28.11.11

Amiga do pavio

A lamparina embebida mirava a mesa perneta
A cadeira sem tinta de madeira alva bem feita
A janela sem batente estendida numa parede sem cor
E a cozinha com seu chão de vermelhão queimado
De seu posto enxergava o banheiro de criar pererecas
O pote de barro de água de poço com sua caneca de alumínio
De um amassado que mais parecia ter servido o exército
Um fogão à lenha rubro abastecido de madeira rasteira
Defumando o telhado enquanto ela, pequena colaborava.
Olhava atenta o brilho da bateria com suas vasilhas de guerra
Admirava o guarda-comidas franco e sem vergonha alguma
De desfilar sem portas suas merendas ralas e seus guardados
De domingos enriquecidos com os frangos garimpados do terreiro
Enquanto trabalhava como lançador de chamas a observadora
Não descuidava do vasilhame de guardar seu combustível
Protegido cuidadosamente em altura sobre o móvel
Toda temerosa de que se esquecessem de alimentá-la
Esperava ansiosa a próxima dose colocada delicadamente
Compartilhada, é claro, com o pavio de algodão trançado
Parceiro na arte de dar a luz feita de labaredas
Fazendo dela parceira do fogão na arte de construir picumãs.

Casciano Lopes

Um comentário:

  1. Esse poema nos remete a infancia, pé no chão, calça curta, cabelo bodinho, falta de luz eletrica. A lamparina, candeeiro para alguns, foi personagem muito importante e iluminou a vida e a morte de muita gente. Realmente fica a pergunta: "o objeto em questão é inanimado?"

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