29.6.11

Tempo magoado

A árvore deitada ao chão
Conta nos galhos secos então
Que viu passar outrora
Na vizinha estrada sem hora
Um bando de animais ferozes
E muito menos velozes
Filhotes sobreviviam
Distintos coexistiam.
Desprenderam-se do bando outros
Que por teimosia, destino ou loucos
Decoraram caixotes com suas peles
Madames, em ombros de lebres
Conta que viu trepar em seu galho
Saguis, preguiças, quatis em chocalho
Que o fruto nascia farto
E que tinha nos ramos parto
De aves calmas
De raras palmas
Faziam-se sombras
Descansavam pombas
Que seu chão era rico
Antes do dia do fico
E que o verde enluarado abundava
Em amarelo ensolarado tudo dava
Quando caia a tarde
Antes que caia árvore.


Casciano Lopes




11.6.11

Trans

Vi s t a
In t e l i g e n t e m e n t e
Tr a v e s t i d a
Ro u b a
Im a g i n a ç ã o
Na t u r a l m e n t e
El e g a n t e.

Casciano Lopes

10.6.11

Sempre recomeço

Finito
Dia
Finita
Noite
Infinita
Existência
Eterna
Imortalidade.

Casciano Lopes

Quebre se for preciso

Quando sentimos o desconforto
Na nuca
O destempero
Na veia
O susto
Na testa
O medo
Nas mãos
A febre
Nos pés
A angústia
Na pele
A ira
Nas meninas
Dos olhos e neles
A desesperança
Onde o gelo
Molha a alma fria
Onde a montanha
Esconde a nudez
E a mornidão dos dias
Já não aquece a fé...
É hora de transgressão,
Do que dizem ser certo
E do que se esconde das certezas.


Casciano Lopes

Anjo Alisson

O que disse a mãe?
O que disse a tal sociedade?
Quando um anjo
Novato na terra
Pisou descalço
Um chão frio
Em inverno cortante
Desprovido de lã
Encolheu os braços
E esticou o olhar
Buscando o calor,


Solitário frio
Pele angelical trêmula
De abandono vil
De uma roxidão
Que a mãe não viu
E que a tal sociedade...
Fez que não viu.


Casciano Lopes



3.6.11

Ser imortal

A dor mais intensa,
Mais cortante...
É a ausente,
A distante,
A imaterial,
Fere o que os olhos
Não contemplam
Nem tocam
Atinge o que está fora
Do tato
Da audição...
A pequenez do ser
A infame existência
E a lúdica condição de mortal
Faz imortal o sentimento
De dor.


Casciano Lopes

27.5.11

Translúcido

Fugindo da sombra...
Uma noite
Uma lua foge do homem
Que atravessa a rua
Que esconde um mapa
Traçando nua
Uma mulher esguia
Que se desliza
Por um nascente sol
Que fugindo do meio dia
Traz nublada uma nuvem
Que apressada fabrica
Trovões e relâmpagos
Que riscam céus
Dissipando a sombra
Fazendo dia da tarde fria
Molhando uma rua
Lua traz
Nua fica
Claridade na face
Do que sai da sombra.


Casciano Lopes

Esquina do Eu

A curva do ser
Dobra a esquina do existir
Contorce a lembrança
Vira a alma do avesso
Torce a fé de coisa alguma
Quebra o Eu
E muda o que já é mudo
Em sonoro pranto reto
Curvo só o soluço
Ralentando passado.


Casciano Lopes

24.5.11

Retrato de Sampa

Eee... Terra da garoa
Do chão de asfalto
Das raças e praças
Do ardor do trabalho
E da esperança passeante
Nas pontes andantes
De quem busca teu tempo.

Casciano Lopes

20.5.11

Densa idade

Tão intensamente intenso
Que penso que o intento tenso
Imerso e imenso
Mora num corpo denso.


Casciano Lopes

Lembranças

Nestes cabelos brancos
Escondo tão somente
O que os negros
Um dia esqueceram.


