9.2.12

De frente com o tempo

Nas ranhuras de meu tempo,
Esculpidas e bem marcadas
Na face que hoje trago viva,
Tenho todas as histórias...
As vivas, as mortas,
As convalescentes,
E as anestesiadas.
Tenho as lendas e os fatos,
As dívidas e os tributos,
A descrença tão perto do beato,
Ausência tão presa à existência.
Tenho nos sulcos dessas ranhuras
Todas as tempestades,
As intempéries do clima,
O desamor ínfimo dos homens,
A razão sócia da emoção.
Os olhos que emolduram a textura
Já são quase da cor dos cabelos,
E os grisalhos que destoam da mente
Já quase conseguem desbotar o tato.
E as ranhuras...
Essas continuam acumulando nos vincos
Uma certeza...
Desce-se aos vales quanto for necessário,
Há um momento em que a subida só é possível,
Se as raízes forem saudáveis,
Adubadas e bem fincadas nas mesmas ranhuras.


Casciano Lopes

Um comentário:

  1. Belo poema,Casciano. Uma das claves para senti-lo aparenta estar aqui:
    "Os olhos que emolduram a textura
    Já são quase da cor dos cabelos,
    E os grisalhos que destoam da mente
    Já quase conseguem desbotar o tato."

    Parabéns, não pare nunca de escrever.
    Forte abraço.

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