Eu comecei a escrever ainda bem pequeno, antes de ser alfabetizado.
Achava a cantoria na roupa suja que minha mãe surrava no batedor da lavadeira, admirava o caminho da fumaça dos cachimbos do meu avô e dos compadres e comadres lá de casa, acreditava nos dedos de prosas acontecidas no alpendre e vestia as personagens que passeavam pelo ouvido infante de um figurino que ainda guardo em meu camarim, comemorava o dia do benzimento e construía frases inteiras pro cochichado da benzedeira que empunhava seu ramo de arruda, como quem manuseasse com eficiência um bisturi, vigiava os passarinhos pra saber se eles acreditariam em novos amigos ao se verem refletidos nas águas do córrego que corria e dividia a nossa fazenda da do vizinho; córrego, aliás, que sabia lavar pedra com música pra gente dormir...
É, acho que eu já escrevia, a poesia me acometeu ainda pequeno e nunca mais sarei.
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