Casciano Lopes

28.1.11

Paisagem em chamas

Avista-se
Uma ponte
Velha, retorcida
Emborcada, despedaçada
Sem passagem e passageiro
Do outro lado brejeiro
Um casebre de uma cal
Envelhecida, enegrecida
Com seu tempo crú
Seu passado cozido nú
Por conjugação esquecida
Sua única porta sem chave
Sem Ave Maria
Como radiola sem clave
Chão de terra sem charme
O teto de palha seca
Furado, esturricado
Sabe contar dos moradores
Lembra-se dos trovadores
Dos domingos de galinhada
Do revoar da passarada
No terreiro de criação
Tomou conta o poeirão
Escondendo a cacimba
Que lembra do pato Simba
Conta os papos das comadres
Dos cachimbos e compadres
Ri das tapas dos guris
Das façanhas que viu ali
Lá pra banda do forno de barro
Outrora um pássaro João raro
Deixou escrito então...
A seca levou as Marias
Os Antonios e Josés
Enterrados sem lágrimas
Sem missas
Sem caixão
Já dormem nesse chão
Onde brota o mato
Parido da última água no Crato
Que veio depois da morte
Chegou depois da sorte
Matando de sede um monte
E emborcando a ponte.


Casciano Lopes

Dama Ana

Dama
De
Minha
Cama

Na
Lama
Na
Cana

Ama
De
Minha
Dama

Minha
Cama
De
Cana

Dama
Ana
Ama
Cana
Cama
Lama

Casciano Lopes

Isso basta

Que perca a água retida na massa do corpo
Que a mão firme só escreva ais
Que o solo se rompa embaixo das plantas
Que o verde não se reconheça na visão
Que o grito entale nas entranhas
Que os sentidos conheçam poucas cores
Que os painéis se empalideçam
Que emudeçam os cachorros
Que aos ventos se ensurdeçam os cabelos
Ainda assim
Uiva calado um sentimento de amor
Fala baixo
Mas sincopado
Mesmo em uma nota só
Não desafina
Diante do mundo maestro
Bate vivo um cansado
Só cansado
Cansado
Mas vivo
Isso basta.


Casciano Lopes

Lagoa seca

Quero atingir o magma
Ele está lá...
Embaixo da lagoa
Vem o peixe
Vem as algas
A areia
Vem a terra
Os lençóis d'água
E depois vem...
Vem mais
Vou além demais
Quero o magma
Seu calor
Seu borbulhar
Dissecando minhas carnes
Dilacerando minha poesia
Lá a lagoa seca!
Até lá...
Eu velho escavo
Para morrer escaldado
Mas poeta sempre
Sempre quente
Até que o calor me absorva
Morrendo na liga
De um borbulhante coração
Vem as letras
Debaixo do magma
Vem a vida poetisa.


Casciano Lopes

A fome e a vontade

Ai... Judia...
Mancha meu papel de pão
Com tua margarina
Deixa na minha lapela teu gosto
Mora cá no meu prato
Escasso de tempero apimentado
Molha só um tiquinho
Os pés ou os cabelos
Passeia nessa praia
Traça o rastro de teu cometa
Atrás de minhas estrelas
Banha minha terra
Com a chuva do teu céu
Visita minha roça ressequida
Faz brotar as espigas
Colha os grãos
Replante no meu centro tua colheita.
Sou de pasto
Se você é de pastagem.


Casciano Lopes

27.1.11

Tanto mundo

Aos do Brasil
Dos Estados Unidos
Do Canadá
Da Hungria
Do Japão
Do Reino Unido
Da Grécia
Dos Emirados Árabes Unidos
Da Bolívia
Do Chile
Da França
Da Itália
Da Espanha
De Portugal
De Belarus
Da Rússia
Da Argélia
Da Macedônia
Da Alemanha
Da Eslovênia
Da Estônia
Do México
Da Índia
Da Suíça
De Taiwan
Da Polônia
E de tantos mais países
Desconhecidos de meu mapa
Reconhecidos de meu afeto
A todos aqui globalizados
Um tanto de meu desejo
Mais um tanto de minha dor
Outro tanto de minha alegria
Da conhecida euforia
Desconhecida poesia
Agradeço tanto
Tanto o todos
Quanto o pouco
Que tanto tenho.


