Eu chorei,
Porque nasci livre do ventre enquanto tantos não.
Pelos não nascidos, frágeis e desnutridos.
Pelos órfãos deixados para trás do crime.
Pela fome itinerante dos retirantes.
Chorei,
Por ver um bicho na cidade revolvendo uma lixeira,
Me aproximei e como eu, o bicho era humano.
Porque um amor quis morrer ao meu lado.
Por um amigo que adoeceu distante de meus braços.
Chorei,
Por ver sofrer minha deusa, minha mãe.
Pelos leitos acamados os sem destinos planejados.
Pela morte de um ídolo, 'minha Cássia'.
Por um garoto de 17 anos que foi embora cedo demais.
Chorei,
Porque no meu bolso não tinha nada, enquanto
Numa mão miúda um pão bolorento enchia-lhe os olhos.
Porque uma paixão me iludiu e logo sumiu.
Porque um anjo acudiu meu pai quando este caiu.
Chorei,
Pois vi um pai cortado e revivido pelas mãos de santos.
Por ver uma menina amada se entregar ao acaso e sofrer
E depois ver a menina ser reconstruída e virar mulher.
Por ver nascer quatro botões em meu jardim, são meus.
Enfim,
Chorei, chorei, chorei...
Descobri que o choro aduba o sorriso vindouro.
Que para sempre é somente o que a vista enxerga.
Que é na lágrima que a humanidade guarda seu bem precioso.
Meus amigos, amores, bem querer e meu mundo de gente,
Precisam de meu choro, meu precioso, meu mundo melhor.
Casciano Lopes
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