27.1.24

Amanhã dependerá

No ano passado, ontem, na semana passada, ontem, no mês passado, ontem, passado...
Não posso viver lá e nem querer que aquele sol entre pela vidraça e perfure de luz a cadeira da mesa da sala, banhando de dourado a cena com as pessoas sentadas nela... cena.
O ouvido não pode se perder caçando as risadas soltas entre juras e promessas de 'para sempre'.
A boca não pode viver cantando aquela canção sob a pena de esquecer o que nem aprendeu das novas letras e os dedos desconhecidos da melodia não devem sofrer de câimbras por exaustão da busca de nota.
As pernas que precisam de destino e comandos e que não possuem olhos, precisam deles pra seguirem porque antigos palcos já perderam caminhos e com eles se foram... a bilheteria, o sapateado dos corredores, os aplausos.
As mãos precisam de disposição pra tocarem novos personagens, principalmente os que aguardam dentro do hoje, a oportunidade de serem aplaudidos; onde não morre o sol e onde a plateia independe de delírios pra brilhar, onde a verdade dispensa a garantia de sucesso porque entende que o que valerá no final, não serão apenas as salas cheias, será também o monólogo bem dito que ignorou a euforia e seus gritos...
Porque é fácil confundir a insanidade das palavras bêbadas com a coerência de um texto que a vida escreve em tempo real.

Casciano Lopes


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