30.3.23

O menino dentro

Partiu naquela noite o menino. Juntou todas as suas moedas guardadas para comprar passagem do trem sonhado; sim, não era só o destino que interessava, aliás, a locomotiva importava tanto quanto a pracinha que circulava a estação da pequena cidade do interior carimbada no bilhete de viagem.
Colocou sua melhor roupa; calça curta, talvez encurtada pelo tempo ou então, pelo suspensório verde comprado com as economias do avô... Enfim, juntou sua malinha de fibra e disparou pela rua de terra, depois que acorrentou sua bicicletinha no porão.
Chegou na estação de embarque duas horas antes do combinado e de olhos postos em trilhos contava minutos.
Chegou sua hora, entrou e sentou confortavelmente no seu almejado sacolejo e por mais que tentasse arregalar olhos, foi vencido pelo ninar do som quente do ferro em via de acesso ao sonho.
Cochilou...
Cochilou...
Cochilou...
Dormiu, até que acordou.
Não era menino.
Levantou e passou um café.

Casciano Lopes


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