24.11.11

Na peneira

Carreadores...
Assim chamavam aquelas retas imensas
Todas paralelas que a certo ponto
Se acidentavam em curvas acentuadas.
Ainda me lembro daquele mundo de chapéus
Todos de palha como de palha eram os cigarrinhos
Colocados delicadamente atrás das orelhas.
Homens de remendos e mulheres de calças
Sobrevestida de vestidos e todos de mangas longas
Fiscalizados pelo do bigode e seu cavalo.
A beira dos caminhos via-se aos montes
Picuas que guardavam garrafas d'água ou garapa
Embornais de algodão crú com suas marmitas
Cozidas, esquentadas ou requentadas
As quatro da madrugada em fogões à lenha.
Por todo o dia os rastelos alvoroçados produziam
Limpavam as sementes folheadas que caíam.


- Sabiam que a semente cai
Para dar trabalho ao que rastela de sol a sol?
- Que as folhas se precipitam
Pois a mulher precisa cantar
Eu tava na peneira, eu tava peneirando
Enquanto abana o fruto e sua folha?


É assim...
Um chacoalha o pé aqui
Outro rastela ali
Uma abana sua cantiga acolá
Enquanto adiante uma comadre
Com seu torrador no terreiro
Em brasas torra seu café
Para na lata florida guardar
E depois moer no moinho de varanda.


Fim de tarde na fazenda
Saco de coador, bule esmaltado
Os compadres em dedos de prosa
Seguram suas canecas de ágata
Seus meninos pelo chão
Jogam felipes de prendas
E na cidade homens compõem...
Uma mesa e um violão
Asas de xícaras com pires
Cafézinho fumaçando
Uma história se passando
Traz o som do cafezal.


Casciano Lopes

Um comentário:

  1. Depois da leitura, por um momento, com os olhos cerrados, imaginei a cena: " Um banquinho, uma caneca de café, um cigarro no cinzeiro, um aroma de flores no ar, e um borburinho indecifravel de murmúrios como se todos falassem ao mesmo tempo. Eram varios seres maravilhosos, (acho que percebi a presença de Cora Coralina, João Pacífico, José Fortuna, entre outros), todos eles brincando na imaginação daquele poeta. Aí saiu ...

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