21.8.13

Das escolhas

Escolhi o simples, o trivial, a visão mais holística do mundo e das coisas, o olhar mais atento às pequenas cenas, o carinho ampliado aos seres vivos, que a vida toda estiveram ao meu lado e que tantas vezes passaram despercebidos: os que voam, os que não falam, os que são verdes, enfim, os visíveis e os invisíveis, os que calam à espera de voz.

Escolhi viver mais plenamente o amor que tenho ao lado, a razão de tanto riso e de tanta paz na vida, juntos em mais uma passagem, em mais uma missão, almas gêmeas, mestre e discípulo se alternando. Escolhi a sorte rara.
Escolhi a poesia, como a fonte que mata a sede, minha estrada que guia, que faz da rua sem saída uma larga avenida, onde meu poema é palanque e onde as palavras que nascem, todo dia sufocam a agonia.
Escolhi há tempos e hoje compreendo: as luzes, cores e cheiros. Todo dia descubro que sou rico do que me cerca, os cheiros com suas personalidades marcantes, as luzes com suas certezas vibrantes e as cores com suas vontades impactantes. Todas essas escolhas hoje me definem.
Agora descobri que não precisava de tudo, de tanto, de mais... era demais! Passei a vida criando necessidades e gerando expectativas, quando na verdade, tudo o que necessitava já o possuía desde o primeiro momento, e hoje, só lamento a demora do descobrimento, mas como é dito: tudo a seu tempo.
Escolhi seguir outros caminhos, onde o que é voluntário tem mais de humanidade do que o que é exigido, cobrado, imposto, requerido. Nunca fui a favor das imposições e das contrapartidas, mas percebi tardiamente que muitas vezes cedi aos seus caprichos, não mais! Não quero e não vou tolerar o que não acredito, suportar o que me custa um sorriso hipócrita, aceitar o que me descompõe como homem de bem, permitir a frase: 'você me deve isso'. Não devo nada! Assim quero passar os anos futuros, sem dívidas, sem demagogia, tendo ao lado apenas o que impulsiona a evolução, procurando somente o que vibra o bem, porque o mal... não preciso procurar.
Escolhi a quietude, ela é mais conselheira. Descobri que muitos círculos eram em função do que se proporcionava dentro deles e que tantas vezes, o que mais importava era excluído da circunferência. Hoje eu não posso mais calar uma dor e nem omitir uma insatisfação, porque o que aceitei tantas vezes num silêncio franzino me corroeu dias inteiros e o corpo sempre pagará a conta por [aquilo que se aceita... mas não devia].
Entendi finalmente, que enquanto divertia aos outros minhas expressões engraçadas, ainda mais passageira se tornava minha alegria interna, porque o melhor e o pior de mim, sempre era suprimido.
A franqueza me obriga responder a pergunta:
- Nada será como antes?
- Não, não será.
Vivemos em sociedade, em círculos, seios familiares e outros, porém as escolhas são individuais, cada qual traça seu caminho, sua jornada, pautadas no que acredita.
Eu fiz a minha escolha: a essência do que é de verdade, o que não é passageiro e levo apenas o que necessito, nada além! Nada que me provoque cortes, ao menos sem minha permissão.

Casciano Lopes

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