Casciano Lopes

18.1.11

O que dizem

Dizem que sou louco...
Porque...
Esqueci da infância
Perdi a adolescência


A porta errei
Da maturidade
Do que dizem
Legalidade


Bebi o que não devia
Comi o que ninguém queria
Dormi o que não dormia
Fugi do que não sumia


Fiz o que não sabia
Perdi o que não existia
Esperei o que não via
Por fim não construía


Sou louco
Hoje sou louco
Amanhã
A loucura decidirá
Só amanhã
Porque depois de amanhã
Dirão do insano
Insanidades mais
Desconhecidas
De minha neurose.


Casciano Lopes

Morte em vida

Parte um homem cabisbaixo
Repleto de lembrança
Incompleto de esperança
Entristecido
Embrutecido
Flácido no desejo
Plácido no infortúnio.
Não fica nada...
A vontade acamada
Despede-se desesperada
Da alma cansada.


Casciano Lopes

17.1.11

Minutos dizentes

Os minutos se escondem dos ponteiros,
mas são descobertos num tiquetaquear assobiado
de um coração cheio de saudade
guardado também num coração
de quem sabe a importância daquilo que a ninguém mais importa...
a verdadeira amizade e o segredo
que guardam os olhares apaixonados
pelas palavras de quem sabe dizê-las.

Casciano Lopes

Que... Que... Que...

Que tua graça permaneça viva
como a que balança na cadeira que fica...
Que tua fé esteja nos montes onde os olhos carnais não enxergam...
Que a lágrima corra num riacho distante de ti...
Que a febre só aqueça o que está congelado pelo sistema...
Que a rua tenha tanto preto quanto precisar
e tanto branco quanto precise lembrar...
Que a mata possa morar pertinho com seus tons de sóis...
Que a lua traga mais que São Jorge e um cavalo...
Que a cama seja larga quanto tua esperança
e que nas plantas de teus pés possam crescer asas além das raízes.


Casciano Lopes

Saudade de Lele

Hoje, quando voltei para casa,
encontrei uma grama triste
em um canteiro central de uma rua próxima,
enquanto caminhava o caminho que se estendia...
Pensava o que poderia entristecer
de um verde turvado uma grama outrora orvalhada,
conclui que como eu deveria estar sentindo saudade
de uma notável que mora distante.
Ahhhh como me faz falta você
e sua inocência lúdica diante das tempestades...
Quase criança...
Quase Diva pop...
Quase celestial...
Você e os momentos numa grama qualquer.
Saudade do tamanho necessário
para fazer pequeno um peito
e grande um coração para caber nele.


Casciano Lopes

Vivo sonho

O sonho só é importante porque faz possível:
Compor o surdo
Solfejar o mudo
Cantarolar o enfermo
Assobiar o desencantado
E encantar-se o cego.
É igualmente importante
Porque faz crer na mentira e mentir na descrença
Faz sorrir quando é de lágrima o pranto
E prantear quando é de sorriso nossa volta.
Importante se faz sonhar
Quando é de saudade o muro de nossa Berlim
Quando é de amanteigado o coração
E quando os olhos insistem em dizer pra alma
Que é de sonho que se faz nosso jantar.
Isso faz com que o café da manhã do dia vindouro
Seja compartilhado com a importância de estar vivo só...
Somente só... para poder sonhar.

Casciano Lopes

14.1.11

Couro de batuque

No batuque do teu surdo
Emudeci minha garganta
Esganiçada agora calada
Porque a marcação de teu tempo
Cala a banda, a praça.
A graça vem batida
Fazendo sentir tremer
Os tímpanos da alma
Como se ao lado dos abalos estivesse.
Quando passa amarrado a cintura
O teu couro de bater
Nas mãos a marreta do instrumento
Fico surdo e das cavidades de meu rosto
Brotam "ais" e "uis".
Sopros se agonizam
Arremessando-me ao teu chão
Para ouvir de perto teu eco
Teu bate-bate sacolejado
Respingando meus couros.


