituído
A alma conduz
Não se repõe quando se subtrai
Não se revive quando se mata.
É necessário o óbito
Sem causa morte
Com causa
Óbito para falência do sublime
Primordial órgão de combustão
A alma.

Casciano Lopes

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