4.9.10

Arte em vôo



Quando as agruras entalham seus rastros na pele
Deixam escrito nas pupilas banhadas uma carta
Todo viajante à distância consegue interpretá-la
Em pleno vôo as andorinhas melodiam suas cifras
A arte está até mesmo na dolorosa carta de entalhes
Pois nem sempre são alegres as canções
No entanto, tem seu valor
Os poemas mesmo que tristes em seus lamentos
Tem seu público
Feliz da madeira que se submete ao capricho do artista
Que quanto mais geme e chora
Mais beleza cria nas mãos do algoz
Feliz do ponteiro que fere
Sendo ponte entre criador e criatura
O valor da obra está na delicadeza da dor
Não em sua profundidade
O silêncio da vítima é sem preço
Pois é quebrado apenas pelos viajantes
Se o entalhe grita...
Desaparece a melodia e a andorinha.


Casciano Lopes

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