11.1.25

Filho do rio

Um rio passou lá em casa em 1970, banhou o quarto e me deixou em colchão de palha, passado no talco e enrolado como que para presente. Não fosse a chupeta que calava o choro, o cheiro do chá de erva doce que vinha do fogão de lenha tomaria conta não só do berço e da casa, mas do rio inteiro, que avisava a vizinhança, com suas águas doces, que a temporada dos chás ganhava um novato.
Sei que nascido, chorei nove meses... rios.
E de lá pra cá, rios me orientam quando rio, quando choro ou quando calo as águas, porque não gosto de chá. Sigo o curso como eles o fazem, sem discutir o leito ou suas quedas, não importa se em colchão duro ou de palha mole, importa muito mais saber do dia que ele me confiou... rio.

Casciano Lopes

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