Casciano Lopes

13.1.11

Impasse

Lá fora vai um mundo
Frio
Vazio
Esguio
Cá dentro um homem
De robusta vontade
Augusta saudade
Assusta a coragem.

Casciano Lopes

12.1.11

Grande pequeno demais

Não tive tempo
De brincar pelas praças
Não tinha cidade
Não tinha a ruela da vila
De "adolescer" na idade
Não tinha os amigos
Não tinha inocência a perder.
Não tive tempo
De formar uma concepção
Uma idéia construída
Um ideal estudado
Um futuro programado.
Apenas descobri-me
Vivo
Num tempo além
Num mundo adiante
Num homem pronto
Numa vontade de perguntar
Como?


Casciano Lopes

22.11.10

Vivendo perguntando

Porque a vida tão dividida
Descompassa toda minha perseverança?
Porque me morde a orelha
A angústia do existir parado?
Do quase não saber o rumo...
Porque chora o canteiro do saber?
Quero só que mude tudo de lugar
Sem que mude a crença no imutável
Quero da vida só as capacidades
De resto...
Me empresto ao serviço.


Casciano Lopes

15.11.10

Em prova

Hoje vi nascer um novo dia
Cheio de multicoloridos fios
Repleto de cheiros e formas
Com nuances e novos tons
Uma vida em prova
Um salão a espera
De um novo que se forma
Aos quarenta mudando
Formando para crescer
Aproveitando a chance
De fazer tudo diferente.


Casciano Lopes

5.11.10

Trajada

Dama de linho
Da linha tinta
Do tinto fino

Dama que tece
De prece tecido
De tese mescla

Dama
Da calmaria
Da euforia
Das sensações
Das estações
Do dia enluarado
Da noite ensolarada
Que por um triz
Bis
Por outro triz
Feliz

A poesia tem a dama bela
Que feito costureira zela
Poda a roseira
E sentada à sombra fria
Floresce a dama na poesia.


Casciano Lopes 

17.10.10

Pergunta ao mundo

Quem é essa pressa
Que atinge os dias?
Quem é a febre
Que deixa acamado os seus meninos?
De que é feita a carne
Que nasce feroz dos mesmos úteros calmos gerados as madres?
Quem é a cor marginalizada
Que bate e apanha para sobreviver?
O que corre nas linhas imaginárias
Que dividem os países que alguém imaginou?
Quem é essa guerra santa
Que trucida um olhar refugiado indefeso?
Quem manda que o pão nasça crescido além do rio
E que a massa seja diminuída sem qualquer fermento do lado contrário?
Na contramão de que sonho?
Que medo é esse
Que dorme e acorda falante aos nervos do que já não repousa?
Quem é essa dor
Que conduz os poemas dos poucos leitores?
O que manda
Que façam apaixonadamente o mal os que se elegem pelo bem?
Por que vivem calados os calvos e grisalhos nos balanços das varandas?
O que se perdeu na construção?
Será que foi nas reformas?
Nas demolições?
Quem é esse dia que me aflige?
- Socorro...
Gritou um aspirante a cidadão
Agora um expirante... expirou.


Casciano Lopes

Quando ele chega

Ontem... Quando a noite passou
Deixou na minha janela um frescor
Aroma desconhecido do olfato
Sabido apenas por meus pensamentos secretos
Por meu desejo escondido
Veio fagueiro no peito um bate-bate calado
Um inquieto pulsar
Na mente um cheiro deitado
Acomodado na vontade de tudo mudar
Veio de mansinho feito anjo
De voz doce acoplando aos ouvidos
A curiosidade das verdades
Da pele tocar, de lábios encontrar
De olhos ficarem juntos
Contando e cantando seus mistérios
Veio musicando minhas letras
Bailando meus salões
Restituindo minhas obras
Veio todo poeta como poesia
Escrevendo como há muito não se via
Dilacerando e levando pra longe
A dor que tanto doía
O coração já largado
Ditou as receitas da graça
Todo iluminado deixou o corpo guardado
Já se vai a saudade
Pintando de claro as horas
Tornando-se em alegria
Chegando em vôo a carta
Do pássaro em tom raro
Quase extinto
Quão doce
A voz cara do amor
Teu gosto em ninho
Tua colméia em flor.


