Da minha porta olhei o mundo...
As curvas delimitam em verde o que não posso transpor
Que por não poder enxergo em preto, cinza turvado
Tão pouco! Tão companhia... Quão difícil!
Tão verde a mata... Tão bege a solidão
Tão azul o céu... Tão negra a prisão
Fez-se asfalto do meu chão
Minhas letras, meu mundo de ilusão
Quando me perco, me acho na ventania
Preso num ninho de folia de sabiás e curiós
Quando sacolejo uma canção no peito
Sinto cá a correria de uma saudade passada
De uma dor tão enjaulada
Que os versos brotam como algemas
Os pés sonoros de correntes compõem música triste
Os joelhos se repelem
Juntam-se com mãos e encolhidos
Gemem aos ventos uivantes das montanhas esverdeadas
Que se apagam em cinzas nas minhas portas cerradas
Anuncia-se uma chuva...
Revive ao centro do peito uma tinta
Que começa a colorir meus tons pastéis
Espero a chuva...
Como aquarela para as minhas matas.
Casciano Lopes