23.1.24

Tudo na palma da mão

Uma sala, um escritório inteiro; TV, câmera fotográfica, filmadora, PC, impressora, álbuns, vitrola, calculadora, máquina de escrever, telefone, fax, cd, dvd, disquete, LP, bússola, telex, lanterna, gravador, calendário, rádio, agenda, relógio, guia de ruas, mapas, despertador, enciclopédia, caneta, papel, arquivo, livros, jornais, revistas, pastas, selos e carteiros no portão... Bancos e seus sistemas, empresas e reuniões... A lista seria imensa!
O mais perigoso e desastroso é o silenciamento sem cabimento, mas que também cabe na palma da mão... Num aparelho de poucos centímetros, encurta-se quilômetros e também deixa distante o abraço, cada vez mais distante o afago, o olhar, o cheiro, o beijo do encontro, o lenço emprestado num gesto delicado, o colo do acolhimento... A audição fica comprometida, a leitura fica tendenciosa e a escrita que toma o lugar da fala, tem pressa e vira especialista de conhecimento nenhum.
Na palma da mão, o equívoco graduado, a valorização da ignorância e a validação da intolerância.
O poder do cancelamento, do bloqueio, do grito em caixa alta, da razão unilateral colocada acima do bem comum, a surdez que adoece a língua, que esquece das palavras gentis porque não as usa e por não usá-las, morre lentamente em curtidas e compartilhamentos a missão da humanidade de conviver e de praticar afeto e respeito.
Tem tudo na palma da mão, menos o aperto de mãos.

Casciano Lopes

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