Casciano Lopes

Persona Conquista

A conquista é aquela pessoa
Que quando chega muda tudo de lugar
Arranca a peneira da visão
Modifica o inverno
Aquece as estações
Patina a mobília
Deixa arte nos portões
Candelabros seculares
Peça mais cara da exposição
Composição de um hino
Bandeira do telhado
Que faz do dia
Um eterno memorável.


Casciano Lopes

Que se componha

Que mude a casa de lugar
Mas que o cruzeiro aponte sempre a direção
Que vire homem a mulher
Mas que permaneça a liberdade do amor
Que soprem as brasas do fogão
Para que se mantenha o calor do semelhante
Que a reza esquente os desprovidos de fé
E que o mantimento reparta o riso
Que a vida venha como foi feita
Simples e espontânea
Que nasça das mãos como veio de Deus
Com perfume de anjo, com travessuras
Que os dias tenham o descanso necessário
Que venham estrelas nos travesseiros da noite
Que nas manhãs brote firme um coração
Apaixonado pela vida
Que por tão simples...
Tão preciosa ressurge.


Casciano Lopes

Face dele

E todo meu orgulho no teu corpo se perdeu
Toda minha raiva em teus cabelos se escondeu
Busquei e não encontrei... Perdi as sobras do meu eu
Farelos eu juntei, não deu receita e doeu
Quem sou já me esqueci, perdi a fé e virei ateu
Sorriso se desfez, mudou a face, sentimento ensurdeceu
As pernas ralentaram, o cabelo embranqueceu
Joguei... Perdi aposta e a lembrança feneceu
Eu
Eu
Passado que não cura
Já morreu.


Casciano Lopes

14.10.10

Mais um dia

Amanheceu ensolarado
Estendido no sol ainda frio
Numa cama largada ao espaço
Abandonado às correntes de ar
Matinais... o frio, o café e o homem
Adormecido querendo acordar
Levantar enquanto esquenta
O tempo, as idéias e o motor de sonhar.


Casciano Lopes

11.10.10

Santana de Parnaíba



Tuas ruas e casinhas
Coloridas como em guache
Céu azul e praças
Em cores não há quem ache

Coreto e artesanatos
Pintando o sonho da gente
Bandinhas e a matriz
Rezando o tempo corrente

O Bartolomeu e teus bares
Teus tapetes e museu
Drama da Paixão, teu teatro
De um Cristo que não morreu

Os bonecos gigantes alegres
Teu carnaval de rua brincante
Corre por caminhos de Tietê
Não leva teu natal cantante

Coloridos em movimento
Tua gente guardada em mosaico
De história toda embalada
De passado sem ser arcaico

Vão-se os anos de teus mapas
Permanece calma a beleza
Que se avista lá da ponte
Dos alpendres da realeza

Dos telhados avermelhados
Avista-se tua planta
Uma Sant'Ana de Parnaíba
Feita com coração de Santa.

Casciano Lopes

6.10.10

Um quarentão


Passaram-se os anos...
Ficaram adolescentes...
Os anos
Jovens
Adultos
Maduros
Os anos...
Enquanto crescia
Não via
Não podia
Enquanto crescia
Os anos...
Eu já amadurecia
Rápido demais
Aos quarenta hoje
Tento ser a criança
Que não podia
O adolescente
Que sempre fugia
O jovem
Que inerte dormia
Lutando
Para que aos cinquenta
Me lembre dos quarenta e poucos
Com delicada memória
De um tempo sem fugas
Sem rabiscos com riscos
De arriscados telhados
Atiro-me hoje
Amanhã nadarei
Nada sei
Ainda saberei
Que saibam todos
Nasci ontem
Aos quarenta
Se morro...
Não sei.


Casciano Lopes